Representação máxima do “jovem nerd apaixonado” nas últimas décadas, Scott Pilgrim teve sua cota de aventuras nos quadrinhos, nos games e, claro, no cinema, com o icônico Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010). Se a adaptação com Michael Cera e Mary Elizabeth Winstead conquistou o coração dos fãs, a Netflix resolveu não mexer no time que está ganhando ao adaptar a obra para animação.
Scott Pilgrim: A Série não é um remake, menos ainda uma continuação, nem mesmo um reboot. Curiosamente, a palavra mais apropriada parece ser “remix”, o que casa com o liquidificador de referências que é o universo do personagem.
A premissa segue a mesma base do quadrinho, game e filme. Scott Pilgrim é um jovem músico que se apaixona pela bela Ramona Flowers. Só tem um pequeno problema: para namorar a garota dos sonhos, ele terá que enfrentar a super poderosa liga dos sete ex-namorados do mal da moça.
A familiaridade, no entanto, é quebrada já no primeiro episódio, quando o anime apresenta uma inusitada reviravolta que traz toda uma nova abordagem à jornada de Pilgrim pelo coração de Ramona.
Essa mudança traz não só um bem-vindo foco na garota de cabelo colorido, que praticamente assume o protagonismo em boa parte da série, mas também corrige a noção bastante duvidosa de Ramona como uma destruidora de corações.
Em vez de uma espécie de troféu que Scott precisa merecer por meio da porradaria, a personagem ganha uma nova profundidade ao deixar o “egoísmo” de lado para investigar o grande mistério que envolve a trama.
Para isso, também estão lá Scott e toda a galeria de personagens que adoramos, com direito ao retorno de boa parte do elenco do filme para os trabalhos de voz. Chris Evans, Brie Larson, Kieran Culkin, Aubrey Plaza, Brandon Routh, Anna Kendrick reprisam papéis como Lucas Lee, Envy Adams, Wallace b, Julie, Todd Ingram e mais.
O grupo dá alma ao humor afiado do roteiro, assinado pelo mesmo Bryan Lee O’Malley dos quadrinhos, agora sob o olhar mais adulto das duas décadas que se passaram desde a publicação do material original. O’Malley aproveita a oportunidade rara de revisitar a própria obra e ainda encontrar novidades a serem escavadas.
O companheirismo do time se reflete no carinho e esmero de todos para com o universo Scott Pilgrim, o que fica claro nas divertidas interações entre os atores, agora livres para aloprar, ainda mais, com as liberdades do mundo em animação.
Se as obras originais já misturavam elementos estéticos lúdicos de desenho animado, videogame e clipes musicais, a linguagem da série aproveita todos os exageros e maluquices que só seriam possíveis em um anime.
A cargo do estúdio japonês Science Saru, de Star Wars: Visions, Devilman Crybaby e Yo-Kai Watch: O Filme, o trabalho de animação mantém a fidelidade aos personagens do quadrinho, mas fazendo valer a liberdade dupla de apresentar um formato louco num universo mais louco ainda.
A criatividade aflora, por exemplo, nas cenas de batalha, que misturam, numa mesma sequência, referências às épicas pelejas de Dragon Ball Z, com games de porradaria de fliperama.
Scott Pilgrim: A Série funciona como um bom complemento às obras originais. Se, por um lado, isso é uma das maiores qualidades do desenho, por partir de algo que conhecemos para uma jornada completamente nova, a dependência da familiaridade com o material de base pode afugentar possíveis novos fãs.
Dentro do que se propõe, a série faz o dever de casa de situar o espectador na trama e no universo lúdico do personagem, mas mudanças e reviravoltas perdem parte do impacto justamente se você não souber como a história, em teoria, deveria se desenrolar.
Ainda assim, a Netflix acerta com uma divertida carta de amor aos fãs do nerdinho, equilibrada com uma excelente reinvenção das irresistíveis loucas aventuras do herói.
Scott Pilgrim: A Série está em streaming na Netflix. Siga de olho no NerdBunker para mais novidades sobre a vida, o universo e tudo mais. Aproveite e conheça todas as redes sociais da gente, entre em nosso grupo do Telegram e mais – acesse e confira.