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Feriado Sangrento é slasher retrô sob medida para os dias de hoje | Crítica

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Feriado Sangrento não esconde a intenção de ser um slasher setentista, daqueles filmes de maníaco que surfaram a onda de Halloween (1978), entre o final dos anos 1970 e durante toda a década seguinte.

O próprio diretor Eli Roth (O Albergue) assumiu a abordagem, durante painel na CCXP23, onde o filme foi exibido antes da estreia em circuito. Mas uma combinação de sagacidade, humor macabro e sangue elevam o longa além de mais um slasher retrô.

Ambientada no feriado de Ação de Graças, a trama se passa em Plymouth, Massachusetts — cidade nos EUA que é conhecida como o berço da data comemorativa. Nos dias de hoje, porém, o lugar se torna palco para uma tragédia, quando um tumulto na noite de Black Friday faz várias vítimas durante o saldão de uma loja. Um ano depois, um maníaco com máscara de John Carver, um dos peregrinos ingleses que fundou e governou Plymouth, passa a perseguir e assassinar brutalmente várias figuras ligadas ao terrível incidente.

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Viagem temporal maldita

Em Feriado Sangrento, Eli Roth refaz os passos dos slashers nos cinema [Créditos: Divulgação]

Assim como fez John Carpenter em 1978, Eli Roth descaradamente pega um feriado pouco explorado no cinema de terror e dá uma roupagem sangrenta, mantendo viva a tradição do exploitation — os filmes apelativos, exibidos em cinemas duvidosos, que prometiam banhos de sangue, sexo e viradas chocantes para atrair o público. Essa é a gênese de Feriado Sangrento, na verdade, já que o cineasta apresentou o conceito com um trailer falso em Grindhouse (2008), coletânea de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, que é justamente uma carta de amor ao cinema vulgar e chocante.

Mas a homenagem é apenas o ponto de partida. O passeio de Roth transita por toda a tradição dos slashers e pode muito bem ser entendido como um mapa da evolução do popular subgênero, ao mesmo tempo que traz personalidade, carisma e sensibilidade contemporânea para se contextualizar e se consagrar nos dias de hoje.

Nos primeiros minutos, o diretor replica a cena inicial de Halloween e depois cria uma intensa, violenta e memorável abertura, que mostra a tragédia central em detalhes. A cereja no topo é um card de abertura retrô, puxado diretamente de um terror de baixo orçamento setentista que te faria questionar sua escolha de locação de VHS para o fim de semana.

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Junto com o charme retrô, tecnologia e questões atuais são integrais para Feriado Sangrento [Créditos: Divulgação]

Após isso, com salto temporal de um ano, o longa introduz um grupo de jovens digno da fase áurea do gênero nos anos 1980, repletos de hormônios e dramas interpessoais, e um assassino vingativo e tecnológico, tal qual Ghostface, de Pânico (1996). Tudo é bem embalado por mortes bastante gráficas, trazendo a vulgaridade dos anos 2000, marcada pelo sucesso dos torture porn — que, inclusive, Roth ajudou a impulsionar com O Albergue.

O que realmente faz essa mistura funcionar é uma modernização necessária para fugir das garras da nostalgia. O maníaco John Carver aterroriza a cidade através das redes sociais, com ameaças misteriosas e postagens explícitas de seus crimes. Em dado momento, no ápice do plano do assassino, ele faz questão de manter uma live aberta para transmitir sua sangrenta vingança ao mundo, em detalhes. Até a premissa, por mais simples e direta ao ponto que pareça, só funciona por incorporar a ganância corporativa, o fervor consumista e o individualismo do atual capitalismo tardio. É um filme mais inteligente do que parece, tanto em nível de homenagem quanto em contribuições próprias ao gênero, mas também um que não se ilude com outro propósito além de chocar, enojar e divertir os espectadores.

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Sem deixar sobras

Violento e misterioso, o maníaco John Carver é cheio de personalidade [Créditos: Feriado Sangrento/Divulgação]

Eli Roth é conhecido pelo peculiar humor macabro que tornou infame obras como O Albergue, Cabana do Inferno e Canibais, mas Feriado Sangrento mostra um esforço real do cineasta em criar suspense competente sem abrir mão da sanguinolência e dos momentos bobos.

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Não se engane: o filme sabe bem quando está sendo estúpido. Ele quer que você ria junto de absurdos e nojeiras, como ver alguém sendo acidentalmente escalpelado por ter o cabelo preso nas rodas de um carrinho de supermercado. O longa entende que é estranho, no mínimo, que um dono de loja queira manter sua loja aberta mesmo com um serial killer vingativo à solta. É preciso aceitar e embarcar na estranheza, e o resultado é satisfatório pela forma que a bobeira se funde perfeitamente com o competente mistério da identidade do maníaco.

John Carver ajuda a consagrar o filme. Além do visual marcante, o assassino é sagaz, furtivo e impiedoso, atacando com uma combinação aterrorizante de cautela e brutalidade. O maníaco também tem personalidade e domina todos os momentos que está em tela, com humor que o salva de ser uma imitação de Jason Voorhees, mas sem nunca chegar a galhofa de um Freddy Krueger. John Carver é apenas um sujeito que consegue invadir a casa de um homem e estripá-lo violentamente, e ainda colocar comida para o gato da vítima, fazendo carinho no bicho antes de deixar a cena do crime.

Filme do Eli Roth sem nojeira e sanguinolência? Nunca. [Créditos: Feriado Sangrento/Divulgação]

O triunfo do filme é saber como utilizar bem o assassino, mantendo uma aura de mistério por toda a obra e garantindo que as ameaças não sejam em vão, com várias demonstrações da insanidade do maníaco. Roth, que é um adorável degenerado, tira de letra o banho de sangue em diversas mortes absurdas, escatológicas e puramente sádicas. É um prato cheio para quem vibra com esse tipo de espetáculo macabro.

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A única coisa que segura Feriado Sangrento é um elenco abaixo da média. Salvo pelo excelente Patrick Dempsey (Grey’s Anatomy) como o xerife Eric Newlon, o grupo principal é marcado por atuações mornas e pouco convincentes. Nem a protagonista Jessica se salva, graças a uma performance sem peso algum pela novata Nell Verlaque. O diretor já esclareceu que apostou em rostos desconhecidos e iniciantes para a obra, o que indiretamente reforça uma das tradições do exploitation e dos slashers mais apelativos: as atuações lamentáveis.

Ainda assim, Feriado Sangrento é muito melhor do que deveria ser. O filme retrata não só a evolução do querido subgênero, mas também demonstra aperfeiçoamento da bizarra técnica de Eli Roth. Era certo que o cineasta conseguiria chocar e embrulhar o estômago do público — essa é sua especialidade, afinal — mas o longa se sobressai com suspense competente, uma boa quantia de mortes violentas e momentos absurdos, humor bobo bem dosado e, claro, a introdução de mais um grande assassino para o cinema de horror. É difícil não sair aguardando ansiosamente pelo retorno de John Carver.

Feriado Sangrento já está em cartaz nos cinemas.

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