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Jogos Mortais já teve game que seria “o novo Silent Hill” da Konami

Recorrente há quase 20 anos, Jogos Mortais é uma das maiores franquias de terror dos cinemas, com 10 filmes que conquistaram seu lugar na cultura pop. Mas você sabia que a saga passou brevemente pelos games — com envolvimento da Konami, ainda por cima?

Em outubro de 2009, enquanto Jogos Mortais 6 estreava nos cinemas, o Xbox 360, PC e o PlayStation 3 recebiam Saw: The Video Game, um survival horror desenvolvido pela falecida Zombie Studios (Blacklight: Retribution, Daylight). Assim como fez o recente Jogos Mortais X (2023), o game é ambientado entre os eventos dos dois primeiros longas, e até trazia de volta um personagem importante.

O jogo não era o seu típico game licenciado meia boca. Para garantir o máximo de consistência com a franquia, os criadores James Wan e Leigh Whannel foram chamados para ajudar a elaborar a trama, atmosfera e as armadilhas do projeto. Tobin Bell também voltou para interpretar Jigsaw, o principal antagonista responsável pelos jogos mortais. Idealmente, o game seria cânone e criaria toda uma saga paralela aos filmes, só que nos jogos.

A aposta era importante também para a Konami, que chegou a afirmar que Saw poderia ser a próxima Silent Hill. Na ocasião, a empresa japonesa comprou os direitos da Brash Entertainment, desenvolvedora de questionáveis jogos licenciados que havia ido à falência em 2008.

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Ainda que fosse um projeto feito para surfar a onda dos filmes, a Konami via potencial no jogo pela sua atmosfera, combate tenso e violência impiedosa, chegando a afirmar que poderia ficar a altura da sua consagrada saga de terror.

Silent Hill é mais sobre terror psicológico, mas vemos Saw como horror mais gráfico e intenso, que te sobrecarrega”, afirmou David Daniels, representante da empresa, à Variety em abril de 2009 (via Eurogamer). “Queremos que os jogadores olhem para longe da tela por alguns momentos por conta da intensidade.

Duas vítimas

Saw: The Video Game (2009) traduziu Jogos Mortais para os games [Créditos: Reprodução]

Em Saw, os jogadores assumem o papel do Detetive Tapp, personagem interpretado por Danny Glover (Máquina Mortífera) no primeiro filme. No longa de 2004, Tapp é baleado na reta final. Na trama do jogo, Jigsaw resgata o policial, cura seus ferimentos e o coloca em um hospício abandonado, com diversos “jogos” perigosos para testar sua vontade de sobreviver.

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Pelo caminho, Tapp precisa encontrar Jigsaw, enfrentar sua assistente de máscara de porco e auxiliar várias outras vítimas do maníaco. O local abandonado é gigante, mas o jogo é marcado pela sensação de claustrofobia pelos vários porões e corredores apertados. Além disso, há perigo constante por várias armadilhas espalhadas pelo mapa, vidro quebrado no chão, e outros prisioneiros menos inclinados a colaborar com você.

Há muito a ser aproveitado em Saw. A trama é decente para os padrões da franquia, e o game acerta em cheio em recriar a tensão dos filmes com vários sustos e armadilhas bizarras. Fidelidade aos longas é o maior acerto do jogo, algo bastante elogiado pelos fãs e pela crítica da época. O problema é a jogabilidade.

O game foi amplamente criticado por suas mecânicas travadas e sistema de combate horrendo. Brigar contra um inimigo significava brigar contra os próprios controles engessados. As armadilhas, ainda que criativas, também não empolgavam, já que geralmente se resumiam em sequências de botões a serem apertados rapidamente (os infames quick time events).

Saw dificilmente é o único jogo de terror daquela época a receber essas reclamações, já que os mesmos problemas atormentavam a fase mais orientada à ação em sagas como Silent Hill e Resident Evil. Mas, sem uma franquia forte nos games, e pelo preconceito estabelecido contra jogos licenciados, isso foi um baque que Jogos Mortais não conseguiu sustentar direito.

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Um ano depois, Saw II: Flesh and Blood conseguiu se sair pior que o antecessor [Créditos: Divulgação]

Isso, claro, não foi o fim da história da saga nos games. No ano seguinte, em 2010, Saw II: Flesh and Blood foi lançado para consoles — e conseguiu se sair ainda pior que o antecessor. A sequência, estrelada pelo filho do detetive Tapp, recebeu críticas ainda mais severas pelos controles ruins, trama sem graça e enigmas pouco inspirados. No Metacritic, a continuação tem média 47 de 100.

