Ahsoka estreou com uma dobradinha de episódios que se saíram bem na delicada missão de dar início a uma nova série de Star Wars. Afinal de contas, a produção precisou equilibrar a aventura inédita com a jornada de personagens que existiam em animações e contavam com uma longa história que o novo público talvez não tivesse acompanhado.

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Após o início tirar essa questão de letra ao ser acessível, sem trair a trajetória anterior de seus protagonistas, restava saber como seria a evolução dessa história. Para o terceiro episódio, a escolha foi fortalecer as bases em uma narrativa econômica, mas vibrante, graças à ação.

[A partir daqui, spoilers do terceiro episódio de Ahsoka]

Chamada “Hora de Voar”, a Parte 3 pode até parecer uma espécie de barriga, à primeira vista, ao não fazer grandes avanços na nova missão de Ahsoka Tano (Rosario Dawson) e companhia. Porém, o capítulo é um respiro bem-vindo focado em desenvolver os personagens e a ligação deles com o público.

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O episódio começa com uma sessão de treinamento de Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo), a mandaloriana que voltou a ser aprendiz de Ahsoka. A cena de abertura expõe os dilemas da jovem, que quer se tornar uma guerreira Jedi mesmo sem dispor de uma forte conexão natural com a Força. Sua mestra, por sua vez, a incentiva a se abrir à essa energia para melhorar seus dons.

Treinamentos são parte importante de qualquer história do universo Star Wars, e o de Sabine se torna um dos pontos altos do episódio graças à direção de Steph Green, que retorna após o segundo capítulo. A diretora traduz visualmente não apenas as dificuldades da aprendiz, como os dons da mestra, tornando divertido um simples combate simulado.

No treinamento, Ahsoka usa métodos que são tão antigos, quanto simples: combate cego, para que Sabine “enxergue” através da Força, e o movimento de objetos comuns, como um copo. Ferramentas habituais para mostrar a falta de poder da personagem, cuja evolução deve ser um dos focos da história. Especialmente porque o roteiro já deixou bem claro que um dos temas da produção é a superação através do esforço.

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Ahsoka treina Sabine aos moldes Jedi (LucasFilm/Reprodução)

Esse tópico fica ainda mais claro graças à participação de Huyang, droide que guiava aprendizes de Jedi na época da República (ou seja, durante os Episódios I, II e III). Representando as crenças antigas graças à sua programação, ele não cansa de jogar na cara de Sabine – e Ahsoka – que a jovem não passaria nem perto de ser escolhida para ser treinada por ter pouca aptidão à Força.

Uma tese que dá a deixa para Ahsoka estabelecer sua filosofia, de que foi esse tipo de arrogância que causou a queda da Ordem Jedi. Para ela, esses velhos dogmas pouco importam, pois a dedicação e a vontade de fazer o bem são mais vitais para um verdadeiro Jedi do que nascer com dons naturais.

Reflexo da jornada da própria Ahsoka – que deixou os Jedi na animação Clone Wars após perder a fé na Ordem –, essa tese propõe uma espécie de espelho à jornada do grande vilão da saga. Afinal de contas, o que fez Anakin Skywalker chamar a atenção de um Mestre Jedi foi seu alto nível de conexão com a Força, mas, com todo esse poder, ele entrou para a história por causar a queda dos guerreiros. Dessa forma, parece apropriado que a nova heroína seja uma espécie de antítese disso e conquiste seu espaço por outros quesitos – como a vontade de tornar a galáxia um lugar melhor.

Antes que esse paralelo soe exagerado, vale notar que o próprio Huyang diz que Ahsoka vem de “uma longa linhagem de Jedi não tradicionais”, um sutil lembrete de que o mestre dela foi o próprio Anakin.

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Esse debate e o treinamento acontecem com a missão em andamento, já que Ahsoka, Sabine e Huyang continuam seguindo os rastros de Morgan Elsbeth (Diana Lee Inosanto), que segue com o plano para trazer o Grão Almirante Thrawn de volta. O problema é que nossas heroínas estão sozinhas nessa.

Huyang, Sabine e Ahsoka pilotando uma nave em cena de Ahsoka (LucasFilm/Reprodução)
Um dróide, uma mandaloriana e uma ex-Jedi (LucasFilm/Reprodução)

Hera versus a burocracia

Outro foco do episódio foi Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead), general que pediu ajuda à Nova República na missão para evitar o retorno de Thrawn. Ela pede reforços aos senadores, que fazem pouco caso da missão por dois fatores: o primeiro é achar que a lealdade de ex-Imperiais ao antigo governo é um exagero, e o segundo é acreditar que a verdadeira motivação de Syndulla é pessoal.

Isso porque Thrawn desapareceu durante um combate com Ezra Bridger – conforme visto no final da animação Star Wars: Rebels. Portanto, os senadores acreditam que ela usa a ameaça do Grão Almirante como desculpa para ir atrás de um velho amigo.

