Filmes de terror clássicos geralmente criam franquias longas e duradouras, com a reputação de não terem boas continuações além do original. Isso é verdade na maioria dos casos, mas a generalização pode fazer com que filmes ótimos passem batidos ou sejam considerados ruins por associação, por mais ousados, originais e divertidos que sejam.
Pensando nisso, listamos abaixo 10 sequências de clássicos do terror que abraçam o absurdo e merecem uma segunda chance!
1 – O Exorcista III (1990)
Quer tirar o gosto do terrível O Exorcista: O Devoto (2023)? Então você precisa assistir O Exorcista III, a melhor sequência da obra-prima atemporal de William Friedkin. O longa não foi inicialmente concebido como parte da franquia, mas acaba servindo como ótimo complemento ao clássico de 1973, ao mesmo tempo que tem muita personalidade própria.
Escrita e dirigida por William Peter Blatty, autor do livro que inspirou O Exorcista, a trama segue um detetive investigando uma série de assassinatos ritualísticos em São Francisco, nos EUA. Ao ritmo que avança na investigação, descobre que há uma conexão demoníaca entre os crimes, ligada a um serial killer convicto.
Combinando suspense policial com conto de possessão, o filme é um prato cheio de tensão, que ainda traz o melhor jumpscare da história do cinema e uma atuação impecável de Brad Dourif, ator conhecido por ser a voz original do boneco assassino Chucky.
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2 – Uma Noite Alucinante 3 (1992)
A franquia Evil Dead (ou então Uma Noite Alucinante) é um dos raros casos em que o segundo filme é amplamente aceito como o melhor em vez do primeiro, mas ainda há um capítulo desprestigiado na saga de Sam Raimi: Uma Noite Alucinante 3, conhecido também como Army of Darkness.
O terceiro filme é definido pelo exagero e conduzido como uma aventura, acompanhando Ash Williams (Bruce Campbell) enfrentando demônios após ser transportado para a era medieval através de um portal. É uma premissa absurda e o longa entende, refletindo isso na atuação caricata e adorável de Campbell, e nas situações dignas de desenho animado.
O humor pastelão de Campbell e Sam Raimi não funciona para todo mundo, mas Army of Darkness ainda vale a pena por ser repleto de charme e diversão.
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3 – O Massacre da Serra Elétrica – O Retorno (1995)
Diferente de muitas outras franquias, as continuações de O Massacre da Serra Elétrica não tentam emular o sucesso do original, e sim criar desconforto pela bizarrice. O Massacre da Serra Elétrica – O Retorno, quarto filme da saga, talvez seja o que melhor faz isso, ainda que seja considerado (injustamente) a pior sequência.
Comandado por Kim Henkel, roteirista do original e cocriador da franquia, o longa conta ainda com envolvimento de Hooper no roteiro. Aqui, a noite do baile de formatura de um grupo de adolescentes se torna um pesadelo após um acidente de carro forçá-los a buscar ajuda na fazenda de uma família de maníacos.
O filme traz o tom despretensioso das sequências, mas contrasta isso com muito sadismo e insanidade dos antagonistas. É cheio de bizarrices, também: além de ser estrelado por jovens Renée Zellweger e Matthew McConaughey, traz um Leatherface de drag e ainda sugere que a família assassina é, na verdade, parte dos Illuminati.
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4 – Dia dos Mortos (1985)
George Romero definiu para sempre os rumos dos filmes de zumbi com Noite dos Mortos-Vivos (1968) e O Despertar dos Mortos (1978). Dia dos Mortos, a conclusão da trilogia, pode não ter causado o mesmo impacto que os antecessores, mas é tão boa quanto.
Na trama, o apocalipse zumbi já tomou conta de grande parte dos Estados Unidos. Buscando uma forma de sobreviver, um grupo de cientistas e militares se refugiam em um bunker subterrâneo, correndo para encontrar a cura enquanto os ânimos se afloram entre os refugiados.
Mesmo em 1985, Romero já discutia temas pesados para o gênero de zumbis, como o conflito entre a mentalidade científica e a militar, os efeitos do isolamento nos sobreviventes, o preço da busca pela cura zumbi, e até mesmo mortos-vivos inteligentes. Bônus para a excelente performance de Joseph Pilato como o capitão Henry Rhodes, facilmente um dos vilões mais desprezíveis do cinema.
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5 – Pânico 3 (2000)
Raridade no gênero de terror, a franquia Pânico é muito consistente em qualidade, com seis filmes bastante competentes. Mesmo assim, Pânico 3 tende a ser mal visto pelos fãs por ser o primeiro da saga sem o roteiro de Kevin Williamson.
Ainda assim, é cheio de personalidade e muito divertido ao exagerar a metalinguagem da franquia, com a trama ambientada nos bastidores de Stab, a versão fictícia de Pânico. Dessa forma, o longa parece a “carta de repulsa” do diretor Wes Craven para Hollywood, cheia de farpas para estúdios e com indiretas até para Harvey Weinstein, produtor que, décadas depois, foi escancarado como um abusador em série.
Além do humor ácido e ótimas cenas de perseguição, vale pelo elenco de peso que só melhora com a chegada de Patrick Dempsey (Grey’s Anatomy) como par romântico de Sidney Prescott (Neve Campbell), Parker Posey (Beau Tem Medo) como a memorável Jennifer Jolie, que interpreta a versão fictícia de Gale Weathers (Courtney Cox), e ainda a participação especial de Carrie Fisher, a eterna Princesa Leia de Star Wars.
