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Diretora de Eco revela o complexo processo de criação da série

O Marvel Studios abre 2024 com Eco, um projeto, no mínimo, curioso. A produção é a primeira aventura solo de uma personagem pouco conhecida fora das HQs, que já teve origem e habilidades apresentadas em outra série, a do Gavião Arqueiro, e ainda contará com com personagens de Demolidor, da Netflix. A conciliação de tanta história em uma trama nova e independente só foi possível após um longo processo revelado pela diretora Sydney Freeland ao NerdBunker. O primeiro passo foi voltar às raízes e começar pelos quadrinhos, que se tornaram fonte de inspiração tanto por seus atrativos quanto por seus problemas.

Eco surgiu nas HQs como alter ego de Maya Lopez, jovem criada como filha pelo vilão Rei do Crime, que a manipula para caçar o Demolidor. Duas das principais características da personagem são sua descendência indígena e a surdez. A forma como esses atributos foram representados chamaram a atenção de Freeland logo de cara. Pelo lado positivo, “os quadrinhos são belamente ilustrados, com cenários ricos em aquarela, incorporação da linguagem de sinais, além de trazer iconografia nativo-americana”, diz ela. Porém, também há lados negativos.

O primeiro deles é o tratamento da herança indígena da personagem, um assunto muito pessoal para Sydney Freeland, que faz parte do povo Navajo. Em sua leitura, os quadrinhos misturam iconografias (linguagens visuais em que imagens representam determinado tema) de diferentes povos nativo-americanos em uma representação estereotipada. “São muitas imagens bacanas, mas, para mim, sendo uma indígena lendo a HQ, não há poesia ou justificativa nelas”.

Capa da HQ do Demolidor com "Echo", nome original da personagem, em linguagem de sinais (Marvel/Reprodução)
Capa da HQ do Demolidor com “Echo”, nome original da personagem, em linguagem de sinais (Marvel/Reprodução)

Para a cineasta, esse tipo de representação é fruto de um equívoco a respeito das culturas indígenas na América do Norte, que tratam povos com costumes e trajetórias bem distintas como se fossem uma coisa só. Uma reflexão que se tornou fonte de inspiração para a trama da série, que esforçou para fazer uma representação fiel da nação Choctaw, da qual Maya faz parte nos live-actions:

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“Todas as tribos são diferentes e únicas. Na série, nós quisemos explorar as especificidades de ser Choctaw: a linguagem, a cultura, as tradições. Então, focar nas particularidades e ser mais autêntico possível nos permite contar uma história humana que pode ser relacionável para pessoas de fora dessa cultura.”

Esse novo foco fez com que a equipe procurasse os Choctaw em busca de uma parceria para um retrato mais autêntico. Decisão abraçada por praticamente todos os departamentos, desde roteiro e direção a design de figurinos. “Como queríamos ser autênticos, aprimoramos isso na bagagem da personagem”.

Deficiência auditiva e superpoderes

Definido o tratamento em relação à ancestralidade indígena de Maya Lopez, chegou o momento de lidar apropriadamente com a surdez. Apesar de incorporar a linguagem de sinais, os quadrinhos estabeleceram uma habilidade considerada fantasiosa demais para o tom da série:

“As HQs mostram que ela é especialista em leitura labial. Uma das coisas que todos nós aprendemos – com as pessoas surdas em departamentos como elenco, sala de roteiristas e consultorias –, é que mesmo os melhores leitores labiais do mundo conseguem entender apenas 30% do que é dito. Então como queríamos trazer realismo a esse lado, decidimos retirar esses aspectos das HQs e focar em contar a história de uma maneira mais legítima.”

A busca por autenticidade à comunidade surda modificou até mesmo a forma como Eco foi filmada. Como exemplo, Sydney Freeland ressaltou a importância de filmar a linguagem de sinais corretamente para que nada da comunicação seja perdida por enquadramentos ou cortes indevidos:

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“Em nossa série, o close-up vai de cima da cabeça até o peito, porque precisamos ver o rosto e os sinais. E se isso vale para a protagonista, vale também para todo o resto do elenco. Esse é um dos casos das consequências positivas que tivemos ao nos cercarmos por experts surdos, pois ditou todo o estilo visual da série.”

Foto de Alaqua Cox como Eco (Marvel Studios/Reprodução)
Foto de Alaqua Cox como Eco (Marvel Studios/Reprodução)

Após definir como retratar as duas principais características de Eco nas HQs, a série precisou lidar com a jornada da personagem em live-action. “Quando você considera a série do Gavião Arqueiro, para mim, a coisa mais interessante é que ela é uma vilã”, reflete Freeland. “Nas conversas com a Marvel sobre como continuar com a personagem, a resposta deles foi positiva, e foi essa situação que exploramos.”

Na série em que foi apresentada, a Eco era chefe da Máfia dos Agasalhos a mando do Rei do Crime (Vincent D’Onofrio). Mais do que uma criminosa, ela participa da história em busca de vingança contra o Gavião Arqueiro, que havia assassinado o pai dela enquanto atuava como o vigilante Ronin. Porém, ao final [spoilers aqui], é revelado que o responsável pela morte foi o próprio Rei do Crime, que se torna alvo da vingança da jovem, que atira em seu rosto antes de sumir.

A próxima etapa dessa trama de vingança e redenção acontece agora em Eco, que não só vai continuar a história da personagem, como também conta com as participações do Rei do Crime e do Demolidor. Tudo isso em uma produção focada em representar tanto a surdez quanto a raiz indígena de sua protagonista. Uma mistura celebrada por Sydney Freeland:

“Essa é a melhor coisa da Marvel e do MCU. Você pode contar histórias que normalmente não recebem esse tipo de reconhecimento ou plataforma, mas é o que a Marvel faz. É sobre vozes e experiências diversas contadas de uma maneira profundamente humana. Essa abordagem tem sido muito bem-sucedida, então espero que façamos isso com Eco também.”

Eco chega ao Disney+ em 9 de janeiro, às 23 horas, no horário de Brasília. Os cinco episódios da minissérie serão lançados simultaneamente no streaming.

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