O filme Oppenheimer chega aos cinemas com a missão de contar a história do “pai da bomba atômica”. Como todo filme baseado em fatos, ele tem direito a certas licenças poéticas para tornar a história mais envolvente. Porém, chama a atenção que alguns dos momentos mais impressionantes aconteceram de verdade.

Continua após a publicidade..

Pensando na curiosa relação entre fato e ficção no novo filme de Christopher Nolan (A Origem; Batman Begins), reunimos abaixo alguns dos momentos reais que parecem inventados – ou exagerados – no longa. Todos eles são eventos reais bem documentados mas, por fazerem parte do filme, tome cuidado com spoilers.

1- Professor envenenado

Oppenheimer definitivamente não soube lidar com a pressão da universidade (Universal/Reprodução)

O início de Oppenheimer mostra o cientista tendo dificuldades em se adaptar ao trabalho de laboratório na universidade de Cambridge. Ele chega a ficar tão frustrado com o tratamento do professor Patrick Blackett (James D’Arcy), que envenena uma maçã para se vingar de seu mestre.

Essa passagem sinistra é verdadeira, mas há debates se o veneno era letal, como o filme sugere, ou se era um composto capaz de fazer Blackett passar mal. Na vida real, Oppenheimer não voltou para jogar a fruta fora – como acontece no longa –, mas o professor não chegou a ingerir o alimento. Para os curiosos, a tentativa de intoxicação foi descoberta e Oppie ficou em observação, passou a ter consultas com psicanalistas e convenceu a universidade a não prestar queixa.

Continua após a publicidade..

2- A palestra em holandês

Cillian Murphy como Oppenheimer (Universal/Reprodução)
Oppenheimer: Físico, calculista e poliglota (Universal/Reprodução)

Outro momento que parece inventado para propósitos cinematográficos envolve as habilidades de J.R. Oppenheimer com idiomas. O filme mostra o físico norte-americano dando uma palestra em holandês, algo que aconteceu na vida real. Na verdade, a tal palestra foi discursada seis semanas após o cientista chegar à Holanda, o que impressionou os presentes, especialmente pela forma bem-humorada com que ele conduziu a apresentação.

3- Mentiras para o governo (durante a criação da bomba)

Oppenheimer olha para os céus com semblante preocupado (Universal/Reprodução)
Quem diria que mentir para o governo durante uma guerra seria um problema? (Universal/Reprodução)

Até mesmo gênios podem cometer estupidezes, e não há exemplo melhor para isso do que o infame “Caso Chevalier”. Em resumo, o professor e escritor Haakon Chevalier (Jefferson Hall) disse ao amigo Oppenheimer que o engenheiro George Eltenton havia pedido informações sobre o desenvolvimento atômico para que pudesse repassar à União Soviética.

Oppie cortou o assunto e deixou a conversa de lado, mas decidiu revelá-la às autoridades um tempo depois, quando surgiram suspeitas de espionagem por parte de pessoas envolvidas em um sindicato ao qual George Eltenton fazia parte. Por isso, ele decidiu avisar aos militares para prestar atenção em Eltenton, a quem considerava perigoso.

Continua após a publicidade..

O problema, é que isso levou as autoridades a questionarem como Oppenheimer soube dessa sondagem. Para proteger Chevalier, ele inventou três homens do laboratório de Los Alamos haviam sido abordados e se negou a revelar o nome deles por considerá-los “inocentes”. Por fim, ele foi obrigado por Leslie Groves (Matt Damon) a revelar o nome do amigo.

Esse caso se tornou extremamente relevante anos depois, durante o julgamento que acabou com a revogação de sua credencial de segurança por suspeitas de que ele tinha ligação com a União Soviética. O fato de ele ter mentido ao governo anteriormente foi um dos principais argumentos utilizados pela acusação.

(Moral da história: mentir para as autoridades enquanto constrói uma arma de destruição em massa é uma má ideia.)

4- Lewis Strauss: orgulho ferido e vingança

Oppenheimer e Lewis Strauss, uma relação conturbada (Universal/Reprodução)
Oppenheimer e Lewis Strauss, uma relação conturbada (Universal/Reprodução)

É justo dizer que o filme usa Lewis Strauss (Robert Downey Jr.) como uma espécie de vilão, ao citá-lo como o principal responsável pela destruição da reputação de Oppenheimer. Nesta parte da história, é possível imaginar que a ficção extrapolou para tornar a rixa entre eles pessoal. Não foi o caso.

Continua após a publicidade..

Na biografia que baseou o filme, os autores Kai Bird e Martin J. Sherwin documentam não apenas os episódios que levaram Strauss a “odiar” Oppenheimer, como também as ações que ele tomou para prejudicar o cientista.

A rivalidade começou na famosa audiência do Congresso em que o físico caçoou de um argumento feito por Strauss, que ficou profundamente envergonhado. Outro episódio conhecido foi um aniversário do almirante, em que ele tentou apresentar o filho e a nora a Oppenheimer, que os ignorou e saiu de perto sem dizer uma palavra.

O filme também acertou ao mostrar como Lewis Strauss trabalhou ativamente para manchar a reputação do inimigo. Na ficção, o personagem de Downey Jr chega a dizer que sabia que uma matéria da Time seria favorável a ele por ter sido escrita por Henry Luce – magnata que controlava essa e outras grandes revistas. Na vida real, a participação de Strauss foi além, já que ele próprio ajudou a escrever alguns dos textos direcionados ao rival.

De acordo com o livro, Strauss se manteve obcecado por Oppenheimer mesmo após a revogação da credencial de segurança do cientista, ao ponto de ajudar a convencer o FBI a manter escutas ilegais e agentes na cola do rival. Tudo isso, enquanto enchia “arquivos pessoais com memorandos que detalhavam de maneira obsessiva as supostas infrações do desafeto”.

5- Sangue nas mãos

Foto de Oppenheimer perturbado em cena do filme (Universal/Reprodução)
Oppenheimer levou sua consciência pesada ao presidente dos EUA (Universal/Reprodução)

Por fim, outro momento que pode parecer exagerado para propósitos dramáticos é o encontro entre Oppenheimer e o presidente Harry Truman (Gary Oldman). Porém, o filme retrata a conversa exatamente como relatado pelos envolvidos, desde Truman se gabando de que a União Soviética nunca construiria uma bomba atômica, até o cientista dizendo que sente ter sangue nas mãos. O presidente chegou a dizer que ofereceu um lenço para que o Oppie “se limpasse”, momento retratado no longa – embora há quem diga que essa parte em específico está mais para uma pravata do comandante.

Bônus: O bongô de Richard Feynman

Oppenheimer trouxe Jack Quaid, o Hughie de The Boys, para interpretar o físico vencedor do Prêmio Nobel Richard Feynman. Em alguns momentos de sua curta participação no filme, ele aparece tocando bongôs, instrumento que Feynman realmente dominava. Você pode conferir a uma palhinha do cientista no vídeo acima.

Oppenheimer está em cartaz nos cinemas do Brasil. Fique de olho no NerdBunker para mais novidades sobre o filme e aproveite para nos seguir nas redes sociais Twitter, Instagram e TikTok.