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As Marvels evidencia todos os pontos fracos e fortes da Marvel | Crítica

Não é exagero dizer que o mundo era bem diferente quando Capitã Marvel foi lançado nos cinemas, em março de 2019. Os fãs da Marvel ainda não haviam assistido à catarse de Vingadores: Ultimato (que saiu no mesmo ano), uma pandemia não havia mudado drasticamente os hábitos de consumo de entretenimento, e a fadiga de super-heróis ainda não existia.

Após tudo isso, chega aos cinemas As Marvels, filme que tem a missão de ser uma sequência de Capitã Marvel, da série Ms. Marvel (2022) e de continuar um arco iniciado em WandaVision (2021) com a personagem Monica Rambeau (Teyonah Parris). E o resultado de toda essa salada é um filme desconjuntado, que tem bons momentos com suas protagonistas, mas não passa disso.

Uma das primeiras coisas a se pontuar é que a Marvel parece ter desistido totalmente de contextualizar o universo para quem está chegando agora. Inclusive, quem não tiver assistido às séries citadas acima pode ficar um pouco perdido, já que As Marvels começa a 200 km por hora, com cenas de ação envolvendo as três personagens principais.

Como já mostrado nos trailers, “algo” acontece e Carol Danvers (Brie Larson), Kamala Khan (Iman Vellani) e Rambeau começam a trocar de lugar quando utilizam seus poderes ao mesmo tempo. As aspas em “algo” é porque o próprio filme não se importa muito em explicar, e até brinca com isso em um diálogo entre Danvers e Nick Fury (Samuel L. Jackson). O que poderia soar como uma piada espirituosa sai pela culatra, uma vez que essa falta de explicação impacta diretamente a trama.

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Pouco é explicado durante o desenvolvimento do longa, comandado por Nia DaCosta. Coisas acontecem sem o menor motivo, apenas porque sim, personagens e lugares são deixados pelo caminho sem uma resolução e até o conflito final tem um quê de “é só fazer isso que tudo se resolve” e fim. Talvez o roteiro, assinado por DaCosta, Megan McDonnell e Elissa Karasik, tenha mirado em uma aventura descompromissada, preocupada mais em divertir do que em explicar. Mas é preciso tomar cuidado ao não confundir simplicidade com um desenvolvimento raso, e prejudicar a relação que o público estabelece com o que está acontecendo em tela.

Durante as quase 2 horas de duração, o longa até tenta explicar porque a “nova ameaça” da semana é tão importante, com os já conhecidos diálogos da Marvel, cheios de palavras difíceis e pouco compreensíveis. Mas isso não se traduz em perigos reais. Existe uma tentativa de dar peso emocional aos personagens e suas relações, mas isso cai por terra quando coisas que parecem tão importantes somem num piscar de olhos. Assim, é fácil chegar ao final de As Marvels sem entender muito bem como chegamos até ali.

E isso é uma pena, visto que a melhor parte do filme são justamente… As Marvels. Mais leve no papel de Carol Danvers, Brie Larson tem uma boa interação com Iman Vellani e Teyonah Parris, mostrando mais de seus sentimentos e inseguranças, e percebendo como suas ações impactam diretamente na vida de outros seres (humanos ou não). Vellani brilha mais uma vez como a jovem Kamala Khan, que fica igualmente empolgada e assustada a cada acontecimento heróico ao seu redor. A parte boa é que a personagem vai além disso e amadurece ao ver as camadas cinzas daqueles que admira. Das três, quem menos se destaca é Parris, mais pelo pouco espaço dado a Rambeau do que por demérito da atriz.

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Há um trecho específico focado nas três heroínas, que funciona como um belo curta sobre três personagens em épocas diferentes da vida, que tentam se entender e funcionar em conjunto. Essa parceria é, de longe, a melhor entrega do filme. Pena que dura tão pouco.

A Marvelização de uma boa história

Imagem de As Marvels
As Marvels é forte quando o trio de protagonistas está em tela, mas isso dura pouco (Divulgação)

Nos momentos em que foca nas protagonistas, As Marvels resgata um grande ponto positivo do MCU até aqui: a capacidade de criar figuras carismáticas para o público se identificar e admirar. Afinal, quem chorou com o final do Homem de Ferro ou ainda briga na internet pela Viúva Negra é por ter encontrado algo cativante na jornada de tais personagens.

Porém, o filme também resgata o pior do Marvel Studios, que é a criação superficial de vilões e desdobramentos, culminando em um longa esquecível. E já sabemos o motivo desse contraste: a eterna queda de braço entre a criação de uma produção com ares de autoral e a necessidade de ser “mais um capítulo” na próxima fase do MCU.

Nesse contexto, a diretora Nia DaCosta tem menos culpa no cartório do que pode parecer. Embora As Marvels, no geral, não seja um bom filme, são óbvias as partes em que a diretora conseguiu colocar sua visão da história, resultando em raros momentos cativantes. Por outro lado, são muitos claros os trechos em que a produção teve que ser cortada ou refilmada, para acrescentar ou tirar algo que vai ser usado no futuro.

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Tantas mudanças impactam também a parte técnica do filme. Ainda que algumas coreografias de luta das três protagonistas sejam interessantes, há momentos bizarros em que a vilã Dar-Benn (Zawe Ashton) fica literalmente parada esperando ser atacada antes de ter alguma reação. Os efeitos visuais também têm problemas e incomodam em cenas que facilmente poderiam ser cortadas ou pensadas de outra forma.

Com isso, As Marvels chega como mais um capítulo amargo na fase atual do MCU. Mesmo que tenha boas personagens, o longa mais confunde do que diverte e deixa claro que, em 2023, não é mais suficiente só ter o logo do estúdio no começo de uma produção para ter sucesso. É preciso ir além, Marvel — exatamente como sua Capitã vive dizendo: mais alto, mais longe e mais rápido —, antes que os fãs fiquem ainda mais cansados.

As Marvels está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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