É difícil negar a maré de bons lançamentos da Capcom desde Resident Evil VII. Um deslize aqui, outro ali, uma coletânea de jogos antigos a mais que o necessário, mas ainda sim, bons títulos. Eis que, no mesmo ano em que a empresa lança Resident Evil 4 Remake e Street Fighter 6, temos também o inesperado Exoprimal.

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O título foi visto quase como uma piada desde o primeiro trailer, que mostrava dinossauros caindo do céu como uma chuva de lagartos, enquanto soldados pilotando mechas estilosos os enfrentavam com metralhadoras, espadas samurais e escudos de energia. Exoprimal apresentava uma ideia simples de jogo cooperativo (e competitivo) para cinco pessoas, que precisavam enfrentar hordas de dinossauros e completar os objetivos antes do time adversário para prosperar no game.

E, de fato, mesmo depois de duas fases Beta de testes para a coleta de opiniões, Exoprimal não engana ninguém ou vai além do que foi mostrado até então.

Praticamente um meme: dinossauros, robôs, viagens no tempo e uma IA (Divulgação)

O título apresenta um conceito um tanto quanto “free-to-play” de jogo, com um sistema de evolução que vai destravando novos itens para os jogadores ao longo da temporada (há uma versão paga da temporada que precisa ser adquirida separadamente), apresentando unicamente um formato multiplayer de diversão, sem a opção para um jogador solo – no caso de não existirem mais jogadores, o game organiza o time do jogador com mechas controlados por inteligência artificial.

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Não fosse o fato de estar disponível gratuitamente no Gamepass, o serviço de assinatura do Xbox (seja no console ou PC), talvez Exoprimal não tivesse alcançado um número suficiente de jogadores para entregar uma experiência – pasmem – um tanto quanto divertida para quem realmente quis investir algumas horas do seu tempo nele.

Não é que o jogo seja ruim, ele consegue entregar o feijão com arroz do gênero como poucos, mas não se importa de ir além. Exoprimal funciona bem com as poucas ferramentas que tem. E, aos poucos, vai cativando o coração de cada um através de um loop infinito de desafios, em um formato de combate simples, rápido e que deixa o jogador vivo o suficiente para se sentir útil e ajudar o seu time. Exoprimal é divertido, mas só acredita quem joga.

Viagem no tempo, dinossauros e uma inteligência artificial do mal

Imagem de Exoprimal
Cada um desses ícones é uma peça da (confusa) história de Exoprimal. Alguém liga? (Reprodução)

O tanto que Exoprimal é simples no gameplay, ele complica a vida do jogador tentando contar os detalhes da sua história. No ano de 2040, fendas interdimensionais começaram a aparecer pelo planeta, e delas saíam uma infinidade de dinossauros e “neossauros”, versões alteradas de dinossauros graças aos compostos Hi-Xol e Lo-Xol, simplesmente porque sim. A humanidade passou a enfrentá-los com suas recém-criadas novas armas, denominadas Exosuits.

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Em 2043 um grupo de caçadores de fendas chamados de Hammerheads foi transportado para a ilha de Bikitoa, dentro de um vortex temporal que os prendeu no ano de 2040, num constante “jogo” que visa o aperfeiçoamento das habilidades das Exosuits (acho), criado por uma inteligência artificial chamada Leviathan.

O jogador assume o controle de Ace, o novo piloto da equipe, e precisa vencer as batalhas em que é inserido à contragosto para encontrar uma saída desse mundo paralelo, além de descobrir a verdade sobre esses “jogos doentios” (os personagens são bem dramáticos). Daí em diante a história é contada através de documentos secretos, conversas em áudio e algumas poucas cenas em CGI, cujo seu personagem é mudo e pouco interage com o resto da equipe.

