Quando falamos em jogos da FromSoftware, a primeira coisa que vem à cabeça é o soulsborne — Demon’s Souls, Dark Souls, Bloodborne e por aí vai. Mas muitos jogadores esquecem (ou, até mesmo, não sabem) que o estúdio japonês também é responsável por outra franquia de peso da indústria: Armored Core.

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A saga, que teve início no fim da década de 1990, lá no PS1, tem uma grande importância e até mesmo tradição dentro do seu próprio gênero, influenciando muitos games de mecha desde que surgiu.

Agora, após mais de 10 anos sem um novo título, o universo dos ACs está de volta com Armored Core VI: Fires of Rubicon, que, em poucas palavras, pode ser resumido como “o Elden Ring da franquia” por elevar o que a saga apresentou até hoje.

Hora de entrar na mecha

Sem ter ligações com outros jogos da franquia, Armored Core VI aposta em ambientação e história inéditas. Você controla uma mecha que se infiltra no planeta Rubicon e adota a vida de mercenário, com o objetivo de obter informações sobre o Coral, substância que serve como fonte de energia e possui um valor inestimável.

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Sob os comandos de um treinador nada confiável, o jogador precisa cumprir uma série de missões diferentes, que vão desde aniquilar alvos específicos até invadir bases secretas, enquanto se envolve em conflitos entre as organizações locais.

Nem tudo é o que parece em Rubicon, e às vezes até a simples missão de aniquilar outro AC (mecha) deixa você com dúvida se está fazendo o certo (Imagem: FromSoftware/Captura de tela)

Fazendo jus às premissas originais da saga, Armored Core VI é um shooter em terceira pessoa, com foco em combate de mechas, em que a personalização é tão importante quanto pilotar o robô.

Logo de cara, é perceptível que o jogo é um salto imenso em relação aos antecessores, com uma movimentação fluida — que torna extremamente agradável os simples atos de voar, saltar e planar com a mecha — e gráficos modernos.

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Os cenários são áreas semiabertas em cada missão, que impressionam no tamanho e visual. Tive até que parar em alguns momentos por causa da ambientação, tanto para comparar o tamanho da minha mecha com o mundo ao redor quanto para apreciar a paisagem que, apesar de destruída e cheia de explosões (afinal, estamos falando de um game sobre robôs briguentos), é belíssima.

Apenas senti que não há muito incentivo para a exploração livre das áreas, apesar do visual convidativo. Há coletáveis e pequenas quantias extras de dinheiro como conteúdo opcional dos mapas, que não fazem tanta diferença para a experiência como um todo.

A interface e os elementos de HUD são simples, mas houve um cuidado para tudo casar com o tema sci-fi, com efeitos sonoros e pop-ups tecnológicos para todo o lado (Imagem: FromSoftware/Captura de tela)

Funcionando como parte essencial da experiência, a personalização da mecha é responsável pela ampla variedade da jogabilidade, que é onde Armored Core VI brilha.

Você pode mudar a estrutura do corpo (cabeça, braços e pernas) e as quatro armas que estão equipadas (sendo que duas ficam acopladas nos ombros), além de outros mecanismos específicos, como propulsor e gerador, mas tomando cuidado para não ultrapassar um limite excessivo de peso e energia (EN).

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São muitos equipamentos e peças disponíveis, que são desbloqueados para compra ao progredir no jogo. Há armas cinéticas, energéticas e explosivas, que variam em tamanho, projéteis, dano e alcance, além de escudos e broquéis para defesa. Fica ainda o destaque para peças ‘diferentonas’, como a possibilidade de ter quatro pernas ou até mesmo um tanque de guerra na mecha.

A ideia de montar um arsenal ambulante é extremamente satisfatória, e é o que torna o combate frenético, divertido e cheio de possibilidades.

Você também pode mudar a cor de cada parte da mecha, e eu aproveitei a oportunidade de criar um EVA de Evangelion para mim, né? (Imagem: FromSoftware/Captura de tela)

Se você estava esperando alguma comparação com soulsborne na análise, o momento finalmente chegou. Armored Core VI tem uma pitada de souslike ao apostar em combates desafiadores — e, é claro, na presença de chefes difíceis.

