Franquias não são construídas da noite para o dia. A Ubisoft sabe muito bem disso, tocando diversas séries ao longo de décadas. Entre seu catálogo, The Crew é uma que surpreende pelo fato de que seus dois títulos não foram tão bem recebidos assim.
Os desenvolvedores da Ubisoft Ivory Tower, responsáveis pela franquia, não querem cometer o mesmo erro com The Crew Motorfest, mais recente título da saga. “Quando se confia no que você está construindo ao lado da sua comunidade, você eventualmente encontra a fórmula”, garantiu Stéphane Beley, diretor criativo do game, em entrevista ao NerdBunker.
Ao lado de dois colegas da equipe de desenvolvimento, o francês veio ao Brasil promover o jogo, discutir sua paixão pelo gênero e comentar os aprendizados com os dois títulos anteriores da saga: “Nossa visão original nunca deixou nossos corações: carros, mundo aberto gigante e aspectos sociais. Nunca fizemos algo diferente disso, apenas melhoramos continuamente.”
É bom esclarecer que nenhum dos jogos anteriores de The Crew são considerados exatamente ruins, mas sim medianos. O tempo e a dedicação dos desenvolvedores se provou benéfico aos títulos, que conseguiram reconquistar os jogadores com boas atualizações, melhorias e expansões. “Quando a comunidade confia nos desenvolvedores, fica fácil fazer jogos melhores”, afirmou Paul Narducci, diretor de jogabilidade.
Tudo isso serviu como aprendizado para Motorfest, que mantém a base dos antecessores e a expande para o Havaí, onde acontece um (fictício) festival de música e cultura automobilística.
Se você achou a premissa parecida com a de Forza Horizon, a série da Turn10 Studios sobre corridas em mundos abertos e festivais de música e automobilismo, é porque é parecida mesmo. Ainda assim, isso não parece incomodar os desenvolvedores, como explica Stéphane Beley:
“O cenário de jogos de corrida hoje é muito diversificado. Temos muitos tipos de jogos sobre vários tipos de carros, mas somos o único que realmente permite ao jogador explorar toda a diversidade da cultura automobilística desta bela ilha. Além de carros, temos aviões, barcos e motos.”
Julien Hummer, diretor de conteúdo de The Crew Motorfest, reforçou a fala do colega, afirmando que há espaço para todos dentro do gênero: “A cultura automobilística é tão universal que nossa interpretação dela não tem limites.”
O trio de desenvolvedores parecia otimista com o game que, na ocasião, só seria lançado em uma semana. Curiosamente, esse mesmo espírito se manifesta no jogo, que é ambientado em O’ahu, uma ilha no Havaí. Segundo Stéphane Beley, o clima de descontração do local fez o cenário ideal para a nova versão de The Crew:
“Quando criamos The Crew Motorfest, [o Havaí] era o lugar perfeito para nós porque lá é sinônimo de prazer e relaxamento. É o playground perfeito, cheio de biomas diferentes para curtir todo tipo de carros e culturas, com praias, cidades, vulcões. Há tantos lugares para aproveitar. É super quente, cheio de lugares e cenários lindos.”
Coração no volante
Os desenvolvedores de The Crew Motorfest mencionam frequentemente esse conceito de “cultura automobilística”. Ao longo do papo, fica claro que o trio ali presente não era formado por meros entusiastas que jogos que acabaram no gênero de corrida por acidente, mas sim verdadeiros amantes de tudo sobre carros e veículos.
Faz sentido, visto que todos dedicaram suas vidas ao gênero. Enquanto Julien Hummer é um veterano da Ubisoft, com passagem por Drive, Assassin’s Creed, Far Cry e muito mais, Stéphane Beley e Paul Narducci vieram de um estúdio francês chamado Eden Games, que desenvolveu a série V-Rally no final dos anos 1990 e, na metade dos anos 2000, os excelentes Test Drive Unlimited — com o qual The Crew frequentemente é comparado.
De V-Rally até The Crew Motorfest são mais de 25 anos dedicados a jogos de corrida. Quando perguntados sobre o apelo do gênero, é possível ver os olhos dos desenvolvedores brilharem. “É algo universal”, começou Julien Hummer, afirmando que o amor por essa cultura vai muito além das corridas.
“Sempre converso com a minha equipe sobre a relação deles com a cultura automobilística e alguns respondem que não têm muita ligação. Digo ‘Você tem certeza disso? Então me fala do primeiro carro que você teve, a primeira memória de assistir uma competição de carros na TV ou de brincar de carrinhos quando era pequeno’. Pelos 15 minutos seguintes, a pessoa relembra várias histórias relacionadas à cultura automobilística.
É universal. Todo mundo tem uma história para contar sobre carros, que se conecta à cultura e às suas paixões.”
Stéphane Beley complementou a fala e reforçou que essa paixão pela cultura além da competição é o verdadeiro DNA de The Crew Motorfest, um jogo cujo objetivo é celebrar carros e as várias histórias que eles ajudam a mover:
“Somos apaixonados por carros, a maioria desde a infância. No começo, o interessante era a competição, como na série V-Rally. Com The Crew, e Motorfest, em específico, decidimos abraçar a cultura automobilística de vez. Não é só sobre a competição. Há muitas formas de aproveitar. Customizar seu carro já é uma história por si só. Dar uma volta com ele, também. O DNA de The Crew é deixar o jogador aproveitar do seu próprio jeito.”
Pode parecer contraditório que um jogo de corrida queira se afastar da competitividade, mas The Crew Motorfest faz isso com gosto na busca por ser algo maior, mais descontraído e divertido. Os desenvolvedores frisaram muito que não querem só os jogadores hardcore, mas também aqueles que sequer entendem a importância dessa cultura automobilística — o que, segundo Stéphane Beley, é muito mais próximo do papel que os carros têm na vida real das pessoas.
“Assim como era na minha infância, quando meu pai me levava para passear de carro não era uma competição”, relembrou. “É muito mais do que uma competição e muito mais do que um esporte, é apenas dirigir.“
The Crew Motorfest já está disponível para PlayStation 5, Xbox Series X | S, PC, Xbox One e PlayStation 4.