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Besouro Azul usa tempero latino para dar sabor à morna origem de super-herói | Crítica

Besouro Azul chega num momento peculiar da história da DC Comics nas telonas. Esse é um dos projetos lançados antes do já anunciado reinicio do universo cinematográfico da editora. Se, por um lado, isso pode causar desinteresse em quem espera pistas para sequências e conexões com outras produções, por outro, tira dos ombros o injusto peso de “salvar” a franquia. Um status importantíssimo para um filme que diverte, mas não marca.

O longa conta a história de Jaime Reyes (Xolo Maridueña), um jovem lidando com as pressões da vida adulta. Enquanto busca por um bom emprego e uma forma de ajudar a família em casa, ele acaba topando com o Escaravelho, um artefato alienígena que lhe concede poderes e o transforma no Besouro Azul.

Não estranhe se toda essa trama te pareceu familiar, mesmo que você não fizesse ideia da existência do Besouro Azul até o anúncio da produção. O roteiro segue, quase que à risca, a fórmula consagrada por super-heróis como o Homem-Aranha, e foca em equilibrar a vida comum com a heróica, cheia de poderes e responsabilidades. Uma decisão que causa a indesejada sensação de que o filme é mais do mesmo em um gênero tão saturado. Para fugir disso, a produção saca um de seus trunfos: a origem latina do personagem.

A herança cultural da família Reyes é fruto do trabalho de uma equipe majoritariamente descendente de países da América Latina. Capitaneada pelo roteirista mexicano Gareth Dunnet-Alcocer e pelo diretor porto-riquenho Ángel Manuel Soto, tal equipe criativa leva aspectos de diferentes culturas além do retrato estereotipado comum a Hollywood.

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Essas influências dão todo o tom do projeto e são fundamentais para a caracterização de Jaime e o mundo que o cerca. Friamente, é um trabalho admirável, por levar o personagem além do rótulo de “herói latino”, e dar a ele conflitos, aliados e filosofias próprias. É uma forma interessante de dar uma voz única e estabelecer que Jaime Reyes não é Peter Parker, deixando as comparações com o Cabeça de Teia no campo da inspiração.

É dessa forma que Besouro Azul chacoalha a velha estrutura das inúmeras histórias de herói apresentadas nas telonas. Há um retrato afetuoso nos bairros por onde nosso herói caminha, em sua família numerosa e barulhenta, além de sua bagagem cultural, que são incorporados à jornada para auxiliar tanto na ação quanto na comédia, dois dos grandes focos da produção.

Fazendo parte da América Latina e compartilhando muitas das características, costumes e interesses dos Reyes, é fácil para muitos brasileiros se encantar com esse retrato. Há um punhado de questões e até referências que certamente falarão mais alto a um público, que, em partes, já vai aos cinemas para conferir uma produção que tem como destaque Bruna Marquezine. A brasileira interpreta Jenny Kord, personagem fundamental para a história, que vai muito além do par romântico do herói. Uma tarefa tirada de letra pela atriz, que esbanja carisma em uma estreia digna de elogios.

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Além da representatividade, o passeio por essa história se faz valer ao acompanhar o desenvolvimento da relação de Jaime com o Escaravelho que lhe dá poderes, assim como as descobertas dos Besouros Azuis que vieram antes dele. Merece elogio o trabalho de Xolo Maridueña para tornar o personagem cativante e convincente como o representante do público, que também está descobrindo um novo canto do Universo DC.

O problema é que o esforço em criar identidades próprias para o herói e seu universo não chega à sua trajetória heróica. Muitos dos passos dessa parte da jornada são marcados por clichês que diminuem a força e a empolgação do projeto. Desde os vilões, passando pelos desafios e as lições necessárias para se tornar um super-herói, tudo soa repetido ou pouco inspirado.

Um incômodo que se torna ainda pior, considerando que o projeto não se sai bem quando tenta navegar por diferentes tons, que vai do drama à comédia mais infantilizada possível. Faz sentido que o filme mire em se tornar agradável aos mais diferentes perfis de pessoas que podem conferir à obra, mas há vários momentos em que essa troca se torna brusca ao ponto de chamar a atenção. Quase como se atirasse para todo lado, torcendo para acertar em algo.

O lado positivo é que os realizadores demonstram ter consciência dos problemas da história – em especial o de recorrer a clichês do gênero – e oferecem saídas que mantêm o interesse. Afinal de contas, o longa reconhece e incorpora a bagagem do Besouro Azul das HQs. Sendo um dos mais antigos heróis dos quadrinhos, que já ganhou diferentes versões ao longo dos anos, ele é dono de uma mitologia cuja exploração se torna ponto importante e divertido para a jornada.

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E é fato que, apesar de falho, Besouro Azul é conduzido com tanta empolgação, paixão e carisma, que se torna fácil embarcar e curtir a jornada – mesmo que ela não seja marcante o suficiente para ser lembrada. Com a promessa de que Jaime Reyes voltará ao Universo DC no futuro, resta torcer para que o Escaravelho o leve para voos mais ousados.

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