Não é preciso muito esforço para entender o atrativo de O Protetor: Capítulo Final. O filme promete fechar a trilogia com um adeus a Robert McCall e, consequentemente, ao ator Denzel Washington. Uma grande responsabilidade que acabou não pressionando os realizadores, que ficam na zona de conforto em um longa satisfatório, mas pouco inspirado.
O terceiro filme segue a tônica da franquia, que deu nova vida a uma série de TV da década de 1980, e é guiado pela honestidade. A trama mostra McCall curtindo uns dias de folga na Itália após a conclusão de mais uma missão sangrenta. Porém, a calmaria é interrompida pelos atos de uma família criminosa local. Sendo um longa de ação, você sabe exatamente o que vem a seguir. E a produção está tranquila com isso.
Escrito a seis mãos, o roteiro de O Protetor: Capítulo Final se sente confortável em não reinventar a roda e contar uma história tão comum no cinema de ação. A estrutura da premissa “matador volta à violência a contragosto” é seguida quase à risca, sem muita novidade. Por outro lado, o trio de escritores mirou em preencher essa fórmula com uma perspectiva que honra a grande estrela da saga.
Perto de completar 70 anos, Denzel Washington não dispõe do mesmo vigor físico que já possuiu. Com isso em primeiro plano, o texto e a direção de Antoine Fuqua (Dia de Treinamento) se debruçam no fato dessa ser a história de um homem na terceira idade. Até porque a capacidade física pode não ser a mesma, mas o talento e o carisma do astro em nada se perderam com o tempo.
A aposentadoria de McCall, combinada com as limitações físicas do ator, dão um frescor em relação aos heróis de ação que costumamos ver nas telas de Hollywood. Ainda que o conceito não seja inédito, ele molda a produção, que tem como protagonista um homem que caminha pela cidade de bengala enquanto faz amizade com o peixeiro, o médico e as senhorinhas que alimentam aves pela cidade.
Chega a ser curioso como a produção é eficaz em trazer paz e contemplação, algo que não se espera de um filme de ação, mas que se mostra fundamental para que o público se conecte ao novo momento de Robert McCall. Sentimentos que a direção atinge em cheio enquanto passeia de forma apaixonada pelas ruas da Sicília em um retrato tão apaixonado que certamente vai atrair mais turistas do que qualquer peça publicitária.
O problema é que esses novos ingredientes de O Protetor: Capítulo Final não atingem todo o potencial. O ritmo da produção é inconstante e atinge até mesmo a ação, que acaba prejudicada, mesmo sendo o foco principal. Ainda que a pancadaria seja bem executada, a tensão, que fatalmente leva nosso herói a agir, é mal construída, cozinhada em um banho-maria que não convence e ainda evidencia a falta de criatividade do texto.
Uma questão que não é contornada nem mesmo pela trama paralela de uma investigação da CIA a respeito de terrorismo internacional. Tratada como uma forma de ligar Robert aos velhos dias como agente do governo, mas que pouco acrescentam e surgem mais para agradar os fãs dos filmes anteriores.
Esse obstáculo causa danos colaterais, como na participação de Dakota Fanning. Se o reencontro da atriz com Denzel Washington quase 20 anos após Chamas da Vingança (2004) é um chamariz por si só, a dinâmica entre eles é outro elemento que fica aquém do próprio potencial.
Por um lado, a interação desconfiada dos dois é muito cativante. É fácil se perder nos diálogos marcados por dúvidas e frases de efeito, e muito graças às performances da dupla. Por outro, a relação é engessada e não se desenvolve para além desse vai-e-vem desconfiado que se resolve de uma forma tão simplória que precisa recorrer à nostalgia dos fãs para funcionar completamente.
Essas são questões que roubam do Capítulo Final o sabor de grand finale que O Protetor merecia. Por outro lado, a produção é bem sucedida ao proporcionar o que o público realmente busca na franquia: ação. Apesar de não contar com uma preparação adequada, a pancadaria não deixa a desejar.
Com uma introdução que dá um gostinho dos dotes destrutivos de Robert McCall, o longa promete colocar Denzel Washington para suar na despedida. Esse compromisso é cumprido ao longo da produção, que tem sequências de pancadaria que fazem jus ao talento de seu protagonista. A postura firme, os olhares ameaçadores e a capacidade de metralhar frases de efeito como se fosse natural fazem valer a saideira.
É sempre arriscado cravar que um filme prometido como o final de uma saga será, de fato, o fim. Porém, se for o caso, O Protetor: Capítulo Final encerra a franquia The Equalizer nos cinemas de forma morna, mas adequada. Aos fãs, fica a chance de dar adeus a mais um dos grandes personagens da carreira de um dos grandes astros de Hollywood. Aos espectadores casuais, um filme de ação que se contenta em ser exatamente o que parece.