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O que aconteceria se o Dexter Morgan, do seriado Dexter, e o Light Yagami, do mangá/anime Death Note, se cruzassem em uma espécie de “justiceiro por acidente”? É o que deve ter passado pela mente dos criadores de A Killer Paradox, nova série coreana da Netflix. Mas, além das referências nem tão sutis a produções que já existem, a trama envolve com uma sombria, violenta, reflexiva, mas nem por isso menos divertida, abordagem dos limites morais que nos regem.
A premissa acompanha Lee Tang (Choi Woo-Shik). Sem rumo na vida após retornar do exército, o jovem se contenta com o subemprego numa loja de conveniência, enquanto sonha com uma vida melhor no Canadá. Tang, claro, é o tipo que menos se espera ver em uma briga, menos ainda envolvido com assassinatos.
A vida do rapaz muda quando, por acidente, ele mata um homem que depois descobre-se ser um sanguinário serial killer foragido da polícia. Se o acaso sorriu para Lee Tang ao envolvê-lo na morte de alguém que, entre aspas enormes, “merecia” deixar este mundo, o protagonista toma gosto pela matança ao perceber que tem o dom de sentir a presença de criminosos.
O enredo, por si só, já seria o suficiente para intrigar o espectador ao longo dos episódios de A Killer Paradox, mas tal sinopse é recheada por reviravoltas que brincam com sonho e realidade e até com o próprio gênero do thriller policial.
Protagonizando tudo isso está Choi Woo-Shik. Conhecido mundialmente pelo trabalho nos sucessos Invasão Zumbi (2016) e Parasita (2019), o ator faz uso da pinta de bom moço para exprimir a dualidade de Lee Tang, e os conflitos internos do matador por acidente.
Aqui, A Killer Paradox faz um interessante uso de perspectiva ao nos colocar, a todo momento, na companhia de Lee Tang e seus pensamentos. Além de testemunha, é como se o espectador virasse cúmplice nos crimes do protagonista, com a balança sempre oscilando entre o repúdio às ações do personagem e seu inegável carisma e vulnerabilidade.
Nesse sentido, o roteiro consegue o equilíbrio entre não glorificar o protagonista, mas ainda deixar a margem de questionamento para se, no fim, as ações de Lee Tang estariam justificadas. Seria, mesmo, o sonho do oprimido ser o opressor? Quem decide quem deve viver ou morrer? Tais questões complicadas são abordadas de forma a não apresentar respostas fáceis. Afinal, estas não existem.
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No contraponto de Lee Tang está o detetive Jang Nan-Gam (Son Suk-Ku). Empenhado em solucionar o rastro de crimes deixado pelo protagonista, o homem da lei se vê sempre um passo atrás do assassino, já que, além da opinião pública estar a favor do matador de matadores, a sorte (o dom, ou como queira chamar) de Lee Tang faz com que todas as provas que o ligam aos crimes sejam convenientemente descartadas.
É na relação entre os dois que A Killer Paradox se sai melhor, trazendo uma personalidade própria ao batido jogo de “gato e rato” entre policial e assassino, graças, mais uma vez, à competência de sua dupla de estrelas.
Este caldeirão é temperado pela direção ágil de Lee Chang-hee (The Vanished) que, à sua maneira, também flexiona as habilidades brincando com jogos de cena, como os cortes bruscos que costuram a narrativa, e até um leve flerte com gêneros como terror e fantasia. O diretor faz a proeza de empregar uma identidade 100% coreana de forma a não dever nada às grandes tramas de ação e suspense de outros países.
A Killer Paradox pode, muito bem, ser um chamariz para os que nunca assistiram às cada vez maiores produções vindas do país do k-drama. Trazendo um bem-vindo toque autoral a um universo próprio, a série prova que criatividade e personalidade ainda são os componentes mais certeiros de uma boa história, seja lá de que país ela venha.
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Todos os episódios da série estão em streaming na Netflix. Aproveite e conheça todas as redes sociais do NerdBunker, entre em nosso grupo do Telegram e mais – acesse e confira.