Sequências inesperadas costumam dividir os fãs. Alguns têm uma percepção otimista e ficam empolgados com o que está por vir, enquanto outros permanecem receosos em mexer em algo que deu certo antes. Assim que foi anunciado, Oxenfree II: Lost Signals causou esse efeito na comunidade, uma vez que o primeiro jogo apresenta uma história bem concisa e “fechada”, e a sequência promete novos protagonistas e até outra ambientação dentro deste universo.
Seja como for, o aclamado indie Oxenfree está de volta em uma aventura ainda mais maluca, intrigante e levemente aterrorizante, que envolve fantasmas e ondas de rádio possuídas.
Com uma reciclagem de elementos, a sequência é uma experiência tão excêntrica e envolvente quanto seu antecessor, mas não sem algumas interferências e ruídos de sinal.
Rádio (quase) estável
Oxenfree II: Lost Signals é protagonizado por Riley, uma mulher de meia-idade que, no auge da maior crise existencial da sua vida, decide voltar para o local onde nasceu, uma ilha chamada Camena — que é vizinha da Ilha Edwards, onde o primeiro jogo é ambientado (o que não é mera coincidência).
Para isso, Riley aceita um trabalho que envolve enfrentar trilhas para colocar transmissores nas áreas mais altas de Camena, usando apenas um rádio como meio de comunicação e contando com a ajuda de um parceiro, um homem chamado Jacob.
O que ela não esperava, no entanto, é que a tarefa despertaria mistérios sobrenaturais e até fendas temporais ligadas à ilha vizinha.
Desenvolvido pelo estúdio Night School Studio, Oxenfree II é um thriller com elementos de aventura e toques de terror, mantendo a mesma pegada do primeiro jogo.
A estética é praticamente idêntica, com gráficos 2.5D e uma paleta de cores pálidas, mas apresentando uma qualidade mais refinada e um aspecto mais tridimensional de forma geral.
Com uma cadência lenta, o objetivo do jogador é explorar Camena e resolver quebra-cabeças de ambiente, que são simples e rápidos de serem resolvidos, mas repetitivos em lógica. Não é algo que prejudique a experiência como um todo, mas deixa uma sensação de que poderiam ser mais inventivos e desafiadores.
O jogo tem um foco pesado em narrativa, o que ganha peso com o excelente sistema de diálogos, que é o epicentro de Oxenfree. A todo instante, você escolhe o que Riley vai responder ou fazer — e praticamente tudo gera consequências tanto imediatas quanto a longo prazo, tanto pequenas quanto grandes.
Não à toa, há múltiplos desfechos para a aventura de Riley, além de tramas paralelas e opcionais que dependem da curiosidade e das decisões do jogador, podendo definir a história e o destino de personagens secundários. É possível até nem chegar a conhecer alguns NPCs da ilha, se você não for curioso o suficiente.
O que dá suporte à mecânica de escolhas é o cuidado do roteiro com os diálogos, que são bem escritos e têm um toque descontraído e bem-humorado. O elenco de vozes, encabeçado pela atriz Liz Saydah (a Myra, de The Evil Within 2) como Riley, também entrega atuações convincentes, algo importante para a proposta do game.
Segundo os desenvolvedores, não é preciso jogar o primeiro Oxenfree para encarar Lost Signals. Mas não foi o que eu senti na prática.
A sequência resgata (e, talvez, até demais) os acontecimentos do primeiro jogo, o que é algo surpreendente e empolgante num primeiro momento, porque muda a percepção de quem já é fã e conhece a história. No entanto, a sensação final é que a nova narrativa recicla a trama e os problemas do antecessor mais do que deveria em vez de expandir o universo.
O resultado é uma aventura que segue os passos do antecessor e aposta no seguro, o que não é algo necessariamente ruim. Afinal, a jornada de Riley é ainda mais envolvente e complexa do que a de Alex (protagonista de Oxenfree), com leves toques de terror em momentos da aparição de fantasmas e ondas sonoras possuídas, além de construir uma atmosfera misteriosa em volta da trama cheia de maluquices e esquisitices (no bom sentido).
O único problema é que os pontos-chave da trama são reciclagens aprimoradas do que os jogadores já viram antes. Com isso, aqueles que não estão familiarizados com Oxenfree até conseguem acompanhar a história de forma geral, mas perdem referências e ligações importantes com os acontecimentos e os personagens do primeiro jogo.
Os maiores deslizes de Oxenfree II ficam para problemas de performance, que são travamentos e bugs. Alguns deles podem levar até ao congelamento da tela e prejudicar o progresso do jogador, o que aconteceu comigo e me forçou a começar um jogo do zero. Como resposta, os desenvolvedores afirmaram que estão cientes dos problemas (principalmente os mais graves) e trabalham em correções para o pós-lançamento.
Sinais perdidos?
Em poucas palavras, Oxenfree II é ainda mais maluco do que o primeiro jogo. E falamos isso como um elogio! O game entrega todas as esquisitices, momentos de terror, falhas estáticas de rádio e diálogos engraçados que tornam a franquia da Night School Studio tão amada na comunidade.
Apesar dos tropeços, a aventura de Riley é divertida e engajante, oferecendo conteúdo que pode durar entre 5 a 15 horas, dependendo da curiosidade e sagacidade do jogador. O único lamento é não ter visto uma expansão maior dos conceitos tão inusitados e únicos de Oxenfree, ficando em uma pequena reciclagem de ideias.
Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Netflix Games.
Oxenfree II: Lost Signals está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Nintendo Switch, PC, Android e iOS.
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