“Se Deus me desse uma segunda chance, eu faria tudo igual”. Essa é uma frase dita por Joel em um dos momentos mais marcantes de The Last of Us Part II — e que, para bem ou mal, pode resumir o tratamento da PlayStation com a franquia nos últimos anos.
Isso porque, após um ano do remake do primeiro jogo, a Naughty Dog retorna mais uma vez à história de Joel e Ellie com The Last of Us Part II Remastered, uma remasterização da sequência que foi originalmente lançada em 2020.
A ideia é levar o jogo ao PlayStation 5, com melhorias gráficas e conteúdo inédito, além da possibilidade de “upgrade” para quem já têm uma cópia — ou seja, o jogador terá uma taxa de US$ 10 (cerca de R$ 50) para ter acesso à nova versão, sem pagar o preço cheio.
Apesar das “regalias”, a novidade foi recebida com incerteza por boa parte da comunidade. Afinal, The Last of Us Part II está longe de estar datado, e o estúdio caminha para um quarto ano sem anúncios de projetos verdadeiramente novos.
Com esse cenário, Remastered chega mais como uma edição complementar do que uma remasterização, uma vez que traz um conteúdo que agrada (e muito!) fãs hardcore da franquia, mas não adiciona melhorias que justificam o relançamento.
Remaster de retoques
The Last of Us Part II Remastered mantém intactas as jornadas de Ellie e Abby, tanto em termos de história quanto jogabilidade. Não há alterações nesse sentido, preservando a campanha do original.
A única mudança fica para melhorias gráficas no visual, mas que são tão sutis que só olhos muito atentos vão perceber as diferenças, que se resumem a leves ajustes em sombreamento e iluminação. Portanto, não é algo que afeta a experiência como um todo — e muitos jogadores podem nem mesmo perceber o que mudou por não ser nada drástico.
Um dos focos do Remastered, no entanto, é apresentar um conteúdo jogável voltado para curiosidades dos bastidores de The Last of Us Part II — e, dentro dessa ideia, o jogo acerta em cheio.
A verdadeira novidade da campanha, que traz um novo olhar para a história, é a opção de ouvir comentários dos desenvolvedores ao jogar. O diretor Neil Druckmann e a roteirista Halley Gross revelam motivações por trás de escolhas narrativas e até diálogos ou detalhes que foram cortados. Há também a participação do elenco de voz, com Troy Baker (Joel) e Ashley Johnson (Ellie)
Poder ouvir o papo de quem trabalhou por anos na criação do game, história e personagens é enriquecedor, tanto para fãs de longa data quanto para entusiastas da área de desenvolvimento de jogos.
Perdi as contas de quantas vezes me surpreendi ao ouvir a explicação de algum elemento específico e entender um significado ou simbolismo escondido. E, acredite, a Naughty Dog teve cuidado com cada fala, cena e segundo de The Last of Us Part II — e isso é evidenciado aqui.
O foco em curiosidades de bastidores continua com as Fases Perdidas, um modo com três trechos da história que foram cortados da versão final do jogo.
Os trechos são jogáveis, mas estão em estado pré-alfa — ou seja, inacabados. Toda a estrutura básica está presente para ser possível jogá-los, mas não há polimento no visual, animação dos NPCs ou até mesmo algumas vozes de falas.
Com duração de cerca de 10 minutos cada, as fases (que são ambientadas em diferentes partes da trama) também têm comentários dos desenvolvedores, que explicam as motivações por trás dos momentos e os motivos para o corte.
É uma excelente maneira de não apenas revelar ao jogador algo inédito da história e dos personagens de The Last of Us Part II, mas também mostrar na prática que o desenvolvimento de um jogo é bem mais complexo e demorado do que parece.
Outra novidade é Sem Volta, um novo modo ao estilo roguelike, em que é preciso superar seis fases aleatórias e consecutivas de combate, com diferentes inimigos, chefes e níveis de dificuldade. Se morrer, o progresso é perdido, e você terá que recomeçar e tentar do zero outra vez.
A ideia é que o jogador gerencie poucas armas, itens e suprimentos para enfrentar hordas de infectados, cultistas ou membros da WLF do jeito que preferir — seja na furtividade ou pancadaria direta. Entre os confrontos, é possível atualizar e adquirir habilidades e melhorias, que valem apenas para aquela tentativa em questão.
Os únicos desbloqueios permanentes são os personagens jogáveis, que incluem Ellie, Abby, Joel, Dina, Jesse, Mel e por aí vai. Eles apresentam poucas diferenças entre si, com pequenas vantagens para uma mecânica específica.
Por ser inteiramente focado em combate, Sem Volta tem uma dinâmica frenética que gera uma experiência diferente da campanha principal — e é uma excelente maneira de se desafiar e explorar mais possibilidades da jogabilidade.
A repetitividade, que é proveniente da estrutura roguelike, ainda é amenizada pela presença de objetivos secundários que desbloqueiam mais chefes, skins e modificadores de fases (que aplicam alguma condição específica, como neblina), dando uma mexida no gameplay a cada nova tentativa.
Por fim, Remastered também adiciona um modo extra que possibilita acessar e tocar o violão de Ellie a qualquer momento, a partir do menu principal.
Curiosamente, a mecânica foi expandida e há mais instrumentos que podem ser tocados, como banjo e guitarra elétrica, e até outros personagens disponíveis para tocar — como Joel e Gustavo Santaolalla, o compositor da trilha sonora dos jogos da franquia — e pedais de efeito.
O resultado é um pequeno playground musical com bastante potencial para a recriação de inúmeras músicas. E, talvez, eu tenha perdido algumas horinhas tentando tocar Hank Williams.
Complemento de luxo?
Seja pela carga emocional ou história em si, revisitar The Last of Us Part II não é uma tarefa fácil. Como fã de longa data da franquia, o retorno ao jogo com Remastered, após três anos, pareceu apressado e meio sem sentido, principalmente pela falta de motivo para um relançamento tão cedo.
Confesso, no entanto, que o conteúdo de bastidores foi algo que me conquistou no primeiro segundo, não apenas por trazer curiosidades e mais informações sobre a obra, mas por ser uma amostra prática por trás das cortinas da criação de jogos. Ter acesso a fases cortadas e vivenciar a trama mais uma vez com os comentários dos criadores é algo verdadeiramente único e especial.
Ainda assim, o gosto que The Last of Us Part II Remastered deixa é agridoce. A nova versão peca na ausência de melhorias ou mudanças significativas e, consequentemente, não justifica o relançamento. Mas as adições de modos e extras são essenciais e obrigatórias para os amantes desse universo.
Assim, a remasterização é um complemento ao original — o que faz o “upgrade” pela versão de PS4 ser o caminho mais vantajoso —, que apresenta um conteúdo que daria (muito) certo como uma DLC ou algo adicional. Por isso, mais uma vez, o maior erro do mais novo produto de The Last of Us veio do departamento de marketing da Naughty Dog e da PlayStation, e não do jogo em si.
Esta review foi feita com uma cópia cedida pela PlayStation.
The Last of Us Part II Remastered será lançado para PlayStation 5 em 19 de janeiro de 2024.
Aproveite e conheça todas as redes sociais do NerdBunker, entre em nosso grupo do Telegram e mais – acesse e confira.