Quando The Boys se tornou um grande sucesso, o Amazon Prime Video não demorou para começar a planejar derivados. E um dos projetos foi Gen V, uma escolha que faz todo o sentido. Afinal de contas, que forma melhor de expandir esse universo do que trazer sua própria versão dos X-Men para live-action?
Não preciso ser um super para imaginar que, nesse ponto, você está achando a comparação óbvia. Afinal de contas, Gen V se passa em uma universidade para super-heróis, um paralelo muito óbvio para os mutantes da Marvel, que surgiu como uma equipe formada justamente em uma escola para jovens superdotados. A questão é que a inspiração é literal e, para entender tudo isso, precisamos voltar às HQs.
[A partir daqui, spoiler das HQs de The Boys]
Criada por Garth Ennis e Darick Robertson, a história em quadrinhos de The Boys apresentou um grupo chamado G-Men. Esse time foi formado por John Godolkin, um filantropo que criou uma escola de supers. Porém, é claro que ele não é nenhum Charles Xavier (poucos personagens são, aliás) e esconde um segredo sombrio.
Conforme o arco Hora de Partir se desenrola, é revelado que a história que ele adotava super órfãos para torná-los heróis era uma mentira. Na verdade, ele roubava as crianças de suas famílias para abusar delas, o que deu início a um grande efeito dominó em que os G-Men mais velhos passavam a abusar dos novos – enquanto o próprio Godolkin continuava a cometer esses atos horrorosos.
Essa trama chocante marca um dos pontos mais baixos das HQs de The Boys. O arco pouco avança a trama geral e serve apenas para parodiar os X-Men da forma mais gratuita possível. Apesar de fazer sentido com a proposta do título, que é fazer uma grande sátira ao universo dos heróis, chega a ser frustrante a forma rasa como uma das equipes mais tradicionais desse meio é abordada.
E não me entenda mal, o problema não é a piada, e sim o fato de ela não ter graça alguma. Fora o desperdício em não aproveitar personagens tão reconhecíveis quanto o Wolverine e se livrar deles logo após uma reviravolta que não traz nada além de choque. Uma questão que não parece ter escapado dos responsáveis por levar esse conceito para uma série live-action.
Em entrevista ao The Wrap, o criador da série de The Boys, Eric Kripke, fez questão de dizer que Gen V “é livremente inspirado” nos G-Men. Sem entrar em detalhes na época, ele explicou que “parte dos G-Men é meio que essa experiência educativa, de faculdade. E nós simplesmente usamos isso como um ponto de partida.”
De acordo com o produtor, a ideia principal de Gen V foi usar esse universo para abordar a experiência de ir a uma faculdade nos EUA: “O objetivo é tornar essa série de super-heróis uma das mais realistas sobre faculdade que alguém já fez. E abordar, de verdade, problemas da faculdade e explorar o que é ter essa idade.”
Essa abordagem fica clara logo nos primeiros três episódios da produção. No live-action, “Godolkin” não é um magnata abusador, mas o nome da universidade em que se passa a história. Da mesma forma, os estudantes não formam uma equipe ao molde dos próprios X-Men, mas participam de aulas em sala, praticam esportes, vão a festas e mais. Cada personagem da série tem origens, jornadas e dramas próprios, ao contrário dos G-Men, que estão presos dentro da mesma categoria e cuja participação gira em torno da chocante revelação a respeito do funcionamento da equipe.
Isso não significa que a ligação com os mutantes foi completamente apagada. Afinal de contas, alguns dos personagens de Gen V – incluindo os protagonistas – têm poderes similares a alguns dos estudantes e inimigos mais famosos de Charles Xavier. Resta saber se, ao longo da temporada, algum outro elemento das HQs de The Boys vai dar as caras na produção.
Porém, ao que parece, os dias de choque gratuito ficaram para trás. Pelo menos até o momento, os absurdos são tratados como tempero e não como a razão principal de ser – justamente a fórmula consagrada por The Boys.
Gen V está disponível no Amazon Prime Video. A série ganha novos episódios às quintas-feiras. As três primeiras temporadas de The Boys também estão no catálogo. Já as HQs de The Boys foram publicadas no Brasil pela Devir.
Fonte: The Wrap.