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Jogos Mortais X diverte em retorno marcado por velhos vícios e virtudes | Crítica

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Jogos Mortais já foi um titã entre as franquias de terror, com grandes bilheterias, atrações em parques, videogames e mais. Se hoje isso soa incomum, é porque os últimos filmes da série ficaram marcados por um declínio cada vez maior de qualidade, que espantou o público. Não ajuda que, desde que chegou ao suposto fim em Jogos Mortais – O Final (2010), a saga foi exumada em novos capítulos que passaram longe de reviver seus bons dias. Um desafio que Jogos Mortais X supera em partes.

Em busca de trazer os velhos fãs de volta, o décimo filme se passa entre Jogos Mortais (2004) e Jogos Mortais 2 (2005), justamente os capítulos mais queridos. Porém, de olho também numa nova audiência, a produção conta uma história que se sustenta sozinha. Ela acompanha John Kramer (Tobin Bell) em busca de uma cura para o câncer que trata. Sem entrar em muitos detalhes, essa jornada o coloca em contato com pessoas que se tornam as novas vítimas de seu álter-ego, Jigsaw.

O equilíbrio entre elementos clássicos e novos é só o primeiro dos contrastes de Jogos Mortais X, uma produção marcada pela dualidade. Afinal de contas, cada acerto da produção carrega consigo um problema que a impede de se tornar o retorno triunfal que realizadores e fãs esperavam.

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A começar pelo mais óbvio: o foco em Jigsaw. Dessa vez, o assassino deixa as sombras e domina os holofotes de toda a produção. Há uma espécie de estudo em como esse gênio do mal raciocina e trabalha para além das armadilhas prontas. Somado a um componente emocional quase inédito em 10 filmes, ele ganha novas camadas além de sua característica filosófica extrema envolvida na apatia moribunda.

Essa abordagem aproveita o enorme talento de Tobin Bell, que, com tantos filmes nas costas, ainda mostra novas facetas de John Kramer sem trair o que construiu com o personagem até aqui. Um ganho e tanto, já que ele se tornou o rosto da franquia, mesmo concorrendo com outros elementos muito marcantes. O problema é que o roteiro nunca atinge todo o potencial de focar em Kramer ao raramente se aprofundar em algo verdadeiramente novo.

O texto de Josh Stolberg e Pete Goldfinger é simplório e, em sua maior parte, meramente repete o que já foi estabelecido sobre a filosofia e a motivação desse personagem em produções anteriores. Seja por falta de criatividade ou medo de trair o que já foi estabelecido, é fato que isso se torna engessado. Um problema, considerando que essa jornada de Jigsaw não divide atenções com outros núcleos, como anteriormente.

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Desde o primeiro, todos os Jogos Mortais se dividiam entre o grande jogo sádico em andamento e a corrida dos policiais contra o tempo para resgatar as vítimas. Sem o segundo, o longa não encontrou saídas criativas o suficiente para manter a parte inicial, que se torna muito previsível. Um tédio não só para velhos fãs, que conhecem o desfecho de Jigsaw nos anteriores, mas também para novatos que são pouco desafiados – isso sem contar que o material de divulgação revela boa parte das surpresas.

A falta de inovação também atinge outro ponto crucial da saga: a mitologia. Muitos dos elementos icônicos de Jogos Mortais são jogados no décimo filme quase como paradas obrigatórias. Desde os perseguidores com máscaras de porco, as habituais reviravoltas e até a presença do ventríloquo Billy, o que reforça algumas das razões do desgaste dessa decalogia.

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E, antes que o caro leitor reclame, sei que ninguém assiste a Jogos Mortais por estudos de personagem, dramas bem construídos ou pela reinvenção da roda. Porém, essas questões se tornam impossíveis de ignorar no que deveria ser o reinício da saga. Um problema que parece chegar ao fim quando o filme faz jus ao título e começa com os jogos. Mas, uma coisa por vez.

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Venha pelo jogo, fique pela sanguinolência

Jogos Mortais X tem algumas das melhores armadilhas da franquia. Os obstáculos fogem dos absurdos inescapáveis dos capítulos mais recentes e focam em máquinas tão simples quanto mortais. Veterano da saga, o diretor Kevin Greutert demonstra que amadureceu nesse quesito e filma cada nova sessão de tortura de forma impactante e com uma riqueza de detalhes sórdida.

Consciente de que a cacofonia visual que tomou conta das sequências é mais cansativa do que aflitiva, o cineasta – que também é editor do filme – varia na abordagem. Há armadilhas que chamam a atenção pelo gore, enquanto outras se dedicam a prolongar a agonia e, as melhores, ainda garantem um desfecho tão chocante que algumas delas podem tranquilamente assombrar o espectador por um tempo.

Porém, como dito anteriormente, até os pontos altos da produção carregam problemas. A chegada das armadilhas não corrige o ritmo lento da narrativa. Os momentos de horror fazem valer o ingresso, mas a potência é diluída pela escolha de intercalar as armadilhas com uma grande dose de falatórios que não querem dizer nada e parecem colocados ali para passar o tempo.

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E não ajuda que parte do tempo entre os jogos é focado em Jigsaw e cúmplice falando sobre os próximos passos do jogo. Apesar de nunca entrarem em detalhes ao ponto de ditar o que acontece, a sensação que fica é a de ver um mágico explicando como acontecerá o truque que está prestes a fazer.

Nessa montanha-russa de altos e baixos Jogos Mortais X não é o renascimento que resgata o impactante início da franquia, mas também não é entediante e frustrante como seus pontos mais baixos. Um meio termo capaz de arrancar tanto simpatia de quem se satisfaz com as gincanas sangrentas, quanto o aborrecimento de quem espera uma substância que, a bem da verdade, nunca foi a da saga. Quase 20 anos e dez filmes depois, as regras estão mais do que claras e vai de você entrar para a brincadeira ou decretar o fim de jogo.

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