Com apenas um episódio restante, Ahsoka terá que correr para amarrar todas as pontas lançadas na galáxia muito, muito distante. A série do universo Star Wars exibiu o sétimo e penúltimo capítulo, “Sonhos e Loucura”, na última terça (27) e, se por um lado, peca por não avançar tanto a trama, do outro, compensa o ritmo mais lento com um deleite visual para os fãs da saga espacial.
[Zona de Spoilers de Ahsoka abaixo]
“Sonhos e Loucura” abre com a general Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead) tendo que responder perante uma comissão da Nova República sobre a missão não autorizada que ajudou Ahsoka (Rosario Dawson) e Sabine (Natasha Liu Bordizzo) a viajarem à galáxia vizinha, na busca pelos exilados Ezra (Eman Esfandi) e o malvadão Thrawn (Lars Mikkelsen).
Aqui, a série mergulha na interessante maquinação política por trás da Nova República, já vislumbrada no terceiro ano de The Mandalorian. Tomando a lição dos Episódios I, II e III, que abordaram como Palpatine manipulou as forças da República em ganho próprio, Ahsoka mergulha nos bastidores do novo regime numa bem-vinda expansão do folclore galáctico e, de certa forma, dá mais credibilidade ao fato de que, poucas décadas depois, a Primeira Ordem de Star Wars: O Despertar da Força (2015) conseguiu usurpar o poder com tanta facilidade.
Isso porque, num português bem claro, o novo regime é governado por idiotas. Sai Império e entra Nova República, mas a burocracia permanece a mesma, como a falta de visão dos senadores que ignoram os avisos de Hera sobre o retorno de Thrawn, com exceção da sempre vigilante Mon Mothma (Genevieve O’Reilly, de Andor). Hera é salva, no último instante, pelo velho companheiro C-3PO (Anthony Daniels), numa aparição que aquece o coração dos fãs da saga. O dróide chega como enviado da agora senadora Leia Organa, que sanciona (ainda que tardiamente) as ações da rebelde. A aparição de C-3PO ganha um tom ainda mais especial se a notarmos como uma forma de manter a ex-princesa na linha de frente da reconstrução da República, mesmo sem a saudosa Carrie Fisher.
Enquanto isso, em outra galáxia…
Após o chá de sumiço no episódio anterior, Ahsoka Tano segue em jornada rumo à galáxia vizinha. A ex-Jedi aproveita o tempo para flexionar as habilidades, em treinamento com um Anakin Skywalker holográfico, em mais uma aparição de Hayden Christensen no papel.
A cavaleira vai, mesmo, precisar de todas as forças à disposição, porque a recepção no distante planeta Peridea é bastante calorosa, mas não do jeito bom. É que a nave da personagem cai direto num campo minado espacial montado por Thrawn, a fim de impedir a chegada da ex-Jedi.
Na superfície do planeta, o alienígena azul de olhos vermelhos descobre que Ahsoka foi aprendiz de Anakin e se prepara para enfrentar a guerreira não com a força, mas sim com a inteligência. Thrawn conta com a obstinação de Ahsoka em encontrar e salvar Ezra e Sabine justamente para distrair a ex-Jedi enquanto o vilão encerra os preparativos para partir de vez de Peridea.
Por falar na duplinha da animação Star Wars: Rebels, Ezra e Sabine seguem perambulando com os simpáticos alienígenas Noti, que acolheram o personagem durante os anos de exílio. Ezra fica sabendo do que aconteceu na galáxia em sua ausência, incluindo a “morte” do Imperador Palpatine (que, “de alguma forma”, retornará no Episódio IX), mas ainda não descobre que, para salvá-lo, Sabine também deu aos vilões a chance de resgatar Thrawn.
O reencontro feliz dos amigos dura pouco, já que os mercenários Baylan (Ray Stevenson) e Shin (Ivanna Sakhno) alcançam a dupla, sob ordens de matar os dois. Misterioso como sempre, Baylan envia a aprendiz para cuidar dos heróis, enquanto parte numa jornada própria.
Ainda que salvo pelo carisma e presença do saudoso Stevenson, o personagem está, há sete episódios, praticamente no mesmo lugar. Supostamente, Baylan está em busca de romper o ciclo de guerras e líderes tiranos que assola a galáxia. Mas por que, então, ele ajudaria no esforço de trazer Thrawn de volta, já que o Chiss azul vai, adivinha, começar de novo o ciclo de guerras e líderes tiranos na galáxia?
