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Conheça a streamer que zerou Elden Ring com controle que faz leitura cerebral

Um tópico muito debatido atualmente é a acessibilidade nos jogos, e hoje podemos afirmar que várias novas mecânicas para pessoas com deficiência (PcD) vem sendo desenvolvidas por diversas empresas do ramo de games.

Tendo isso em vista, o NerdBunker entrevistou com exclusividade a streamer Perrikaryal, que fez sucesso em 2022 ao zerar Elden Ring usando apenas o “poder da mente”.

Perri, como prefere ser chamada, é uma “streamer de psicologia” que mora no Reino Unido e fala sobre diversos tópicos em suas lives, incluindo crimes reais, notícias gerais e o uso do EEG (eletroencefalograma) como uma espécie de controlador de jogos. Como a mesma gosta de dizer, “jogo usando o poder da mente.”

Quando questionada sobre o que é de fato o EEG headset, a streamer revelou que é um fone de ouvido que consiste em vários de eletrodos que são posicionados em diferentes locais da cabeça, captando assim a atividade eletromagnética que “sai” de seu cérebro.

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“Parece algo saído um pouco dos X-Men. Os eletrodos possuem almofadas que são embebidas em solução salina (água salgada) para torná-los condutores e obter uma melhor leitura. Os dados do EEG são a atividade cerebral que ele capta e consiste em todos os diferentes tipos de ondas cerebrais, quantas dessas ondas cerebrais existem e de onde (aproximadamente) elas vêm.”

Apesar da explicação anterior ter soado um tanto fácil, adaptar o fone EEG foi uma missão quase impossível e com custos altos – não só de tempo mas de dinheiro também. A psicóloga revelou que o dispositivo Epoc X da Emotiv é vendido por cerca de £ 900, mas, o tempo e dinheiro investidos com exatidão neste projeto vão permanecer em sigilo, por hora.

Transmissão do canal Perrikaryal
Perri sempre mostra como funciona a “leitura” de seu cérebro nas lives (Reprodução/Twitch)

A streamer disse que passou vários meses, mesmo tendo um mestrado como experiência, para descobrir uma maneira de converter os dados do EEG em um controlador virtual utilizável. “Depois que descobri isso, levei mais de 200 horas para treinar o BCI (interface cérebro-computador) para reconhecer meus padrões de atividade cerebral e mais de 250 para praticá-lo e fazê-lo funcionar da mesma forma todas as vezes.”

Criatividade e curiosidade

Uma das curiosidades do público é a motivação por trás desse projeto e questionamos Perri sobre isso. A psicóloga revelou que começou a trabalhar nessa mecânica gradualmente e deu mais detalhes sobre esse processo:

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“Trabalhei com esse fone durante o mestrado. O EEG geralmente tem mais de 100 eletrodos e usa algo como uma touca de natação para colocá-los na cabeça. Há ainda muitos fios e uma enorme máquina sobre rodas que geralmente custa cerca de £ 20.000. Pretendia usá-lo apenas para mostrar meu cérebro em atividade enquanto jogava um jogo de terror, por exemplo, como alternativa ao monitor de batimentos cardíacos, mas percebi que você poderia treiná-lo para reconhecer certos padrões de atividade cerebral (ou seja, como seu cérebro se parece quando você está imaginando). Se você puder treiná-lo para reconhecer um padrão, provavelmente poderá programar outra coisa para usar esse reconhecimento e, por exemplo, apertar um botão. Portanto, tudo começou como curiosidade científica e aconteceu gradualmente.”

Perri levou cerca de quatro meses para fazer o controle funcionar antes de começar a jogar Elden Ring em suas transmissões. As partes mais trabalhosas foram treinar o BCI (interface cérebro-computador) para reconhecer certos padrões e, em seguida, usar a API Emotiv em Python para construir um controle que usasse essas informações.

Como se apenas o desafio por si só do Elden Ring não bastasse, Perri nunca havia jogado o jogo e o selecionou como o primeiro game para testar essa mecânica.

