Talvez nem mesmo a giromancia era capaz de prever a chegada de Silent Hill: The Short Message, que marca o tão esperado retorno da franquia de terror da Konami após mais de 10 anos.

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Não víamos um novo Silent Hill desde 2012, com Downpour e Book of Memories, e a ausência de novos jogos ficou ainda mais amarga com o cancelamento de Silent Hills, que seria comandado por Hideo Kojima, em 2014.

Com esse cenário complicado de fãs desesperançosos, a Konami decidiu lançar, de surpresa, The Short Message no finalzinho de janeiro — um jogo que também chegou de graça e com texto em português brasileiro, para PlayStation 5.

Confesso que, assim como muitos outros jogadores, encarei a experiência com curiosidade, mas sem expectativas. Só que acabei encontrando algo bem mais valioso do que esperava.

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Ciclos (in)termináveis

Ambientado nos tempos atuais, Silent Hill: The Short Message é protagonizado por Anita, uma jovem estudante que está trancada dentro de um prédio abandonado, em busca de uma amiga que desapareceu.

O que poderia ser uma tarefa simples, no entanto, rapidamente se torna um pesadelo, e a protagonista se vê presa em um ciclo vicioso que não a deixa fugir do local.

O prédio é mais do que parece e força Anita a encarar demônios internos, o que leva a alucinações e mudanças bruscas nos cenários (Imagem: Konami/Captura de tela)

O jogo se molda aos tempos de hoje, então esbarra em temáticas contemporâneas, como malefícios das redes sociais, depressão e ansiedade, bullying e a pressão que jovens encontram na etapa de decidir o que fazer da vida após o fim da escola. E todos os temas acabam culminando em um tópico extremamente delicado: suicídio.

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Além disso, o toque “moderno” é refletido na jogabilidade, que é simples, mas eficaz. Anita pode apenas andar, correr e interagir com objetos, enquanto usa o celular para iluminar o caminho e conversar com as amigas por mensagens de texto. Ela é apenas uma estudante que se vê perdida em um lugar obscuro e cheio de segredos, então a simplicidade nos comandos conversa diretamente com a trama.

Como cereja do bolo, a protagonista está desarmada e não tem nada para se defender do monstro que espreita os corredores — o que até ressoa com a pegada contemporânea, afinal, lá existe alguma maneira de se defender dos efeitos da internet em dias como hoje?

Todo o visual de The Short Message é muito bem feito, com gráficos satisfatórios, cenários detalhados e excelente jogo de iluminação (Imagem: Konami/Captura de tela)

Com forte pegada de terror psicológico, a experiência se foca em criar tensão com um level design simples e uma baita direção de arte, em que cenários estreitos e pouca iluminação bastam para construir uma atmosfera que o jogador sente que está sendo engolido vivo.

Todo o sentimento transmitido pelo local é pesado — e é inevitável traçar comparações com P.T., a demo jogável de Silent Hills, porque o sentimento ao jogar é parecido. Mas há um grande diferencial entre as duas obras: enquanto P.T. incomoda com o terror do desconhecido, The Short Message cutuca medos palpáveis e realistas. Não à toa, o jogo usa uma surpreendente câmera em primeira pessoa, indicando que Anita poderia ser qualquer um de nós.

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Ei, Lisa… tá aí? (Imagem: Konami/Captura de tela)

O jogo também usa cenas com atores reais para se aproximar do jogador, o que funciona muito bem. Algo curioso, no entanto, é que os movimentos labiais das personagens (e das atrizes) estão tão dessincronizados que fazem até o “defeito” parecer proposital. Confesso que, para mim, isso estranhamente se tornou algo positivo e adicionou um tom ainda mais pavoroso à experiência.

Início do renascimento?

Com uma duração singela de duas horas, Silent Hill: The Short Message executa uma ideia simples, mas tão bem feita que é quase impossível de não ser cativado. Desde a proposta de gratuidade até o conteúdo oferecido, o jogo acerta em cheio no que propõe.

O projeto é uma tentativa honesta de trazer novos ares à saga, que ainda teve o envolvimento de desenvolvedores lendários que trabalharam em outros Silent Hill, como Masahiro Ito, que fez parte do Team Silent e criou o design das enfermeiras e do Pyramid Head; e Akira Yamaoka, compositor das trilhas sonoras de Silent Hill 2, 3, 4 e outros spin-off.

A presença de Motoi Okamoto como diretor também é promissora. Apesar de ter se juntado à Konami apenas em 2018, o desenvolvedor é um veterano da indústria — com clássicos como Pikmin, Zelda: Wind Waker e New Super Mario Bros. no currículo — e atualmente atua como o principal produtor da franquia Silent Hill. Então, após um primeiro passo tão bem dado, a neblina caminha para se dissipar em suas mãos.

Alguns até podem dizer que se distancia das raízes de Silent Hill, mas há amarras, referências e temas que ligam The Short Message aos outros jogos (Imagem: Konami/Captura de tela)

Encarar os créditos e ver nomes conhecidos e experientes novamente em um projeto que faz jus à grandiosidade de Silent Hill é algo que reacende as expectativas daqueles fãs que não enxergavam futuro para a franquia.

Como o próprio título indica, The Short Message é uma mensagem curta, mas impactante e que ouvimos claramente. É o vislumbre de esperança que estávamos esperando há mais de 10 anos.


Silent Hill: The Short Message está disponível gratuitamente para PlayStation 5.

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