Quando se pensa em Sexta-Feira 13, dois conceitos vêm à mente: má sorte, e um maníaco de pele podre e máscara de hóquei matando jovens cheios de tesão. Jason Voorhees é o antagonista de uma das principais franquias do cinema de terror, mas você sabia que os filmes ajudaram a popularizar a reputação ruim desta data?

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O dia sexta-feira 13 já era mal visto bem antes do filme, e muito disso se dá pelo fato de que o número 13 sempre foi entendido como um agouro, indicador de que algo ruim está prestes a acontecer. A sexta, apesar de hoje ser vista como o dia que inaugura o fim de semana, também carregou uma fama questionável por muito tempo.

Antes de tudo, é preciso explicar que – como toda tradição – não é algo recorrente no mundo todo. Cada cultura lida com seus próprios indicadores de má sorte, mas sempre há a presença do número ou do dia da semana: em países hispânicos e na Grécia, o dia ruim é a terça-feira 13, enquanto locais como a Itália ficam com um pé atrás na sexta-feira 17.

A rejeição ao 13 se dá por uma série de incríveis coincidências na história e na mitologia. Por si só, o coitado do número já carrega o peso de estragar o seu antecessor, visto que 12 é amplamente considerado um número perfeitamente par e harmônico. Basta pensar na quantidade de meses do ano, signos, ou até mesmo na quantidade de deuses do Olimpo na mitologia grega.

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13 representa que algo está fora de ordem. Na mitologia nórdica, por exemplo, há o conto de como Loki enganou Hod, o deus cego das profundezas, a assassinar o querido deus Balder com uma flecha com ramos, sua única fraqueza.

O deus da trapaça não havia sido convidado para tal celebração, e invadiu a festa que, antes de sua presença, tinha apenas 12 convidados. Ou seja, o evento com 13 convidados acabou em morte.

É melhor não juntar treze convidados à mesa. Foto: quadro de Leonardo Da Vinci

Uma história muito mais famosa é, claro, a última ceia de Jesus Cristo, em que se reuniu com seus 12 apóstolos, totalizando 13 participantes. Curiosamente, a última pessoa a chegar – vulgo o 13º participante – foi ninguém menos que Judas, que traiu Jesus, resultando em sua prisão e crucificação pouco depois.

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E qual dia da semana aconteceu a crucificação? Sexta-feira. Na Bíblia, há ainda vários outros casos de tragédias que caíram no último dia útil da semana, tipo Adão e Eva comerem o fruto proibido, o dilúvio que motivou Noé a construir sua arca, e até mesmo quando Caim matou Abel.

Se a explicação toda soa meio cristã… é porque é mesmo. A religião tem enorme influência em culturas do mundo todo, até mesmo em conceitos que não parecem óbvios de início, como superstições.

Em culturas pagãs ou nórdicas, há vários exemplos de que tanto a sexta-feira, como o número 13 são, na real, indicativos de prosperidade, fertilidade e amor. Mas não foi essa versão que ficou conhecida, né?

Superstição lucrativa

Thomas W. Lawson pode ser considerado o pai da Sexta-Feira 13

E como tudo isso se conecta com Jason Voorhees? Dinheiro (sério). No início do século 20, um milionário chamado Thomas W. Lawson escreveu um popular livro de ficção chamado Sexta-Feira 13. Não tem nada de acampamentos ou assassinos, mas sim a história de um corretor de Wall Street que manipula o mercado de ações para falir todos os seus competidores.

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A obra foi um sucesso de vendas, e colocou na consciência popular a data perfeita da má sorte, juntando dois elementos que sempre foram associados com desgraças. Segundo o prefácio de uma edição mais moderna de Sexta-Feira 13, escrito por Mark Leslie (Tomes of Terror), o livro vendeu 60 mil cópias só no primeiro mês de publicação, virou filme mudo, e ainda teve impacto real no mercado financeiro:

De acordo com um artigo do New York Times de 1925, depois da publicação do livro, os corretores adotaram o hábito de nunca comprar ou vender ações nesses dias de má sorte.

O mais curioso é que o próprio Lawson passou por desgraças, como ter um ambicioso navio que construiu afundado em plena sexta-feira 13, e morrer pobre mesmo após ter sido um dos homens mais ricos do mundo. Consequências de provocar a má sorte?

Slashers ambientados em datas temáticas, como Noite do Terror e Halloween, deram a ideia para um filme ambientado na sexta-feira 13. Foto: Falcon Productions/Divulgação

Com isso, o século passado tinha fresco na memória que a junção de sexta-feira e o dia 13 eram uma data maldita. Já por volta dos anos 70, o cinema de horror – que sempre brincou com medos populares – entrou de cabeça em fazer slashers, filmes de maníacos assassinos.

Quem deu o pontapé inicial nessa tendência foi Noite do Terror (ou Black Christmas, para os mais íntimos), filme do diretor Bob Clark sobre um assassino que atormenta estudantes colegiais na noite de natal. O longa inspirou o casal John Carpenter e Debra Hill a criarem seu próprio slasher, dessa vez ambientado na noite de Dia das Bruxas em uma pequena cidade do interior dos EUA.

Diferente de Noite Infernal, Halloween (1978) foi um sucesso enorme. O longa ficou quase um ano em cartaz, se saiu muito bem na bilheteria e mostrou que o slasher seria a próxima tendência do horror. Hollywood adora uma boa fórmula, e há algo em comum entre os dois filmes citados: horror em datas comemorativas.

Nos anos 80, o subgênero e essa tendência festiva cruzaram caminhos muitas vezes em títulos como Dia dos Namorados Macabro ou Natal Diabólico, para citar alguns. O diretor Sean S. Cunningham queria uma fatia do lucrativo bolo apresentado por Halloween, e decidiu criar seu próprio slasher de data especial.

A ascensão de Jason

Jason Voorhess deu novo significado ao terror. Crédito: Warner/Divulgação

O cineasta então viu sua chance de ouro em um roteiro escrito por Victor Miller, conhecido como A Long Night at Camp Blood (ou Uma Longa Noite no Acampamento de Sangue, em tradução livre). Além de dirigir, Cunningham era produtor do projeto, e decidiu correr para registrar o nome Sexta-Feira 13 sem o resto da equipe saber, em um palpite de que seria mais chamativo atrelar o longa à data maldita.

A partir disso, o filme começou a mudar de cara. Na trama, um grupo de monitores retorna para a reabertura de um acampamento que, há anos, havia sido cenário da morte de um garoto chamado Jason Voorhees, que se afogou por negligência dos adultos. Semanas antes da chegada das crianças, os monitores começam a ser assassinados um por um.

O projeto foi pensado para ser um horror apelativo para jovens, e o conceito da maldição da sexta-feira 13 entrou em ação. No longa, é usado como o dia em que Jason se afogou, e depois como a data em que sua mãe, Pamela Voorhees, retorna para matar os monitores e impedir a reabertura do acampamento.

Sexta-Feira 13 chegou aos cinemas norte-americanos em 9 de maio de 1980, e se tornou um verdadeiro sucesso de bilheteria. Esse fenômeno só cresceu ao longo dos anos, com um fluxo de dez continuações entre a estreia do original e 2003. Nas sequências, Jason Voorhees assume o lugar da mãe como o assassino de jovens, e assim se tornou ícone da matança.

Com essa lucrativa e popular franquia de horror marcando presença nos cinemas ao longo de duas décadas, a data sexta-feira 13 não só ficou amplamente conhecida como dia de má sorte, mas também como um dia assustador.

É por isso que os entusiastas de filmes de terror aproveitam a data para se reunir e ver clássicos macabros. Ainda que a superstição seja antiga, foi Jason Voorhees que garantiu sua consolidação e sobrevivência até os dias de hoje.

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