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Volume 2 da 3ª temporada de The Witcher satisfaz, mas não justifica divisão | Crítica

A 3ª temporada de The Witcher não deveria ter sido dividida. Cortar a nova leva de episódios em duas metades foi uma decisão ruim da Netflix, que tentou prolongar a relevância da série e o adeus de Henry Cavill de forma artificial.

A chegada do Volume 2 enfatiza isso ao funcionar como um desfecho sólido, mas com impacto diluído pelo hiato forçado e pela insistência em criar um clima de despedida que mal dá as caras na narrativa.

Intriga no Continente

3ª temporada de The Witcher demonstra a enorme confiança da produção [Créditos: Divulgação]

Interrompida em um momento vital para o seriado, a trama retoma o Golpe de Thanned, evento responsável por redesenhar todas as alianças e conflitos desse universo para sempre. A briga de feiticeiros, apoiada pelos exércitos de nações de distintos interesses, é a culminação de uma temporada que trabalhou bem a tensão política e interpessoal em harmonia.

Assim como o ótimo capítulo 6, o sétimo episódio entrega cenas de batalha competentes e avanços importantes para todos os núcleos. Como um todo, a temporada parece mais comprometida em criar ação de qualidade com uma pitadinha de breguice em câmeras lentas e poses heróicas, que torna tudo mais saboroso.

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A batalha é caótica por dar desfecho a arcos de pelo menos quatro núcleos diferentes de personagem. Os Scoia’tael atacarem Aretuza à mando de Nilfgaard, ou então Cahir (Eamon Farren) decidir se entregar à Ciri (Freya Allan), são os frutos de todo o trabalho de desenvolvimento de personagem que a série se arriscou a fazer anteriormente, mesmo que isso pudesse diminuir o ritmo da trama.

Isso fica especialmente visível na personagem de Tissaia de Vries (MyAnna Buring). Figura importante dos livros de Andrzej Sapkowski, ela teve muito mais destaque na série quando a showrunner Lauren Hissrich optou por incrementar o passado de Yennefer (Anya Chalotra) na adaptação. O seriado dobra a importância que a personagem tinha nos livros, visto que o programa dedicou muito tempo para estabelecer quem é a poderosa feiticeira, seus ideais e sua relação com seus aprendizes.

Nos melhores momentos, a terceira temporada comprova a enorme confiança da produção no próprio estilo e personagens, desenvolvidos e aperfeiçoados ao longo dos anos anteriores em uma combinação única entre literatura barata, TV de médio orçamento e influência estética dos games da CD Projekt RED. O público pode amar ou odiar, mas The Witcher sabe bem o que quer ser.

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O mundo exterior

Apesar das várias melhorias na série, o maior problema de The Witcher está na forma que é administrada [Créditos: Divulgação]

Assim como na parte anterior, o Volume 2 deixa claro que o maior problema de The Witcher é tudo ao redor da série. A crítica do Volume 1 aqui no NerdBunker já destacava a incoerência da divisão dos episódios, mas ver que a história realmente não foi pensada para ser aproveitada com um mês de hiato só torna tudo mais decepcionante.

Em sua busca por manter relevância e assinantes, a Netflix tenta desesperadamente apostar em séries-evento. Há casos de sucesso, como Stranger Things 4 e La Casa de Papel, que tiveram conclusões bombásticas que justificavam a espera. Aqui, a prática atrapalhou The Witcher.

Após o Golpe de Thanned, a série retorna ao seu ritmo normal para estabelecer as várias mudanças em seu mundo. Com a promessa de guerra entre nações, tudo fica mais tenso para o trio principal, que terá uma longa jornada pela frente se quiserem sentir a mesma paz e felicidade que tinham no começo da temporada. O ritmo desacelera intencionalmente para que todos possam limpar seus ferimentos de batalha — literalmente, no caso de Geralt.

Em termos de trama, é sim empolgante ver que a série chegou ao ápice dos livros, e que agora seguirá para uma jornada digna de campanha de RPG enquanto o bruxo e seus aliados partem em busca da garota perdida. Mas como evento? A conclusão soa anticlimática por não justificar a interrupção gratuita de um mês entre dois ótimos episódios.

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Novamente, não é culpa da equipe do seriado, mas sim da plataforma que financia e distribui. The Witcher foi um sucesso inesperado para a Netflix, e desde então parece que o streaming não faz ideia do motivo. A urgência para aprovar derivados e para tentar transformar os episódios em eventos soa como desespero. A insistência em se despedir de Henry Cavill, também.

Para quem acompanha o universo ao redor do programa, é bastante curioso que a trama sequer faz alusão à vindoura substituição do ator por Liam Hemsworth (Jogos Vorazes). Normalmente não é o tipo de coisa reconhecido pelos personagens, mas o produtor executivo da série já deixou claro que haverá explicações para a mudança na narrativa. Não preparar o terreno para isso desde já soa como o engatilhar de uma arma que, futuramente, dará um belo tiro no pé do seriado.

É um problema que o fã termine de assistir os episódios tomado por certa ansiedade pelo futuro, visto que a terceira temporada é uma das melhores até então. É nela que a produção deixa claro que tem personalidade forte, interesse genuíno pelos personagens e dedicação em conciliar suas várias vontades próprias com os desejos dos fãs, como apresentar mais monstros e melhorar a qualidade das batalhas.

Como um todo, The Witcher só melhora a cada ano. É uma pena que a Netflix não reconheça isso e se preocupe apenas com o buzz e número de assinantes que a produção pode trazer.

Todas as três temporadas de The Witcher estão disponíveis no catálogo da Netflix. Não há previsão de estreia para o quarto ano.

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