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Sea of Stars é um RPG apaixonante com alma de PS1 | Review

Vivemos na era dos frame rates, ray tracing e bilhões de gigabytes, mas não importa. O tema mais forte na indústria de videogames (e até mesmo na cultura pop como um todo) é a nostalgia.

Como reflexo disso, tivemos vários remakes e remasterizações nos últimos anos, além de jogos que são propositalmente retrôs para servirem como uma carta de amor a um gênero ou franquia — como é o caso de Sea of Stars.

O jogo é um RPG indie por turnos da Sabotage Studio, do aclamado The Messenger (2018), e também é fruto de um financiamento coletivo que teve mais de 25 mil apoiadores. Consequentemente, tanto o currículo elogiado quanto o sucesso da campanha elevaram as expectativas da comunidade pelo que estava por vir.

E Sea of Stars não decepcionou. Pelo contrário. Com forte inspiração em JRPGs, o game é uma experiência nostálgica, cativante e divertidíssima, que faz o jogador viajar no tempo.

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Mar pixelado de estrelas

Sea of Stars é ambientado em um universo fantasioso, no qual magia e criaturas bizarras existem, e uma antiga luta entre forças do bem e do mal é travada há gerações.

A história acompanha Zale e Valere, os “Guerreiros do Solstício”, que, por terem nascido durante o dia do solstício de verão e inverno, têm poderes ligados ao Sol e à Lua. Por isso, são eles os destinados a derrotar as entidades malignas que assolam o mundo.

Curiosamente, o jogo não é apenas uma parte da jornada dos protagonistas, mas toda a vida deles, o que faz você descobrir sobre esse universo ao mesmo passo que a dupla. A história ainda encontra bastante espaço para explorar personagens secundários e expandir a mitologia desse universo, mas é melhor parar por aqui para evitar spoilers. Apenas fica o aviso: prepare-se para reviravoltas!

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A história tem saltos temporais para visitar o passado de personagens importantes da trama, indo além de Zale e Valere (Imagem: Sabotage Studio/Captura de tela)

Com isso, a narrativa de Sea of Stars é densa e engloba muitas figuras, conceitos, ambientações e até saltos temporais — o que leva a uma complexidade que é refletida na duração. A história principal, por exemplo, pode levar mais de 30 horas para ser concluída, e esse tempo pode se estender a 40 horas, se o jogador quiser o 100%.

Apesar de todos os arcos fazerem sentido, a narrativa poderia ser mais enxuta, uma vez que a longa duração prejudica o ritmo da trama nos momentos finais e causa até um leve cansaço no jogador. Mas não me leve a mal! A trama é rica e nada é gratuito, apenas fica a sensação de que os desenvolvedores poderiam ter dosado melhor a estrutura, sem tê-la esticado além do necessário.

O jogo sabe (e muito bem) dosar um tom leve e bem-humorado com temas e ambientações mais sérios, apresentando diferentes camadas (Imagem: Sabotage Studio/Captura de tela)

Sea of Stars apresenta um mundo pixelado com aspecto 2.5D (ou seja, usa artes 2D para simular um aspecto tridimensional) e cenários interligados, em que o jogador é livre para explorar, mas não deixa de existir um senso de linearidade.

Cada ambientação tem clima, inimigos e detalhes específicos, e tudo é bem colorido e vivo, com um bom efeito de iluminação e sombras. Os cenários têm tamanhos limitados, mas satisfatórios, com um level design bem pensado com trechos para escalar, nadar e quebra-cabeças de ambiente — tudo bastante simples, mas extremamente bem feito, rendendo em uma exploração cativante e agradável.

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O combate é divertidíssimo e exige que você seja estratégico, cuidando com as barras de vida e magia dos personagens (Imagem: Sabotage Studio/Captura de tela)

É claro que, mesmo em um lugar tão colorido e vibrante, temos porradaria — ainda mais quando forças malignas planejam destruir o mundo. O combate em turnos é intuitivo e tem uma rápida curva de aprendizagem, apesar de apresentar vários sistemas.

Com um grupo (“party”) de três personagens, o princípio das lutas é alternar entre ataques corpo-a-corpo e feitiços, prestando a atenção na restauração da barra de PM (magia) e na possibilidade de impedir que o inimigo ataque. Isso porque adversários apresentam “travas” que exigem golpes específicos para serem quebradas, impedindo-os de atacar naquela rodada. Por isso, o jogador precisa ser estratégico e saber manusear as habilidades da equipe para atacar e evitar (ou mitigar) o dano tomado.

