Adaptar a magia de Dungeons & Dragons do mundo de mesas para os videogames é uma tarefa complexa. É difícil oferecer a mesma liberdade de imaginação e possibilidades do RPG em um jogo comercial, programado para divertir e não frustrar demais. Entretanto, Baldur ‘s Gate 3 é um grande avanço em relação a jogos como Skyrim por conta do realismo e experiência envolvente e divertida.
Realismo impressionante e soluções criativas
Baldur ‘s Gate 3 traz um realismo notável para o mundo virtual. Se algo parece inflamável, é possível incendiá-lo. Um personagem mais alto possui vantagem para atirar flechas. Se você pode pegar algo no mundo real, provavelmente poderá fazer o mesmo no jogo e é possível até mesmo empilhar ou arremessar objetos, se você tiver força suficiente em seu personagem. Esse nível de detalhe se estende às pessoas que habitam o mundo. Todos têm um nome e são dublados por completo – incluindo, surpreendentemente, os animais.
E não é só isso, é realmente preciso pensar para encontrar soluções não convencionais para situações diversas, exatamente como em uma aventura de RPG. A sensação de resolver um desafio complexo é muito satisfatória, ainda mais numa era em que a maioria dos jogos apresentam puzzles relativamente simples, frequentemente mais trabalhosos do que lógicos.
Desde que comecei o game, joguei por cerca de 28 horas (sem contar mortes que me obrigaram a carregar jogos salvos antigos) e a sensação de exploração é constante. No momento, meus personagens estão lá pelo nível 4 e consigo explorar sem morrer de bobeira. A dificuldade pode ser ajustada, então, se você quer apenas acompanhar a narrativa, isso também é possível. De qualquer forma, eu garanto: a vontade de voltar a esse mundo todo dia é constante.
Neste épico de alta fantasia, cada canto sombrio tem uma surpresa e suas decisões têm suas implicações profundas, transformando a experiência em uma verdadeira aventura.
História cativante e mundo realista
Baldur ‘s Gate 3 começa com uma introdução épica, apresentando uma espaçonave semelhante a uma lula (um Nautiloid) sendo perseguida por dragões através de portais mágicos. Nessa intro, vemos os personagens dos jogadores serem infectados por parasitas mentais que lentamente os transformarão em monstros devoradores de cérebros chamados de “Devoradores de Mente”.
A trama, embora um pouco complexa, se desenrola de forma envolvente. Esses sobreviventes de abduções misteriosas agora buscam por uma cura para essa parasita inserido em suas cabeças. É com essas pessoas que você encara uma jornada que apresenta a personagens ricos e um mundo incrível. E mesmo que você não goste de todos os companheiros de viagem, todos eles são muito interessantes, com muitos segredos e histórias complexas.
Semelhante ao ato de criar histórias em um jogo de RPG de mesa, Baldur ‘s Gate 3 nos revela segredos escondidos a cada canto. A atenção aos detalhes se estende até mesmo aos habitantes do mundo, todos com vozes e com histórias intrigantes.
Falando em personagens, a dublagem é impressionante e cada interação revela nuances adicionais à trama. No entanto, o grande destaque aqui é a sensação de estar no controle de uma narrativa em constante evolução.
Jogo perfeito? Isso existe?
Mas nem tudo são flores. Em meu progresso até o nível 4, encontrei alguns tropeços técnicos, como diálogos que falharam e pequenos problemas visuais. Felizmente, esses inconvenientes não atrapalharam a imersão geral.
O sistema de combate, embora fiel às raízes do Dungeons & Dragons 5ª Edição, pode ser um tanto desafiador para iniciantes entenderem, até porque o fator tático é alto. O aprendizado de feitiços e habilidades é uma jornada por si só e algumas batalhas podem ser mais complexas do que o necessário. A falta de recursos é uma constante também, o que pode assustar os não familiarizados.
Além disso, o lento avanço do personagem pode ser frustrante. Ainda mais levando em consideração outros RPGs, é bizarro o quão pouco os personagens evoluem em tantas horas de exploração. Os ganhos de níveis são raros e as evoluções não possuem tanto impacto, tornando a progressão um tanto frustrante para os apressados.
Existem apenas 12 níveis disponíveis de um total de 20 da 5ª Edição do jogo de mesa, o que significa que você vai subir de nível apenas 11 vezes em mais de 100 horas de jogo. Pouco demais.
No entanto, a compensação está na obtenção de itens mágicos que realmente podem mudar as coisas. Se você se concentrar nisso, pode não só mudar paradigmas, como garantir alguns combos bem poderosos.
Visual estonteante
A beleza artística deste jogo é outro ponto cativante de Baldur ‘s Gate 3 e realmente um diferencial para os amantes de paisagens e locações fantásticas. Os Reinos Esquecidos (Forgotten Realms) ganham vida com uma estética realista e, ao mesmo tempo, imaginativa. A atenção aos detalhes é impressionante, desde os personagens até os ambientes, todos com uma riqueza de cores e estilo impressionantes.
É divertido, por exemplo, passar um tempo considerável personalizando o personagem principal da aventura, lentamente explorando as opções visuais disponíveis. Provavelmente, sobre isso, você deve ter ouvido falar da nudez presente no jogo. Embora adicione uma camada de realismo interessante, é fundamentalmente dispensável, apesar de curiosa.
No fim do dia, Baldur ‘s Gate 3 é uma jornada épica cativante. Com sua narrativa rica, personagens intrigantes e mundo envolvente, ele conquista seu lugar como um dos melhores jogos do ano graças a uma experiência que vale a pena para qualquer fã de fantasia e estratégia. Esse texto pode ter acabado por aqui, mas continuo explorando Os Reinos Esquecidos (Forgotten Realms) até o fim dessa incrível jornada.
Definitivamente mergulhei de cabeça na envolvente trama de Baldur ‘s Gate 3, facilmente uma das melhores experiências de RPG que já tive com videogames.
Esse texto foi feito com uma cópia cedida pela Larian Studios.
Baldur’s Gate 3 está disponível para PC e chegará ao PlayStation 5 em 6 de setembro.