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Um matador frio e calculista precisa enfrentar as consequências dos atos criminosos quando um trabalho dá terrivelmente errado. Pensando bem, você certamente pensa em dezenas de filmes de ação e suspense com essa exata premissa. Lançamento da Netflix, O Assassino, para dar algum frescor à fórmula, traz o sempre competente David Fincher (Seven, Clube da Luta, Zodíaco) e surpreende com uma trama de ação que, curiosamente, pode ser definida como “anti-ação”.

Adaptada do quadrinho francês de mesmo nome, a trama tem Michael Fassbender como um assassino sem nome. Metódico, o homem traz o espectador para dentro de seus pensamentos com longos monólogos sobre o dever sangrento, ao som de uma playlist dos Smiths. O personagem precisa enfrentar uma perigosa rede de assassinos após se tornar, ele mesmo, um alvo, ao fracassar em um importante assassinato.

Se a premissa é um prato cheio para cenas de ação desenfreadas, porradaria e banhos de sangue que esperamos de algo como John Wick, Fincher e o roteiro de Andrew Kevin Walker (também de Seven) subvertem expectativas ao focar no lado menos glamuroso e, por que não, chato, da vida de bandidagem.

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O Assassino traz importância igual para o ato da morte em si, e para a longa preparação necessária para o ato. Sejam noites mal dormidas, horas ociosas em vigília, os possíveis contratempos para o plano perfeito ou as letras melancólicas do britânico Morrissey.

Amparado em tudo isso, Michael Fassbender cria seu assassino com a seriedade necessária, mas também uma dose saudável de cinismo, como quem entende justamente as armadilhas de clichês que poderia cair, mas com uma piscadela marota ao público para que não esqueçamos do ridículo inerente a tudo aquilo.

Mesmo o grande motor da trama inteira, a busca do personagem por vingança, progride de forma protocolar e até levemente anticlimática, mas justamente por isso O Assassino conquista com seu charme. No fim, é como se o filme se destacasse por puxar o tapete dos nossos pés sempre que entramos num dos capítulos da jornada do matador, por prometer uma coisa e entregar outra.

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O filme é povoado por coadjuvantes como Tilda Swinton, uma das assassinas com Fassbender na mira, Charles Parnell, como um inescrupuloso advogado responsável pelas contratações dos matadores, e até a brasileira Sophie Charlotte, em curtíssima aparição. A maioria cumpre sua função no roteiro sem grandes reviravoltas, deixando claro que, mais que uma trama de vingança, O Assassino é uma “egotrip de autodescoberta” do próprio protagonista.

Com sua fotografia sombria e assinatura quase inconfundível, David Fincher prova que se sai melhor em boas tramas de suspense, como Zodíaco (2007), o próprio Seven (1995), a saudosa Mindhunter e o injustiçado O Quarto do Pânico (2002), do que em produções mais artisticamente pretensiosas, como O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) e Mank (2020).

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O cineasta traz os velhos parceiros Trent Reznor e Atticus Ross (dupla por trás do Nine Inch Nails) para a claustrofóbica trilha sonora. Até na música O Assassino se poupa de arroubos de grandeza, preferindo um acompanhamento quase incidental à jornada de Fassbender, mas que ainda transmite a tensão necessária.

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O Assassino pode frustrar quem vier convencido de que verá um espetáculo de testosterona e rajadas de bala, mas prova-se uma bem-vinda novidade a quem se deixar levar pela experiência e mergulhar em duas horas de Michael Fassbender e The Smiths. Afinal, é muito bom saber o que quer, mas é melhor ainda querer o que nem conhece.

O filme está em streaming na Netflix. Siga de olho no NerdBunker para mais novidades. Aproveite e conheça todas as nossas redes sociais, entre em nosso grupo do Telegram e mais – acesse e confira.

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