6 – Jason X (2001)
Na contramão de Pânico, Sexta-Feira 13 é uma franquia que nunca foi exatamente boa, ainda que muito amada e popular. Os filmes são repetitivos com seus vários jovens irritantes cheios de tesão, prontos para serem mortos de jeitos absurdos por Jason Vorhees.
Jason X apenas entende o valor de entretenimento da saga, colocando o matador em uma situação completamente surreal, com trama que imagina Jason tendo sido congelado e acordando no século 25. Como nada nunca muda, o maníaco oitentista passa a fazer vítimas a bordo de uma nave espacial futurista.
Não se engane: é galhofa pura — felizmente. O longa reconhece a tosquice para criar uma experiência divertida e sangrenta, com mortes inventivas (em especial, uma envolvendo hidrogênio líquido) e uma versão cromada do serial killer chamada de Uber Jason saindo na mão com uma andróide porradeira. Deixe seu senso crítico de lado por 1h30 e se delicie sem culpa com essa porcaria deliciosa.
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7 – Órfã 2: A Origem
Quando A Órfã chegou aos cinemas em 2009, causou certo burburinho pelo suspense de alto nível e pela performance da então-criança Isabelle Fuhrman, que interpretava uma adulta cheia de maldade que se passava por menina pequena para destruir uma família.
Órfã 2: A Origem é absurdo apenas pelo fato de tentar fazer um prólogo com a atriz original, só que filmado 13 anos depois. Fuhrman já era uma mulher de 25 anos que precisava voltar ao papel de uma mulher adulta se passando por criança pequena, e o resultado é simultaneamente brega e maravilhoso.
A trama acompanha a matadora Esther praticando o seu golpe em uma família desavisada, que acredita que a garota é sua filha desaparecida. O problema é que talvez a pequena serial killer esteja entrando em um pesadelo sem nem saber.
É uma inversão muito satisfatória e cheia de surpresas, que vale pela estranheza de ver Isabelle Fuhrman tentando se passar como criança e por Julia Stiles (10 Coisas Que Eu Odeio em Você) roubando a cena em um papel muito diferente dos que costuma fazer.
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8 – A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos (1987)
Com o destino da maioria das franquias de slasher, A Hora do Pesadelo começou com um filme excelente e foi se tornando cada vez mais ridícula. Mesmo estando no meio dessa transição, Os Guerreiros dos Sonhos merece ser resgatado.
A trama é ambientada em um hospital psiquiátrico onde vários jovens têm pesadelos envolvendo a mesma figura: um homem desfigurado conhecido como Freddy Krueger. Com a ajuda de Nancy Thompson (Heather Langenkamp), sobrevivente do maníaco paranormal, o grupo tenta aprender a canalizar seus poderes para enfrentar Krueger em seu próprio domínio.
Com pegada aventuresca, o filme é divertido com um elenco carismático (que inclui até os jovens Laurence Fishburne e Patricia Arquette!), boas mortes e um Freddy Krueger que está no ponto perfeito entre ameaçador e fanfarrão.
De quebra, vale a menção que o longa é a principal influência para produções como Os Novos Mutantes e O Clube da Meia-Noite, que também traz Heather Langenkamp no elenco.
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9 – Slumber Party: O Massacre II (1987)
Com todos os filmes dirigidos e estrelados por cineastas mulheres, uma raridade dentre os slashers, a franquia Slumber Party Massacre conquista ao trazer perspectiva feminina ao subgênero. O primeiro, de 1982, tem um maníaco genuinamente medonho. Já o segundo merece uma chance por ser surrealista e charmoso em partes iguais.
A trama acompanha um grupo de mulheres que tiram férias no interior, mas cujo descanso é interrompido por um serial killer. A diferença aqui é que o assassino é um rockeiro sobrenatural que ataca suas vítimas com um híbrido de guitarra e furadeira gigante.
O filme conduz essa premissa ridícula em algo muito melhor do que deveria ser, soando quase como um filho perdido entre A Hora do Pesadelo e Twin Peaks, perfeito para quem gosta de atmosfera surreal sem abrir mão da fórmula confortável de um slasher.
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10 – Halloween Ends (2022)
Esse talvez seja o item mais polêmico da lista por se tratar de uma ferida recente. Muita gente detestou a trilogia de Halloween por David Gordon Green, cineasta que perdeu ainda mais simpatia pelo terrível O Exorcista: O Devoto. Ainda assim, Halloween Ends merece uma segunda chance honesta, fora do contexto da conclusão de uma trilogia.
Pense em Ends como uma sequência direta ao clássico de 1978, ignorando o reboot de 2018 e a sanguinolência de Halloween Kills (2021). O resultado é um conto muito mais eficiente sobre violência cíclica e as consequências a longo prazo do trauma, manifestado perfeitamente em uma Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) que tenta seguir em frente, mas constantemente se vê atormentada pelo passado trágico.
O filme apresenta romance e horror que vão muito além de Laurie e Michael Myers, ao mesmo tempo que não descarta a importância da turbulenta rivalidade entre os dois e o impacto causado na pequena cidade de Haddonfield. Ame ou odeie, Halloween Ends é o capítulo mais original e ousado da trilogia. Além disso, é o 13º título de uma franquia recorrente desde 1978. É hora de aceitá-lo como um esforço válido.
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