Tudo ainda fica mais divertido com um detalhe extra nas habilidades. A maioria delas pode ter a quantidade de dano aumentada, se o jogador acertar o ‘timing’ certo do ataque. Por exemplo, Valere tem um golpe com um bumerangue, que pode ser rebatido para atingir mais alvos e aumentar o dano. Assim, a mecânica é decisiva nos confrontos e adiciona uma dinâmica inusitada à estrutura de turnos.

Como era de se esperar, há muitos chefes memoráveis! (Imagem: Sea of Stars/Sabotage Studio/Captura de tela)

De forma geral, a jogabilidade de Sea of Stars é inspirada em JRPGs, principalmente Chrono Trigger e os primeiros Final Fantasy. No entanto, o jogo se baseia em elementos marcantes do gênero, tirando uns dois dedinhos de sua complexidade — o que é algo bem positivo, porque se torna uma experiência ampla de RPG, sendo convidativa até para quem não é familiarizado com o estilo.

Um exemplo prático disso é como os personagens compartilham o mesmo nível e XP ganho. Assim, não é preciso se preocupar em subir de nível com cada um deles, poupando bastante tempo de ‘grind’ (método de repetição de batalhas).

No meio de todo o caos da história principal, Sea of Stars também aparece com um mar de conteúdo opcional. Minigames como pesca e joguinho de trivia são viciantes e divertidíssimos, mas o destaque fica para Rodas. Apesar do nome esquisito, é uma espécie de jogo de tabuleiro dentro do game sobre atacar a torre inimiga com mecânicas de sorte e estratégia — e confesso que não quero revelar quantas horas foram investidas nele.

Além disso, há atividades e arcos secundários escondidos nos cenários. Conversar com um NPC desconhecido numa taverna ou explorar a costa de uma cidade pode render uma quest, quem sabe? Desta forma, o jogo instiga você a ser curioso com esse mundo.

Ri sozinha quando um grupo de quatro vilões apareceu, e os nomes dos integrantes eram Um, Dois, Três e Quatro (Imagem: Sabotage Studio/Captura de tela)

Com o mesmo tempero retrô, a trilha sonora tem toques eletrônicos que adicionam um charme especial ao jogo. As músicas são responsáveis por estabelecer o clima aventureiro da jornada de Zale e Valere, e o destaque fica para as músicas que foram compostas pelo lendário Yasunori Mitsuda, de Chrono Trigger e Chrono Chross, que são impossíveis de não reconhecer. Ele atua como um compositor convidado no projeto, participando de 10 faixas ao todo.

Como em qualquer RPG, Sea of Stars esbanja diálogos, então a presença de texto em português é bem importante para jogadores brasileiros. Tanto a tradução quanto a adaptação de termos e gírias estão bem elaborados, como ter trocadilhos no nome de inimigos — como um sapo ninja chamado “Sapinja”, por exemplo. No entanto, há algumas palavras em descrições de habilidades que estão confusas. Não é nada que estrague a experiência, mas pode dificultar o entendimento de alguns golpes.

Por fim, o jogo não oferece nenhuma opção de acessibilidade para pessoas com deficiência (PcD). Mas apresenta uma mecânica de Relíquias, que atuam como facilitadores de gameplay, amenizando algum aspecto do combate ou dando uma vantagem ao jogador que quiser uma experiência tranquila e focada na história.

Um RPG retrô e obrigatório

Sea of Stars é extremamente cativante, desde pequenos detalhes da personalidade dos personagens até os momentos recompensadores ao resolver um simples quebra-cabeça.

É bem nítido como o jogo se inspira em JRPGs clássicos da década de 1990, apresentando elementos que são familiares a veteranos do gênero, mas com uma roupagem simplificada — e digo isso como um elogio! Em muitos momentos, me vi escrevendo charadas em papéis para resolvê-las e me perdi por horas no mapa do mundo na busca por chefes opcionais, como se tivesse voltado no tempo.

Assim, Sea of Stars é abertamente uma carta de amor. Por isso, só me resta finalizar este texto com uma frase: é uma experiência obrigatória para todo fã de RPG.


Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Sabotage Studio.

Sea of Stars será lançado no dia 29 de agosto para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One, Nintendo Switch e PC.

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