A única que parece dar ouvidos a Hera é a chanceler Mon Mothma (Genevieve O’Reilly), que segue representando os raros políticos preocupados dessa galáxia tão, tão distante. Breve, a participação da personagem mostra que ela segue ativa na vida política após lutar contra o Império Galáctico – conforme mostrado em Andor, Rebels e na trilogia clássica dos cinemas.

Montagem com fotos de Mon Mothma e Hera Syndulla em cena de Ahsoka (LucasFilm/Reprodução)
Mon Mothma e Hera Syndulla, duas faces de uma Nova República (LucasFilm/Reprodução)

Nesse ponto, Hera se torna uma ótima representante do público ao se posicionar contra essa descrença na ameaça que está por vir. Há certa satisfação quando ela joga na cara a covardia de um senador ou quão enganado eles estão em menosprezar a ideia de um retorno do Império. Assim como a terceira temporada de The Mandalorian, esse segmento serviu para explicar um pouco como a Nova República foi capaz de deixar a Primeira Ordem (os vilões dos Episódios VII, VIII e IX) surgir debaixo de seus narizes.

Aos fãs de Rebels, esse segmento serviu também pelo fan service de rever Jacen Syndulla, o filho de Hera com Kanan Jarrus, que quer seguir os passos do pai como Jedi. Considerando o destino trágico do amado, é fácil entender por que a general não demonstrou entusiasmo com a ideia do filho seguir esse caminho.

Batalha naval espacial

De volta a Ahsoka e Sabine, o episódio mergulha de vez na ação. Seguindo uma trilha que leva a Morgan, elas caem numa arapuca que culmina em um combate de naves contra Shin Hati (Ivanna Sakhno) e Marrok. Uma sequência de ação que ganha um tempero a mais quando Lady Tano decide elevar o patamar.

Com a nave avariada após serem atingidas pelos vilões, as heroínas precisam de uma distração. Enquanto Sabine tenta religar tudo, Ahsoka vai para o lado de fora da nave, em pleno espaço sideral, enfrentar naves inimigas com seus dois Sabres de Luz. O resultado é uma sequência empolgante em que a guerreira não apenas reflete disparos inimigos, como parte uma das naves ao meio.

Ahsoka prestes a derrubar uma nave com seus Sabres de Luz (LucasFilm/Reprodução)
Ahsoka prestes a derrubar uma nave com seus Sabres de Luz (LucasFilm/Reprodução)

No fim, as heroínas escapam e pousam no planeta em que os vilões se preparam para colocar os planos para resgatar Thrawn em andamento. Para além do gancho óbvio de mostrar as forças do mal indo atrás do trio, os minutos finais deixaram no ar algumas pistas de como esse retorno deve acontecer.

A primeira é a nave de Morgan Elsbeth que, além de ser uma arma, é também um veículo capaz de atingir a velocidade necessária para alcançar outra galáxia – onde Thrawn estaria. A outra é a aparição dos Purrgil, uma espécie de baleia espacial com tentáculos, que dá as caras durante a briga. Conforme Sabine lembra, essas criaturas estavam na última vez em que elas viram Ezra. Isso porque o próprio Jedi convocou os Purrgil e usou a enorme velocidade das criaturas para transportar ele e seu inimigo para uma outra galáxia.

Foto de purrgils, as "baleias espaciais" do universo Star Wars (Lucasfilm/Reprodução)
Purrgils, as “baleias espaciais” do universo Star Wars (Lucasfilm/Reprodução)

Com isso, a chegada de Thrawn está cada vez mais próxima e Ahsoka parece pouco interessada em esconder essa virada. A série parece muito mais focada em espalhar dúvidas de quais serão as consequências dessa volta, tanto em nível macro para a Nova República quanto para as protagonistas, que têm razões muito pessoais para rumar para uma outra galáxia, ainda mais distante.

Ahsoka está disponível para streaming no Disney+. A série ganha episódios inéditos às terças-feiras.

Material Complementar

Boa parte de Ahsoka incorpora elementos de Star Wars: Rebels, animação que originou personagens como Sabine, Hera e Ezra. Sabendo que muitos fãs da saga podem não ter assistido à série animada, nossos recaps serão acompanhados por dicas de episódios de Rebels que podem complementar a experiência de Ahsoka.

A recomendação da vez é “O Chamado”, episódio 15 da segunda temporada de Rebels. Ele apresenta os Purrgils, as “baleias espaciais” que são fundamentais para o final da animação e que prometem voltar nos próximos capítulos de Ahsoka.

Ezra Bridger e um purrgil em cena de Star Wars: Rebels (Lucasfilm/Reprodução)
Ezra Bridger e um purrgil em cena de Star Wars: Rebels (Lucasfilm/Reprodução)

Assim como a série live-action, Star Wars: Rebels está disponível para streaming no Disney+.