É um inferno acompanhar toda a trama da forma que é apresentada. Os longos documentos de informação tiram qualquer tipo de conexão emocional que poderíamos ter com os demais integrantes dos Hammerheads. E esses pedaços de história são colocados no nosso caminho sem o menor aviso prévio. De vez em quando a gente só quer jogar mais uma vez para tirar o sal da derrota, mas somos obrigados a assistir algum tipo de cutscene. Difícil, viu…

Tipo Overwatch, só que mais legal

Imagem de Exoprimal
Jogar de Tank é proteger seus amigos com um escudo laser dos dinossauros assassinos (Reprodução)

Apesar de contar com uma história digna de um single player (modo para um jogador), Exoprimal explora o combate entre times no formato 100% online. Mesmo quando precisamos jogar algum tipo de missão com a intromissão de NPCs, o game trata a ação como apenas mais uma disputa entre jogadores, inserindo cutscenes em tempo real que não podem ser puladas (para não atrapalhar o matchmaking do jogo, imagino).

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No geral o game não possui tantas variações de gameplay quanto deveria, mas aos poucos os jogadores vão entendendo as nuances de cada modo de jogo e as partidas vão assumindo níveis de comprometimento diferenciados. São os detalhes  que podem levar o time à vitória.

As disputas sempre acontecem em times de cinco jogadores. Cada um deles precisa cumprir certos desafios contra a CPU (o chamado PVE). Ao final da etapa inicial, o último desafio é sortido: ele pode ser um PVE ou um PVP (jogador contra jogador). A mescla é bem vinda e ajuda os jogadores mais inexperientes a pegarem o jeito do game antes do combate contra adversários mais inteligentes (ou não).

Imagem de Exoprimal
Os NPCs contam a história do jogo sem atrapalhar o gameplay (Reprodução)

A formação dos times é importante, mas nem sempre garante um resultado proveitoso. No geral, as equipes contam com dois DPS (os que causam dano), dois Tanks (que garantem proteção com escudos ou armas de dano especial) e um suporte (os que ajudam a manter o time com vida). Mas nem sempre os times seguem o padrão esperado, já que o jogo não obriga nenhum tipo de formação específica.

Os confrontos acontecem nos mesmos mapas, mas de diferentes formas, como as partidas de Investigação que acontecem ao lado de um NPC. Há ainda perseguições de dinossauros fujões, eliminação de ameaças específicas, enfrentamento de hordas, coleta de dados (clássica defesa de territórios), Omega Charge (jogadores energizam um martelo enfrentando dinossauros e depois utilizam a sua energia para neutralizar certas fontes de energia), coleta de energia (coletar energia é mais importante que lutar contra os adversários) e a insana luta contra o Neo T-Rex, colocando 10 jogadores em modo cooperativo contra uma mesma ameaça.

O jogo esconde uma missão extra pós-game e, para alcançá-la, são necessárias mais de 50 partidas (você precisa completar a história principal). A missão especial de sobrevivência exige uma sinergia entre os jogadores, que precisam eliminar alvos específicos num tempo mínimo. Essa missão garante itens colecionáveis como emblemas e títulos, nada muito grandioso, mas vale pelo desafio.

Cada uma das Exosuits possui seu próprio nível e habilidades a serem destravadas até o nível 20. É imprescindível equipar as melhorias em cada uma das Exosuits para garantir algum tipo de vantagem dentro do jogo. Fora o nível de cada mecha, temos ainda os níveis de jogador e do passe de temporada.

O passe de temporada garante recompensas estéticas até que bem bonitas. Skins especiais para algumas Exosuits, emblemas, adesivos e emotes de reação (as famosas dancinhas estão inclusas). A Capcom ainda prometeu a entrega de Exosuits inspiradas em Street Fighter 6 para os jogadores que fizeram uso do segundo Beta Test aberto do jogo, mas até o momento da entrega desta crítica, eles ainda não tinham sido adicionados ao game.

Imagem de Exoprimal
A tela de vitória do time segue o mesmo padrão da encontrada em Overwatch (tem até MVP) – Reprodução

Combinando todas essas características, Exoprimal, ao contrário do que muitos devem pensar, é divertido. Garante algumas horas de grinding em partidas cooperativas que não estressam, possui mechas estilosos e não exige muita habilidade do jogador. Enjoa um pouco depois de algumas horas, mas sempre melhora quando a equipe sabe o que está fazendo. Podia ser gratuito para todas as plataformas (crossplay incluso, tá?), mas por enquanto apenas os usuários de Gamepass podem usufruir dessa vantagem.

Exoprimal está disponível para PC, PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series X/S.