A história de Yusuke Urameshi, um jovem delinquente de grande coração, conquistou milhares de fãs no Brasil e no mundo nos anos 1990. Agora, mais de três décadas depois, Yu Yu Hakusho ganhou uma adaptação em série live-action, disponível na Netflix.

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A produção é inspirada no mangá homônimo de Yoshihiro Togashi (Hunter x Hunter) e, como tal, acompanha a jornada inusitada de Yusuke (Takumi Kitamura) entre a vida real e o Mundo Espiritual.

Como adaptação, a série live-action acerta na ação com lutas bem executadas, mas tropeça numa parte importante. O desenvolvimento dos personagens, assim como o protagonista, foi atropelado — neste caso, por um roteiro reduzido até demais.

Delinquente, mas de bom coração

Yu Yu Hakusho começa com a morte do protagonista, Yusuke. Imagem: Netflix/Reprodução

Quem tem familiaridade com a obra de Togashi sabe que a história começa de forma inusitada, e isso não é diferente na produção da Netflix. Logo de cara, nos deparamos com o falecido Yusuke, que se sacrificou para salvar um garotinho de um atropelamento.

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Após tomar consciência da própria morte, o protagonista começa a enfrentar seu grande dilema: não há espaço para ele no céu ou no inferno. Como recompensa de seu altruísmo, ele ganha uma chance de voltar à vida, desde que passe a atuar como Detetive Espiritual — enfrentando demônios e criaturas que ameaçam os humanos.

Nesse contexto, o primeiro episódio executa essa ambientação da melhor forma possível, destacando o que Yu Yu Hakusho traz de melhor — o equilíbrio entre a ação e o humor. Como adaptação, a série live-action faz uso de sua liberdade criativa e altera a narrativa de forma significante.

As mudanças, a propósito, não são o problema por si só. Algumas funcionam, outras nem tanto. Um exemplo interessante de adaptação acontece logo no início da história. Embora parte do público possa achar o começo acelerado, o live-action faz ajustes necessários para contar a história de Yusuke em um novo formato.

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Em termos de comparação, o início do mangá de Togashi inclui uma série de “missões” do protagonista no Mundo Espiritual, que não agregariam muita coisa se fossem levadas ao pé da letra para a série live-action. Dessa forma, algumas mudanças são justificadas, mas outras falham miseravelmente.

Yu Yu Hakusho da Netflix atropela narrativa

Com interesses semelhantes, protagonistas se unem para enfrentar inimigos demoníacos. Imagem: Netflix/Reprodução

Uma dessas falhas é o desenvolvimento dos personagens. Com apenas cinco episódios, a adaptação não consegue aprofundar o caráter e a personalidade de figuras importantes da obra como Kurama (Jun Shison), Hiei (Kanata Hongo) e Kuwabara (Shuhei Uesugi).

Como alguém que leu o mangá, fica mais fácil entender o que há por trás dessas relações. Mas, ao parar para pensar na série como um produto à parte, é impossível não ficar frustrada com a superficialidade dos relacionamentos entre os personagens. Isso fica evidente em vários momentos, principalmente, na relação de Yusuke, Kuwabara e a icônica mestra da dupla, Genkai.

Curiosamente, há um fator específico que consegue tornar essa superficialidade da narrativa mais palatável: a dublagem. Brincando com a nostalgia de um público fiel, Yu Yu Hakusho da Netflix traz boa parte do elenco de voz original do anime — o que tornou a obra de Togashi tão singular para os fãs brasileiros.

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Dessa forma, a dublagem brasileira rouba a cena mais uma vez e aquece o coração do fãs com destaque para o retorno de Miriam Ficher, dubladora de Botan, e icônicas frases como “rapadura é doce, mas não é mole não“, na voz de Marco Ribeiro.

Tropeços narrativos à parte, a série live-action de Yu Yu Hakusho acerta em cheio na ação. A produção aposta em cenas de lutas bem coreografadas, intensas e com efeitos especiais que fazem jus às criaturas assustadoras e demoníacas que ameaçam o mundo dos humanos. O visual dos irmãos Toguro, por exemplo, é um acerto em cheio e chega com nostalgia para aqueles que levaram alguns sustos nos anos 1990 e 2000.

Poderia ser melhor

No geral, Yu Yu Hakusho da Netflix parece não ter expectativas de continuar a história para futuras temporadas — algo um tanto estranho se tratando de uma produção seriada, e que possui uma cena pós-créditos.

A série brilha, na maior parte das vezes, nos momentos de ação, mas tem pressa em mergulhar na história de seus protagonistas. Tal ritmo extremamente acelerado impede, na maior parte das vezes, que o espectador crie algum tipo de elo com esses personagens que, na obra original, são excepcionalmente apaixonantes.

Ainda assim, a produção pode animar aqueles que estão à procura de ação intensa, ou que apenas querem sentir um gostinho de nostalgia, sem muitas exigências. Por aqui, a impressão que fica é a de que os personagens da obra de Togashi mereciam uma adaptação mais cuidadosa.

Yu Yu Hakusho está disponível no catálogo da Netflix, com cinco episódios. Atualmente, o anime está disponível na Crunchyroll, mas não possui legendas em português brasileiro. Já o mangá é publicado pela Editora JBC, no Brasil.


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