Com esse desempenho lamentável, a Konami largou mão de consagrar Saw como a próxima Silent Hill — especialmente na época que a outra franquia também sofria de jogos medíocres. Afinal, para quê sustentar duas sagas de terror em fases ruins? Assim, a empresa japonesa cancelou a versão de PC de Saw II e seguiu em frente.

Curiosamente, a Zombie Studios conseguiu se manter após ambos os fracassos, e só foi fechar as portas quando um dos fundadores se aposentou, em 2015. Na ocasião, os demais funcionários criaram outro estúdio que ficou conhecido como Hardsuit Labs, que foi auxiliar em franquias de peso como Call of Duty, Killing Floor, State of Decay e muitas outras. É um dos raros casos de “tropeçar para cima” que podem acontecer nessa indústria.

Outros Jogos Mortais

Dead by Daylight deu o carinho que Jogos Mortais merecia [Créditos: Divulgação]

Depois de dois flops em sequência, Saw deixou de existir, mas Jogos Mortais encontrou formas de manter certa presença nos games. A franquia recebeu sua homenagem mais carinhosa em Dead by Daylight, jogo multiplayer que é uma espécie de Fortnite do horror.

O game online que coloca um assassino para caçar e matar quatro sobreviventes recebeu uma DLC dedicada à franquia em 2018, quase uma década após o fracasso de Saw II: Flesh and Blood. Na ocasião, A Porca — vulgo Amanda, a assistente de Jigsaw — se tornou uma killer jogável, caçando furtivamente sobreviventes e colocando armadilhas em suas cabeças. Já o outro lado recebeu o Detetive Tapp, com habilidades únicas para escapar do assassino.

Jogos Mortais inspirou mapa e personagens jogáveis de Dead by Daylight [Créditos: Divulgação]

A maior homenagem veio mesmo na forma de um mapa: a Fábrica de Embalagem de Carnes Gideon, popularmente conhecida como The Game. O cenário é nada menos que o covil de Jigsaw, inteiramente adornado com TVs mostrando o rosto do fantoche Billy e várias das armadilhas icônicas da franquia, como o banheiro do primeiro longa ou então o congelador de Jogos Mortais III (2006). Curiosamente, o game também compensou outro deslize da Konami, já que deu um retorno igualmente digno para Silent Hill com mapa e personagens jogáveis.

Além de Dead by Daylight, Jogos Mortais já deu as caras no popular Call of Duty: Warzone. Em 2020, o fantoche Billy ganhou tamanho real para se tornar personagem jogável do evento de Halloween do game de tiro — ao lado de Leatherface, de O Massacre da Serra Elétrica. O pacote do Operador é repleto de armas e itens de customização que fazem alusão aos filmes, mas nada ofusca o quão bizarro é ver o fantoche de pé, com tamanho de gente e freneticamente trocando tiros.

Billy com um trabuco é real e pode te machucar [Créditos: Call of Duty: Warzone/Divulgação]

Ainda que não existam relatos de um novo jogo de Saw, há um cenário muito mais proveitoso para a franquia retornar. Nos últimos anos, franquias de terror como Sexta-Feira 13, O Massacre da Serra Elétrica, Alien, Predador, Evil Dead e até mesmo Palhaços Assassinos do Espaço Sideral foram abraçadas pelos games, com sucesso moderado entre os entusiastas do gênero.

A saga quase caiu nas mãos da Bloober Team (Layers of FearObserver), mas o estúdio polonês revelou que recusou a proposta e optou por desenvolver Blair Witch (2019), baseado em A Bruxa de Blair. Assim, é visível que há interesse da Lionsgate em licenciar a saga para os games, mas falta quem assuma essa árdua tarefa.

Com um público mais receptivo para jogos baseados em filmes de terror, com o horror reconquistando sua relevância dentre os games de grande orçamento, e com a retomada de sucesso da saga nos cinemas com Jogos Mortais X, é possível imaginar uma versão interativa de Jogos Mortais que seja capaz de assustar, enojar e fascinar tanto quanto fazem os longas há quase 20 anos. Só é preciso cair nas mãos de um boa desenvolvedora que saiba aproveitar todo esse potencial.

Ambos os títulos de Saw seguem presos em suas plataformas originais, sem retrocompatibilidade ou sequer vendidos digitalmente, podendo ser acessados apenas por mídia física.

No PC, o primeiro game já é considerado ‘abandonware’, ou seja, não é mais comercializado oficialmente e pode ser baixado gratuitamente em sites de preservação digital, como MyAbandonware e Internet Archive.

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