“O jogo é muito difícil, então eu precisava ter certeza de que os comandos eram confiáveis. Quando você está travado em um inimigo, a tela se move muito e pode girar, o que significava que minhas visualizações nem sempre funcionavam e precisavam ser ajustadas… Eventualmente, integrei o giroscópio (inclinando a cabeça para mover) e só recentemente o rastreamento ocular para torná-lo um controle mais abrangente.”

A psicóloga nos explicou sobre o que imagina para realizar suas ações no jogo (em Elden Ring, em especial), como, por exemplo, atacar ou se mover. Ela detalhou que existem três comandos mentais, são eles: “Se imaginar empurrando um cubo pesado para frente; girar um prato ao som de ‘You Spin Me Right Round’; e remar um remo no lado direito em um lago calmo.”

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A streamer frisou que, para executar os comandos, as visualizações precisam ser exatamente iguais todas as vezes, então são bastante específicas.

“Eu empurro para esquivar, giro um prato para atacar e remo para curar. Na maioria das vezes, isso é tudo que você precisa em uma luta contra um chefe. Às vezes, tenho comandos mentais diferentes para jogos diferentes, se estou tentando torná-lo mais intuitivo, por exemplo, mover um cubo para a esquerda ou para a direita para virar à esquerda ou à direita como no Trackmania. O movimento, por enquanto, é feito através do giroscópio (inclinar minha cabeça) que se torna um joystick no meu controlador virtual.”

Jogar utilizando o EEG está longe de ser fácil, principalmente para pessoas ansiosas ou inquietas. A mecânica requer muita concentração e foco por parte do jogador. Perri disse que a maior dificuldade foi fazer com que o seu cérebro a obedecesse e, em sua primeira vez testando a mecânica, pensou que havia feito algo errado. “Eu estava sentada observando minha atividade cerebral e vi uma onda de atividade de alta frequência (Gamma) – e pensei bem, isso deve estar errado; Eu não estou fazendo nada. E então percebi que eu, mesmo sem perceber, estava batendo o pé à toa. O cérebro sabe tudo. Se estou distraída, o comando não funciona”, revelou a psicóloga em um tom de humor.

Transmissão do canal Perrikaryal
Perri mostrando a funcionalidade de sua mecânica ao jogar (Reprodução/Twitch)

Por falar em Elden Ring, muitas pessoas em 2022 duvidaram que de fato Perri estivesse usando o “poder da mente” para jogar o jogo, e foi então que a jovem percebeu que estava traçando um caminho certo para proliferar os avanços da neurociência e até mesmo ajudar PcDs.

“A ideia de que podemos jogar ou fazer qualquer coisa realmente sem pressionar botões complicados ou depender de habilidades que talvez não tenhamos é muito empolgante. Muitas vezes, os jogos também são ignorados, porque, quando as pessoas pensam em ‘acessibilidade’, pensam nas coisas básicas, como ler e subir um lance de escadas, mas esquecem que nem sempre é suficiente sobreviver se você não estiver vivendo – e perder o passatempo de entretenimento mais popular de que todos estão falando e todos os seus colegas estão fazendo, hipoteticamente, tem um impacto real na sua qualidade de vida.”

Questionamos Perri sobre a possibilidade de alguma desenvolvedora de jogos ou periféricos já terem falado com ela acerca de mecânica. Felizmente a psicóloga disse que sim, mas o lado ruim é que ela ainda não pode revelar mais detalhes.

Perri, por fim, provou que mesmo Elden Ring, um jogo soulsborne, pode ser jogável para pessoas com deficiência a partir do desenvolvimento de ferramentas e mecânicas. “O que é ‘impossível’ para você (jogador) pode, na verdade, ser bastante difícil, mas fundamentalmente inviável para alguém com deficiência. É sobre equidade. Todos devem ter a possibilidade de jogar esses jogos”, finalizou a psicóloga.


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