Assassin’s Creed Mirage pegou todos de surpresa assim que foi anunciado, por apostar em ideias que vão de encontro com a fórmula que a saga dos assassinos adotou nos últimos anos. Em vez de quantidade, elementos de RPG e ambientação inédita, o jogo aparece com a premissa de voltar às raízes de Assassin’s Creed, focar em furtividade e apostar em um escopo mais enxuto.

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Em uma franquia que teve 12 jogos principais em um período de 13 anos (ou seja, muitos chegaram um ano após o outro), a proposta de dar alguns passos para trás, em rumo ao passado e a uma ideia mais despretensiosa, pareceu bem-vinda aos fãs de longa data.

Desta maneira, Mirage é uma tentativa da Ubisoft em retomar o fôlego da saga com um toque saudosista — e que deu certo! O jogo é o capítulo mais cativante de Assassin’s Creed em anos, que chega para provar como, às vezes, menos é mais.

Retorno às sombras

Alamut, a icônica fortaleza da Ordem dos Assassinos, é importantíssima para a trama e dá um toque bem nostálgico ao jogo (Imagem: Ubisoft/Captura de tela)

Assassin’s Creed Mirage retorna ao Oriente Médio (que serviu de ambientação para o primeiro jogo da franquia) e é ambientado em Bagdá, capital do Iraque. A história é protagonizada por Basim (originalmente introduzido em Valhalla) e acompanha sua jornada de se tornar um membro dos Ocultos, o precursor da Ordem dos Assassinos.

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A trama de Mirage gira em torno principalmente de intrigas políticas e sociais, em que Basim precisa desvendar os segredos da Ordem, organização que controla Bagdá. Assim, o objetivo é descobrir a identidade dos líderes do grupo e assassiná-los um por um, enquanto o protagonista também lida com alguns demônios internos.

A narrativa é fechadinha e direta ao ponto, entregando o arco de origem de Basim, nem mais nem menos — e é difícil não sentir uma boa inspiração na trilogia de Ezio nesse sentido. Apesar da história ser simples e concisa, a progressão é não linear na maior parte do tempo, e o jogador é livre para escolher a ordem das missões. Então você dita o ritmo do jogo, alternando entre a trama principal e as escapulidas para o mundo aberto.

Existe um contexto para a visita ao passado de Basim, mas Mirage opta por ignorar o Animus por completo, algo inédito até então na franquia (Imagem: Ubisoft/Captura de tela)

Basim é um novato dos Ocultos e, por isso, a jogabilidade de combate é propositalmente simples, com o foco caindo em peso na furtividade e no parkour — os pontos fortes do protagonista, uma vez que, antes de entrar para o grupo, ele era um ladrão nas ruas de Bagdá. Assim, Mirage é inteligente dentro da proposta e faz jogabilidade e gameplay conversarem logo de cara.

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Há ataque rápido, ataque pesado, bloqueio e esquiva para os confrontos diretos, enquanto a furtividade tem várias mecânicas e recursos à disposição — além de ser incentivada pela fluidez e agilidade da movimentação de Basim e até pelo level design com muitos esconderijos e locais para se “camuflar”.

Agir nas sombras significa lidar e combinar mecânicas e ferramentas de abates silenciosos, e há opções como facas arremessáveis, bombas de fumaça, dardos tranquilizantes e criadores de ruídos. Isso faz o jogo voltar ao DNA lá do início de Assassin’s Creed, em que é impossível não se divertir com as velhas táticas envolvendo assobios, arbustos, bolos de feno e uso do ambiente ao seu favor.

Curiosamente, o jogo também apresenta uma mecânica que, apesar de ser inédita, tem um toque nostálgico: o Foco Assassino. Trata-se de uma habilidade especial para encadear múltiplos abates silenciosos em poucos segundos que, além de extremamente útil, é igualmente estilosa.

A abordagem de ser furtivo e silencioso ainda vai além em Mirage. Nem sempre a resposta será apenas assassinar os inimigos, mas encontrar maneiras de distraí-los, seja usando ferramentas, contratando mercenários ou se “camuflando” no meio da multidão, para alcançar o objetivo da missão se esgueirando por eles.

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As tarefas de bisbilhotar conversas alheias e seguir o rasto de inimigos sem ser visto estão de volta — e mais divertidas do que nunca (Imagem: Ubisoft/Captura de tela)

O mapa de Badgá é razoável em tamanho, sendo um pouco menor do que a Paris de Assassin’s Creed Unity. O que acontece é que a maior parte do conteúdo está concentrada na cidade, o que fez os arredores, que consistem em desertos e dunas, ficarem praticamente vazios — algo que até faz sentido historicamente, mas dá uma sensação esquisita ao explorar.

Seja como for, o ponto positivo é que tanto o tamanho quanto a quantidade de conteúdo foram condensados em Mirage, então o 100%, por exemplo, realmente pode chegar com uma duração mais enxuta entre 15 e 20 horas.

