div-ad-mid-single-65578d5dcc70c
Já se passaram quase oito anos desde o último jogo de Naruto produzido pelo estúdio CyberConnect2. Ultimate Ninja Storm 4 (e sua expansão) fecharam um ciclo de adaptações da obra com o final da própria história escrita e desenhada por Masashi Kishimoto.
Agora, chega ao mercado Naruto x Boruto Ultimate Ninja Storm Connections, o retorno menos inspirado da CyberConnect2 à franquia desde Generations (lançado ainda no PS3, em 2012). Sem novidades aparentes na gameplay, o jogo repete à risca o que já deu certo um dia, numa espécie de homenagem sem graça e desnecessária.
O triunfo e a ruína dos jogos de Naruto
Os games de Naruto produzidos pela CC2 foram responsáveis por fazer o mercado ter outros olhos para adaptações de animes em jogos de videogames. Só que tal revolução também foi se tornou um grande problema para a empresa.
Por conta do sucesso dos seus títulos, praticamente toda a indústria se inspirou no formato de gameplay criado por eles. Os jogos estilo arena battle tornaram-se obrigatórios dentro do gênero. A própria Bandai Namco produziu e distribuiu inúmeros títulos inspirados nos jogos da CC2, como Cavaleiros do Zodíaco, My Hero Academia, Jump Force e o ainda inédito Jujutsu Kaisen. Todos “imitam” o gameplay de Naruto.
Aquele “toque de gênio” da CyberConnect2 na hora de inovar e apresentar um novo jogo para o mercado, era o que deixava o público ansioso a cada lançamento deles. Mas não foi o que aconteceu dessa vez.
O mínimo do mínimo
A grande vantagem dos jogos da série Ultimate Ninja Storm era a possibilidade de reviver as batalhas épicas da história original, agora num jogo de videogame e com muitas liberdades criativas por parte do time de desenvolvimento, que é muito fã e gosta de exagerar nos poderes utilizados nas lutas.
Só que o Modo História em Naruto x Boruto Ultimate Ninja Storm Connections não traz novidade alguma. É tudo um grande refugo do que já foi feito no passado, agora dividido em oito episódios super resumidos que narram os principais acontecimentos da vida de Naruto em sua fase mirim e, depois, em Shippuden.
As custcenes são prints do anime clássico, e algumas dessas cenas são dubladas, às vezes, com mesmas as vozes do episódio em questão. Pelo menos as sequências em Quick Time Events continuam presentes e bem bonitas de assistir/jogar, mas infelizmente são poucas.
div-ad-mid-single-65578d5dcc6d3
Nova geração
A parte “Boruto” de Naruto x Boruto Ultimate Ninja Storm Connections é apresentada como uma história inédita, criada por Masashi Kishimoto exclusivamente para o game.
Boruto conta atualmente com algumas sagas já finalizadas, e já está numa nova fase intitulada Two Blue Vortex (o equivalente ao Shippuden do pai), mas nada disso está no jogo, apenas alguns dos personagens que fizeram parte da aventura no mangá (e anime). O grupo de androides ninja Kara, assim como os últimos membros do clã Ootsutsuki, estão entre os bonecos selecionáveis do jogo.
No modo História Extra temos um novo vilão querendo atiçar a guerra no mundo Ninja mais uma vez. Inspirado pelos ideais de Pain – provavelmente o melhor antagonista da série anterior –, o antagonista deseja colocar as principais nações para se enfrentarem novamente, mas isso é apenas parte do plano.
Toda a trama se inicia através de um jogo de videogame, Ninja Heroes. No mundo de Boruto existe toda uma tecnologia mais parecida com o mundo real, diferente da época do seu pai, que simulava uma espécie era dos ninjas mesmo. As crianças de Boruto jogam videogame, vão ao shopping center e acessam a internet dos seus smartphones, enquanto os cientistas utilizam a robótica para evoluir a civilização através do chakra, a energia “faz tudo” da franquia.
div-ad-mid-single-65578d5dcc6e3
A história básica do game é quase um isekai daqueles em que os personagens ficam presos num jogo. Ninja Heroes utiliza a realidade virtual para colocar o jogador na pele do seu avatar. E Boruto logo cria um personagem “inspirado” no seu pai, e assim, mais uma vez, mesmo que indiretamente, Naruto é o protagonista da aventura.
