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Maestro usa ambição de Bradley Cooper como motor para história grandiosa | Crítica

Quando se sentou na plateia do Dolby Theater em 2019, Bradley Cooper viu o Oscar de Melhor Ator, que concorria por Nasce Uma Estrela (2018), ir para as mãos de Rami Malek, pelo trabalho como Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody (2018).

Não é difícil imaginar que a derrota motivou o ator e cineasta a retornar ao prêmio com um projeto ainda mais grandioso, já que Maestro, a nova tentativa do astro de tascar a sonhada estatueta, é um trabalho superior em todos os aspectos, além de, ironicamente, também ser a cinebiografia de um astro da música.

Dirigido, produzido e roteirizado pelo ator, Maestro passeia pela vida e obra do condutor e compositor Leonard Bernstein. Autor de clássicos do cancioneiro norte-americano como West Side Story (Amor, Sublime Amor), o músico é representado na tela pelo próprio Bradley Cooper, que acumula a jornada de trabalho quádrupla.

Se o domínio do ator sob praticamente todos os aspectos mais importantes da produção renderam o injusto rótulo de “caça-Oscar”, Cooper se prova além do sonho do reconhecimento pela Academia, apresentando uma produção elegante à altura de seu biografado, e até subvertendo muitas das expectativas lançadas sobre o longa.

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Em primeiro lugar, Maestro, tecnicamente, não é só uma cinebiografia. Ao menos não nos moldes tradicionais. É difícil que alguém pouco familiarizado com o trabalho de Leonard Bernstein saia do filme com uma impressão mais clara da importância do legado do músico. Bradley Cooper parece mais interessado em abordar os dramas pessoais da vida de Bernstein do que sua importância para a cultura popular. Um acerto que abre o caminho para a segunda surpresa do filme, pois o diretor e astro, apesar dos pesares, também não é a estrela de Maestro. Pelo menos não em tela.

Destacada acima do colega até mesmo nos créditos do longa, é Carey Mulligan quem encanta como Felicia Montealegre, esposa do condutor por mais de duas décadas. Mesmo com todo o destaque dado a Bradley Cooper nos trailers, artes promocionais e todo tipo de marketing do filme, Mulligan faz valer a indicação ao Oscar de Melhor Atriz equilibrando a força e fragilidade da personagem, sem nunca parecer intimidada ou, pior, ofuscada nem por Cooper, nem por Bernstein. O roteiro passeia pelos anos de amor e turbulência do casal de forma a nunca cair na armadilha condescendente de “por trás de um grande homem, há uma grande mulher.”

O texto passa os 130 minutos do longa pouco preocupado em explicar momentos históricos da vida de Bernstein, ou até personalidades importantes retratadas aqui e ali. Em vez de seguir a cartilha das cinebiografias, Maestro encontra seu ouro nas diferentes formas de amor e companheirismo do casal, seja na alegre e inocente fase da paixão avassaladora, até a amargura da vida dupla do músico e sua sexualidade.

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Nesse sentido, o longa usa as sequências musicais como estrada para a jornada do casal. Empregando apenas temas compostos pelo próprio Bernstein, Cooper faz uma interessante relação entre os trabalhos do músico e os momentos retratados em tela, quase como se o condutor regesse a própria vida através das composições.

Uma das sequências mais belas, por exemplo, toma a liberdade de recriar trechos do balé Fancy Free e a peça musical Um Dia em Nova York, com os próprios Cooper e Mulligan, borrando a linha entre criador e obra.

Aqui, Bradley Cooper se permite construir dois Leonard Bernsteins. Um, como o próprio músico se define, o showman que precisa estar sempre sob os olhos do público, e outro tão introspectivo que, pela música, consegue exprimir seus desejos mais profundos.

Bradley Cooper e Carey Mulligan em cena de Maestro. Crédito: Netflix/Divulgação

A dualidade permite ao astro a liberdade necessária para explodir em arroubos de euforia nas belas cenas de Bernstein à frente de suas orquestras, e também imprimir um lado mais intimista e contido, mesmo sob as impressionantes camadas de maquiagem.

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É significativo, por exemplo, que a cena mais impactante do astro no papel seja não as caras e bocas e o suor pingando nas extravagantes sequências musicais, mas um singelo diálogo entre Bernstein e uma de suas filhas (Maya Hawke), no qual Cooper consegue exibir todo o tormento de seu personagem sem uma palavra sequer.

A parcimônia do Bradley Cooper ator é liberada a todo volume no Bradley Cooper diretor. Cercado de parceiros como Martin Scorsese e Steven Spielberg, que também assinam a produção, o cineasta mostra reverência à era de ouro do cinema, evocando diferentes épocas da linguagem cinematográfica ao longo da projeção.

A juventude de Bernstein, por exemplo, é retratada em preto e branco e de forma que leva o espectador até a duvidar se não está mesmo assistindo a alguma produção das décadas de 1940 e 1950. O visível deslumbre do diretor acerta ao trocar a arrogância por elegância e reverência. É como se Cooper homenageasse seus ídolos, compreendendo até onde vão as próprias habilidades, seja como ator ou cineasta, e reconhecendo onde dosar melhor cada aspecto na empreitada.

Se as estatuetas do Oscar deste ano não estivessem tão indefinidas, Maestro poderia, muito bem, ser a grande chance de Bradley Cooper na cerimônia. Caso o ator e cineasta saia da premiação, mais uma vez, de mãos abanando, ao menos há tenha a certeza de que colocou o coração e alma em uma grande obra.

Maestro está disponível para streaming na Netflix. O filme concorre a sete categorias no Oscar 2024, incluindo Melhor Filme, Direção, Ator e Atriz. Siga de olho no NerdBunker para mais novidades e cobertura completa da cerimônia. Aproveite e conheça todas as redes sociais da gente, entre em nosso grupo do Telegram e mais – acesse e confira.

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