É claro que Baylan tem suas próprias motivações, mas com apenas um episódio restante na temporada, o roteiro de Filoni não parece muito preocupado em responder essa questão, ao menos por enquanto.
Enquanto o mestre pensa sobre a vida, Shin lidera um ataque de nativos selvagens à comitiva de Ezra e Sabine. A aprendiz de Baylan ganha um pequeno auxílio de Thrawn, que envia tropas de stormtroopers para complicar a vida da dupla de rebeldes.
A direção de Geeta Vasant Patel (A Casa do Dragão) passeia com competência pela empolgante perseguição, que mostra que a equipe da série aprendeu as lições corretas de Mad Max: Estrada da Fúria (2015), tomando inspiração do clássico moderno para dar intensidade à cena.
A sequência, claro, descamba para uma porradaria de blasters e sabres de luz. Sabine e Ezra lutam contra Shin e os stormtroopers no quebra-pau de sempre, mas com Ezra trazendo um certo frescor ao optar por usar apenas a Força para se defender. Entre um “hadouken” e outro, a dupla consegue manter-se de pé, mas é cercada pelas forças inimigas, em maior número. A salvação depende da antiga Mestra, que logo vem ao resgate.
Um final feliz?
Através da conexão com a Força, Ahsoka sente o paradeiro de Sabine e parte para salvar a amiga. A ex-Jedi é brevemente interrompida por Baylan, que a aguarda para um segundo round do duelo de sabres. Mas a revanche terá de esperar, pois a protagonista prefere fugir para encontrar logo os antigos amigos, do que derrotar de uma vez por todas o antagonista.
Ahsoka chega ao conflito bem a tempo de salvar Sabine e Ezra do sabre de Shin. A vilã bate em retirada junto com as tropas de Thrawn, que convoca suas forças para finalmente dar o fora de Peridea.
Assim, o Grão Almirante mostra por que será uma ameaça forte contra a paz da Nova República. Não só Thrawn se prova um grande estrategista, manipulando até possíveis derrotas a seu favor (como a perda de soldados para distrair Ahsoka e amigos), como vemos a frieza do vilão, justamente por se dispor a sacrificar peões para atingir seu objetivo.
Ezra, Sabine e Ahsoka se reencontram em meio a sorrisos e brincadeiras, trazendo a leveza que conquistou os fãs em Rebels. Longe de casa há anos, o jovem vê nas amigas a chance concreta de retornar a tudo o que ama.
O problema é que tudo que foi descrito acima funcionaria de forma impecável, se não estivéssemos às vésperas do finale da série. Ainda sem uma segunda temporada confirmada (embora a probabilidade seja alta), Ahsoka terá de correr para amarrar as diversas pontas ainda soltas para o grande desfecho. Uma possibilidade é que a série seja uma enorme preparação para coisas que só serão resolvidas no já confirmado filme de Dave Filoni para os cinemas. Resta saber (e torcer) se, depois de uma deliciosa jornada, a série conseguirá chegar satisfatoriamente à linha de chegada.
Material Complementar
Boa parte de Ahsoka incorpora elementos de Star Wars: Rebels, animação que originou personagens como Sabine, Hera e Ezra. Sabendo que muitos fãs da saga podem não ter assistido à série animada, nossos recaps são acompanhados por dicas de episódios de Rebels que podem complementar a experiência de Ahsoka.
As pedidas da vez são “As Provas do Sabre Sombrio” e “O Legado de Mandalore”, episódios 15 e 16 da terceira temporada. Os capítulos têm Sabine tomando as primeiras lições do treinamento Jedi ao se ver na posse do lendário Sabre Sombrio. A história traz as raízes da personagem como uma possível sensitiva da Força e ainda colocam a mandaloriana para duelar com o imponente Gar Saxon, dublado por ninguém menos que o mesmo Ray Stevenson de Ahsoka.
Ahsoka ganha episódios às terças, às 22h, no Disney+. Os demais filmes e séries de Star Wars estao em catálogo no streaming. Aproveite e siga o NerdBunker nas redes sociais Twitter, Instagram e TikTok, e entre no nosso grupo no Telegram.