Apesar de ser um sistema simples, as roupas, espadas, adagas e ferramentas podem ser melhoradas, o que intensifica a jogabilidade ao decorrer do jogo (Imagem: Ubisoft/Captura de tela)

Bagdá ainda transmite uma sensação de estar viva, graças a detalhes nos NPCs que são pequenos, mas fazem diferença na prática. Isso porque os cidadãos reagem a certas ações do jogador. Se você roubar alguém, por exemplo, e permanecer naquele local, verá que ele logo sente a falta da carteira e gritará por um guarda na mesma hora.

Se Basim for visto por um cidadão ao assassinar ou roubar, um nível de notoriedade será preenchido e colocará um preço na cabeça do protagonista. Se o nível ainda estiver alto, os próprios civis vão reconhecê-lo nas ruas e dedurar sua localização aos berros. Uma mecânica simples, mas eficaz ao mostrar que a cidade está viva.

Mirage, no entanto, não foge da repetitividade do conteúdo secundário. Há fragmentos, baús, tesouros, artefatos e códices de locais histórias espalhados pelo mapa para coleta, além de Contratos que normalmente envolvem a infiltração em bases inimigas. O maior diferencial fica para os Contos de Bagdá, que são missões curtinhas e apresentam uma narrativa paralela. A parte negativa, no entanto, é que há pouquíssimos desses contos.

Se Mirage ainda não estiver nostálgico o suficiente para você, basta acionar o “filtro clássico”, inspirado no primeiro Assassin’s Creed (Imagem: Ubisoft/Captura de tela)

A Lâmina Oculta de Assassin’s Creed Mirage, no entanto, não está tão afiada quanto poderia em termos de performance e gráficos. Logo no lançamento, o jogo terá dois modos: Taxa de Quadros, que prioriza 60 fps, e é o mais estável e polido; e Qualidade, focado em resolução, mas que teve travamentos e uma demora para estabilizar.

A direção de arte é belíssima, apresentando cenários com uma paleta de cores fortes e coloridas, tornando tudo chamativo. Mas há um descuido em detalhes de finalização e polimento. A textura de alguns elementos e a expressão de certos NPCs, por exemplo, oscilam com frequência — e não estão no mesmo nível de qualidade que Valhalla e Odyssey, títulos recentes da franquia. Bugs visuais e erros envolvendo uma mecânica de camuflagem também aconteceram, mas nada tão grave ou que tenha afetado a progressão.

Tais situações não foram algo que estragaram a experiência como um todo, mas podem decepcionar os fãs que esperavam por uma mistura perfeita entre o novo e o clássico, uma vez que Mirage parece ter se inspirado tanto nos jogos clássicos de Assassin’s Creed que até deixou isso afetar o visual. Brincadeiras à parte, a sensação é que os desenvolvedores poderiam ter tomado um cuidado maior com o polimento.

Mirage tem diferentes níveis de dificuldade, tanto para agradar os fãs que querem focar na história quanto aqueles que preferem um desafio (Imagem: Ubisoft/Captura de tela)

O jogo apresenta localização completa em português brasileiro, o que inclui texto e dublagem. O elenco de vozes é encabeçado por Cassius Romero, conhecido por dublar o Negan da série The Walking Dead, que interpreta Basim com uma atuação imponente. No entanto, os personagens secundários, principalmente os NPCs, têm vozes um tanto robóticas que não transmitem muita emoção.

Curiosamente, senti que a experiência de Mirage fica mais rica com as vozes em português, porque realça as falas dos cidadãos nas ruas de Bagdá. Ao explorar a cidade, é possível prestar atenção nos berros dos comerciantes, avisos dos fofoqueiros e conversas paralelas das pessoas, que envolvem intrigas amorosas, curas milagrosas de doenças e por aí vai. Afinal, quem não ama uma fofoca, não é?

Mais do que uma miragem

Mirage cumpre a tarefa de resgatar um DNA da franquia que parecia ter se perdido no tempo, resultando uma experiência deliciosamente nostálgica, viciante e divertida que é bem respeitosa ao prestar uma homenagem ao início de Assassin’s Creed.

Há mecânicas, personagens, missões, cenários e até troféus (ou conquistas) que reverenciam o passado da saga, e são belos easter eggs para os fãs de longa data. A simples cena de Alamut com vários aprendizes, por exemplo, é uma das melhores sequências do jogo pela nostalgia — afinal, a visão de vários assassinos encapuzados não era vista há um bom tempo nos jogos mais recentes da franquia.

A exploração em Bagdá tem montarias, como cavalos ou até camelos decorados, se você quiser mergulhar de cabeça na temática árabe (Imagem: Ubisoft/Captura de tela)

Mirage também prova que a intenção de dar um passo à frente e progredir em uma fórmula nem sempre é ampliar o escopo. Às vezes, tudo o que os jogadores querem é uma experiência concisa, simples e divertida, como a história de Basim — obrigatória para todo fã de Assassin’s Creed, principalmente aqueles que decidiram dar uma pausa na franquia no meio do caminho.


Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Ubisoft.

Assassin’s Creed Mirage será lançado no dia 5 de outubro para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC.

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