O jogo está bem longe de ser só tiroteio sem pensar. É preciso ser estratégico, tanto para atacar quanto para defender, e saber aproveitar o poderio de cada equipamento da sua mecha. Os inimigos são bem variados, e alguns forçam você a deslizar, saltar e voar para escapar de golpes, além de saber o momento certo (e a arma certa) para contra-atacar.

Eles ainda têm uma barra que funciona como uma “postura” que pode ser quebrada, tornando-os vulneráveis em um breve período de tempo. Então, basicamente, a ideia é descobrir o ponto fraco, quebrar a “postura” e causar o máximo de dano possível. Isso resulta em um combate que se assemelha a uma dança, tamanha a fluidez e as possibilidades do que o jogador tem para derrotar o adversário.

Paciência e timing são as palavras-chaves para sair vitorioso, e há lutas com potencial para fazer você ficar com aquela vontade de arremessar o controle na parede. O que não é algo ruim, uma vez que esse tipo de situação é comum em títulos da FromSoftware, e o sentimento recompensador ao aniquilar um chefão está presente.

Mas não se deixe enganar. O toque soulslike de Armored Core VI para por aí e apresenta estilo e proposta bem diferentes de qualquer soulsborne. O aspecto punitivo, por exemplo, não existe. Há checkpoints e opção de “remontar” a mecha para tentar novamente ao morrer no meio de alguma missão, sem perda (ou ciclo repetitivo) de progresso.

Se estiver com problemas com um chefe, a resposta está na mecha. Não tenha medo de montar e desmontar tudo de novo para testar novas builds — essa é, na verdade, a premissa do jogo! (Imagem: FromSoftware/Captura de tela)

Armored Core VI entrega o prometido na história principal, mas deixa a desejar em conteúdo opcional, que é resumido em refazer as missões principais (sem nada novo) e o modo Arena, que é focado no combate contra outros ACs para subir no rank dos mercenários e ganhar upgrades. Apesar de divertido, não é lá muito desafiador, sendo não tão atrativo quanto a campanha. Fica apenas o aviso de que, como testamos uma versão pré-lançamento, não pudemos jogar os modos multiplayer.

O jogo tem uma história de peso, com conceitos próprios e diversos personagens intrigantes — o que faz a presença de texto em português ser essencial para os jogadores brasileiros. A localização está satisfatória e com poucos erros, com o destaque ficando para a adaptação de nomes e termos, como um AC que usa o Coral como uma droga ilícita e é chamado de “Zé Droguinha”.

A parte negativa é que a dublagem se limita a inglês e japonês e, como boa parte dos diálogos acontece no meio da porradaria, é fácil perder falas e informações importantes.

Por fim, não há nenhum tipo de acessibilidade voltada para pessoas com deficiência (PcD), apenas um remapeamento completo dos comandos do controle.

Asas de um Corvo

Armored VI atende (e muito) a sua proposta. O jogo se destaca com a personalização pesada, complexa e variada, além de uma história concisa e cheia de momentos grandiosos.

Há alguns tropeços, como a falta de um conteúdo opcional mais dedicado e um desequilíbrio entre a dificuldade de alguns chefes, mas o saldo é bem positivo como um todo.

As animações dos movimentos da mecha são de encher os olhos! (Imagem: FromSoftware/Captura de tela)

Se descrevo Armored Core VI como o Elden Ring da franquia é porque ele eleva as principais qualidades da série, servindo como uma boa porta de entrada, mesmo em um segmento tão nichado, principalmente no Ocidente. O jogo ainda é a maior experiência de Armored Core até hoje, apresentando uma campanha que dura entre 25 a 30 horas, mas que pode variar dependendo das habilidades de quem está com as mãos no controle.

Algo curioso é que o codinome do protagonista é “Corvo” e, em um certo momento da história, alguém indaga “quão longe as asas do Corvo podem voar?” — e foi justamente isso que pensei ao jogar. A FromSoftware mostrou que, apesar de ninguém estar esperando, também voou muito longe com um novo Armored Core.


Esta review foi feita com uma cópia cedida pela FromSoftware.

Armored Core VI: Fires of Rubicon será lançado para 25 de agosto para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC.