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Mais de 40 anos atrás, o primeiro filme de Star Wars conquistou uma legião de fãs ao temperar uma ópera espacial com diferentes influências, que vão das HQs ao faroeste, sem se esquecer dos filmes de samurai. Essa última, em especial, fala alto no quarto episódio de Ahsoka, que prova, mais uma vez, que velhos artifícios da saga podem fazer magia se conduzidos da forma certa.

[A partir daqui, spoilers do quarto episódio de Ahsoka]

No quarto episódio, a mestra Ahsoka (Rosario Dawson), sua aprendiz Sabine (Natasha Liu Bordizzo) e o droide Huyang (David Tennant) estão no planeta Seatos com uma nave avariada. Sem comunicação com seus aliados ou motores para voar dali, o destino do trio é um só: se embrenhar floresta adentro para impedir que os vilões coloquem em ação o plano que pode trazer o maligno Grão Almirante Thrawn de volta do exílio forçado.

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Acontece que Thrawn não está sozinho e só está preso graças ao sacrifício de Ezra Bridger, que acabou enviado para uma galáxia (ainda mais) distante junto ao vilão. Essa informação, contida no final da animação Star Wars: Rebels, dita a natureza ambígua da missão do live-action de Ahsoka.

O objetivo principal de Sabine é resgatar Bridger, definido como “a única família que lhe resta”. Porém, o de Ahsoka é impedir a volta de Thrawn, que, por sua vez, poderia trazer o Império de volta com uma nova guerra. Esse embate fica claro logo cedo, quando a Mestra pergunta à aprendiz se ela estaria disposta a destruir o mapa que pode levar a Ezra e ao Grão Almirante em caso de vitória dos vilões.

A partir daí, o episódio estabelece uma relação de causa e consequência quase previsível. Uma simplicidade que não chega a incomodar, graças à forma como a narrativa avança essa história. Até porque Star Wars nunca foi conhecido por seu roteiro inovador. O filme original de 1977 é um dos exemplos mais óbvios de roteiro que segue à risca a estrutura da Jornada do Herói. Porém, a saga emplacou ao preencher essa estrutura clássica com uma mitologia fascinante composta pelas influências citadas acima. E é consciente disso que o quarto episódio de Ahsoka transforma um conflito batido em um grande momento.

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Em primeiro lugar, o capítulo volta a mergulhar de cabeça na ação. Após estabelecer o questionamento interno de Sabine, o episódio não perde tempo e coloca mestra e aprendiz para lutar contra um grupo de capangas dos grandes vilões. Buchas de canhão que sequer têm nomes, eles servem como um aquecimento para o que está por vir ao mostrar quão poderosas são nossas heroínas.

A exibição da dupla prepara terreno para quando elas precisam enfrentar ameaças de verdade, encarnadas nos vilões Shin Hati (Ivanna Sakhno) e Marrok (Paul Darnell). Portadora de Sabres de Luz e usuária da Força, a dupla faz frente às protagonistas e evolui disputas corriqueiras para combates grandiosos. E é nesse momento em que a herança samurai se faz presente na série.

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Ahsoka e Sabine encaram Shin Hati e Marrok (Ahsoka/LucasFilm/Reprodução)

Consciente de que o público não compraria que as vidas de suas protagonistas estariam verdadeiramente em risco no meio da temporada, a direção de Peter Ramsey (Homem-Aranha no Aranhaverso) troca a urgência pela reverência. Um foco que deu origem a duelos visualmente impressionantes que pegam emprestado toda a linguagem visual de filmes de samurai.

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Toda a movimentação dos embates implora para que essa relação seja feita. Desde a busca por clareza na hora de filmar as impressionantes coreografias de lutas performadas pelos dublês, até as poses estóicas dos combatentes e a reverência com que se tratam.

Essa combinação fica clara inicialmente no desfecho do embate entre Ahsoka e Marrok, em que há uma tensão crescente antes do golpe fatal que termina com a morte do vilão. E se torna maior ainda na sequência, quando Sabine e Shin Hati literalmente param a luta para que as heroínas possam combinar que a ex-Jedi seguirá com a missão enquanto a mandaloriana ficará para terminar seu duelo. Assim, o aguardo da vilã soa mais como um sinal de respeito a uma adversária, do que a um furo de roteiro ou algo que o valha.

Os duelos do quarto episódio de Ahsoka (LucasFilm/Reprodução)
Os duelos do quarto episódio de Ahsoka (LucasFilm/Reprodução)

Da parte de Sabine, o combate segue para dar à guerreira a chance de se provar. Sem uma conexão com a Força que lhe conceda dons, ela recorre a truques mandalorianos para fazer com que a oponente recue. Já da parte de Ahsoka, há um novo embate, mas agora com um inimigo mais poderoso: Baylan Skoll.

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Interpretado pelo saudoso Ray Stevenson, o personagem se revela um ex-Jedi que conheceu Anakin Skywalker, o mestre de Ahsoka. Como todo agente do Lado Sombrio, ele usa essa informação para corromper a oponente, questionando dores do passado dela para embaralhar seu emocional. Experiente, ela não cai na cilada e leva a briga para a parte física, dando origem a um novo combate inspirado pelo cinema samurai.

Ahsoka versus Baylan Skoll: o duelo de ex-Jedi (LucasFilm/Reprodução)
Ahsoka versus Baylan Skoll: o duelo de ex-Jedi (LucasFilm/Reprodução)

Um pacto com o Lado Sombrio

O duelo chega ao fim em meio a um impasse. Vendo sua mestra em desvantagem, Sabine pega o mapa e ameaça atirar nele caso Baylan Skoll a machuque. Sentindo o desejo da garota em alcançar Ezra, o vilão joga Ahsoka de um penhasco e oferece um trato à mandaloriana: caso ela entregue o artefato que indica a localização de Thrawn, ele garante que ela será bem-vinda na viagem e não sofrerá nenhum mal.

Para a surpresa de ninguém, Sabine aceita o trato e entrega o mapa de mão beijada para o vilão, focando na chance de recuperar seu velho amigo. Nesse ponto, vale destacar o talento de Ray Stevenson, que pouco havia aparecido desde a estreia da série. Sua atuação firme e serena dá vida a um texto simples, baseado na velha lógica interna de Star Wars de que o Lado Sombrio pode ser tentador ao ponto de corromper até o melhor de nós.

Sabine entrega o mapa a Baylan Skoll na esperança de rever Ezra Bridger (LucasFilm/Reprodução)
Sabine entrega o mapa a Baylan Skoll na esperança de rever Ezra Bridger (LucasFilm/Reprodução)

Com o mapa nas mãos e ninguém para detê-los, os vilões acolhem Sabine e partem rumo à galáxia distante para resgatar o Grão Almirante Thrawn. As heroínas até recebem o reforço de Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead), que desobedece a Nova República e reúne um esquadrão para ajudar Ahsoka e Sabine. Porém, o Esquadrão Fênix chega tarde demais, a tempo apenas de assistir aos inimigos partindo rumo aos seus objetivos.

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Por mais satisfatório que um episódio cheio de ação e desdobramentos importantes possa ser, o quarto estava se encerrando com um gosto amargo. Afinal de contas, essa é a metade da temporada de uma série chamada Ahsoka e a própria protagonista foi quase coadjuvante, já que os conflitos e o arco principal pertenciam à Sabine. Porém, os minutos finais fizeram uma promessa e tanto para a próxima metade do seriado.

O retorno de Jedi

Nos últimos minutos, é revelado que a história de Ahsoka Tano não acabou na queda do penhasco. A surpresa dessa revelação fica por conta de onde a guerreira foi parar: no Mundo Entre Mundos. De forma resumida, esse é um local que existe fora do tempo e do espaço que conecta diferentes mundos e épocas através de portais criados pela Força.

É muita informação para digerir e o funcionamento desse local deve ser explicado no próximo episódio. Porém, o fator importante é que, no presente, essa conexão possibilita o encontro entre Ahsoka e seu antigo mestre: Anakin Skywalker. Interpretado por Hayden Christensen, ele surge sorridente e chamando a antiga pupila pelo carinhoso apelido de “abusada”, dando início a um aguardado reencontro que ficará para o futuro.

Hayden Christensen volta a viver Anakin Skywalker em Ahsoka (LucasFilm/Reprodução)
Hayden Christensen volta a viver Anakin Skywalker em Ahsoka (LucasFilm/Reprodução)

Nessa altura, é fácil suspeitar que a volta de um personagem clássico pode soar mais como um truque do que como um avanço para a jornada de Ahsoka. Porém, a sombra de Anakin é algo que a persegue desde o início dessa história, especialmente porque, hoje, ela está na posição de mestra. Dessa forma, o reencontro pode ser fundamental para que a antiga padawan aprenda uma última lição e se torne a professora que Sabine precisa para salvar a galáxia.

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Se tratando de Star Wars, sempre há chance de que essas expectativas sejam derrubadas por uma execução pífia – vide séries como Obi-Wan Kenobi. Mas isso é uma preocupação para o futuro, já que o presente se fez mais do que satisfatório.

Ahsoka está disponível para streaming no Disney+. A série ganha episódios inéditos às terças-feiras.

Material Complementar

O embate entre Ahsoka Tano e Darth Vader em Star Wars: Rebels (LucasFilm/Reprodução)
O embate entre Ahsoka Tano e Darth Vader em Star Wars: Rebels (LucasFilm/Reprodução)

Boa parte de Ahsoka incorpora elementos de Star Wars: Rebels, animação que originou personagens como Sabine, Hera e Ezra. Sabendo que muitos fãs da saga podem não ter assistido à série animada, nossos recaps são acompanhados por dicas de episódios de Rebels que podem complementar a experiência de Ahsoka.

Desta vez, a indicação é o memorável encontro entre Ahsoka Tano e Darth Vader, que acontece em “A Queda do Aprendiz”, episódios 21 e 22 da segunda temporada de Rebels. Situados entre os Episódios III e IV, eles mostram a primeira vez em que a pupila encara seu antigo mestre na forma do maligno Sith que ele se tornou. Além da grande chance de ser citado no próximo episódio de Ahsoka, esse momento acontece em um dos pontos altos de Rebels, então aproveite!

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Assim como a série live-action, Star Wars: Rebels está disponível para streaming no Disney+.