É uma desculpa tão esfarrapada para trazer o personagem de volta, que chega a ser engraçada. Boruto escolhe seu pai como avatar, Sarada se transforma em Sakura e Mitsuki, no seu pai, Orochimaru. O grupo mais bizarro que um jogo de Naruto poderia criar.
Mas, ao contrário do que tudo indicava, o modo História Extra não é um RPG de ação (como já aconteceu em jogos no passado), mas uma simulação dele. Toda a narrativa acontece de forma passiva, o que de certo modo é até um ponto positivo, já que as campanhas de RPG de ação dos jogos da série Naruto nunca foram elogiadas no passado.
Então, é praticamente a mesma coisa do Modo História: assistimos um monte de coisas e lutamos umas poucas vezes. A diferença é que, na História Extra, as cutscenes são feitas com o motor gráfico do jogo, e os personagens originais da trama foram desenhados pelo próprio mestre Kishimoto. Infelizmente tudo não passa de um episódio filler mais longo e pouco interessante.
div-ad-mid-single-65578d5dcc6ed
Mais de 130 personagens
Um dos grandes pontos de interesse num jogo de luta diz respeito ao elenco de lutadores que podem ser escolhidos. Connections apresenta mais de 130 lutadores, um número bem exagerado para qualquer game.
Isso seria incrível, se não fosse o fato de encontrarmos muitos personagens iguais, que mudam apenas o visual ou os jutsus que podem utilizar. O que não faz muito sentido também, já que o jogo deixa a gente escolher skin e golpes para quase todos os lutadores.
Claro, Naruto versão “Sage” é diferente do Naruto versão “Kurama” ou até a sua nova forma, “Baryon”. O problema é que, dos 10 Narutos que podem ser selecionados, menos da metade são realmente diferentes entre si. O mesmo vale para os 10 Sasuke do jogo, e os muitos Kakashi, Madara, Tobis e Obitos.
Sabemos que a CyberConnect2 faz isso desde sempre, mas é que agora ficou descarado demais, principalmente porque o título contabiliza o tempo de jogo para cada lutador numa lista de proficiência. Quanto mais usamos os personagens, mais eles sobem de nível – o que libera alguns colecionáveis para o game, mas não influencia na força de cada um.
div-ad-mid-single-65578d5dcc6f6
E no online?
Os testes do game contaram com um servidor quase vazio, mas as lutas seguem o mesmo padrão dos jogos anteriores. As conexões no formato “delay” prejudicam um pouco a experiência dos jogadores separados por distâncias muito grandes. É normal e não é o mais recomendado para um jogo de luta, mas também nunca houve o desejo de adaptação ao mundo do rollback netcode, que a comunidade dos jogos de luta vem testando atualmente.
UNS Connections também deixa o jogador personalizar os seus bonecos preferidos para entrarem no online da forma mais original possível. Dá para colocar máscaras, penduricalhos nas roupas, armas de enfeite, tudo muito parecido com o que é feito em Tekken 7. Para destravar os itens cosméticos, basta cumprir os pré-requisitos das lutas das campanhas do jogo, ou das batalhas livres (torneios, ligas e sobrevivência).
No final, Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections é uma vergonha para o resto da franquia. Quase como uma marmita gostosa (Ninja Storm 4) requentada para vender mais algumas cópias. Todas as novidades do game poderiam ser inseridas facilmente numa expansão para o último jogo, mas a gente sabe que isso nunca acontece. O importante é vender um jogo novo mesmo. Mas não dá para passar pano na bola fora que é esse jogo.
Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections está disponível para PlayStation 4 e 5, Nintendo Switch, Xbox Series X|S, Xbox One e PC.
div-ad-mid-single-65578d5dcc6fe