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A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é ótima adição ao universo de Jogos Vorazes | Crítica

Qualquer franquia de sucesso em Hollywood sempre está sujeita a ter um revival, reboot, prelúdio ou sequência. E quem se une à lista é Jogos Vorazes, que ganha um prelúdio chamado A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes. Dirigido por Francis Lawrence, que comandou três dos quatro filmes originais, o longa é uma boa adição à saga ao contar uma história ainda mais agridoce do que a de Katniss Everdeen.

É bom esclarecer de início que a personagem de Jennifer Lawrence não dá as caras de nenhuma forma por aqui, já que estamos falando de uma história no passado, inspirada no livro de mesmo nome por Suzanne Collins. Em A Cantiga, acompanhamos o jovem Coriolanus Snow (Tom Blyth), que tenta fazer a família voltar aos tempos de glória. A oportunidade surge ao se tornar um Mentor dos Jogos Vorazes, responsável por orientar a tributo do Distrito 12, Lucy Gray Baird (Rachel Zegler).

Além de mostrar como era o jovem que se tornou o temido Presidente Snow, o longa retrata como eram as primeiras edições dos Jogos Vorazes. Longe do glamour mostrado na franquia principal, a competição aqui é mais rústica. Os tributos são colocados em gaiolas como animais e a Capital ainda não entendeu que torná-los queridos é uma forma de deixar os Jogos mais interessantes para os espectadores sádicos. Tal realização é algo que acontece aos poucos ao longo do novo filme. Em um paralelo curioso com o mundo atual, é perceptível como criar um espetáculo em cima da tragédia gera audiência.

Ao mesmo tempo em que acompanhamos isso, vemos os percalços de Snow, exatamente como são narrados no livro de Collins, publicado em 2020, em meio à pandemia de COVID-19. É um movimento ousado escolher expandir uma franquia de tanto sucesso justamente pela história de um dos maiores antagonistas, mas tanto livro quanto filme borram as linhas entre heróis e vilões, mostrando como os seres humanos, no geral, oscilam entre boas ações e momentos altamente questionáveis. No caso de Snow, há um acerto em não torná-lo herói em nenhum momento. Mesmo quando o coloca como protagonista, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes deixa claro que estamos diante de uma pessoa com índole controversa, capaz de tudo para alcançar seus objetivos.

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Neste sentido, Tom Blyth faz um excelente trabalho. Conhecido por produções menores como Benediction (2021) e A Idade Dourada (2022), o ator de 28 anos entrega com veracidade todos os momentos de Snow, desde quando sente o orgulho ferido ao ser lembrado do fracasso financeiro da família, até quando chega ao auge da confiança ao conquistar (quase) tudo o que queria no final da produção (não é spoiler dizer que ele vive, afinal, o personagem tem um futuro que os fãs conhecem bem).

Do outro lado, temos Lucy Gray Baird, uma tributo do Distrito 12 que tenta sobreviver em meio à um mundo cruel. Rachel Zegler também entrega boa atuação, em contraponto com a de Blyth: como vemos a história pelo ponto de vista dele, Lucy Gray é mostrada sempre como uma personagem enigmática, de quem sabemos pouco e podemos desconfiar a todo momento. Claro, grande parte disso é pelo olhar paranoico do jovem Snow, mas o filme acerta justamente ao passar tal sentimento de forma tão crível.

Imagem de de Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes
Peter Dinklage é destaque no elenco, mas não entrega nada surpreendente na atuação (Paris Filmes/Divulgação)

O elenco de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes tem mais nomes que merecem ser citados, ainda que nenhum brilhe como os dois protagonistas. Hunter Schafer tem pouco tempo de tela como Tigris, prima de Snow, mas entrega uma atuação interessante após anos em Euphoria. Peter Dinklage interpreta o reitor Casca Highbottom e não vai muito além de uma versão menos carismática de Tyrion Lannister, seu personagem em Game of Thrones. Dos coadjuvantes, quem mais se destaca é Viola Davis, como a sádica Dr. Volumnia Gaul, que comanda a 10ª edição dos jogos. Com mais ligação com o personagem principal, Gaul é particularmente assustadora, da forma que só as pessoas da Capital de Jogos Vorazes conseguem ser.

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Um dos únicos pontos negativos do filme é o equilíbrio entre duração e ritmo. Com quase 2h40, o longa faz jus ao nome “longa” e se torna cansativo, especialmente após a trama que mostra, de fato, como foi a 10ª edição dos Jogos Vorazes. Tal característica é sentida também no livro. Com 571 páginas, a publicação escolhe não terminar no clímax, e sim mostrar mais uma camada de Snow, que destoa do resto, embora seja importante para a construção do personagem. Ainda que tenha cortado bastante coisa da história original, algo comum em qualquer adaptação, o filme não consegue superar essa característica e é bem possível que muitos fãs terminem a sessão um tanto cansados.

Apesar disso, também é possível terminar a sessão com uma sensação de que A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é uma história que precisava ser contada. Ainda que seja agridoce chegar ao final sabendo todas as atrocidades que ainda serão cometidas por Snow, há um sentimento de que, agora, conhecemos profundamente a natureza desse personagem e da própria origem dos Jogos Vorazes, da forma como foi mostrada na franquia principal. Não é agradável, mas totalmente necessário.

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes está em cartaz nos cinemas.

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