O Japão é um país extremamente reconhecido por seus produtos voltados para o entretenimento. Mangás e animes, por exemplo, conquistam fãs, de todas as idades, há anos, consolidando o que é chamado de “comunidade otaku“.
No entanto, o termo “otaku” nem sempre esteve relacionado ao contexto mencionado acima, considerado otimista. Na verdade, seu uso ainda é questionado por muitos, já que há, em sua terra natal, uma origem pejorativa – ou seja, com tom de piada mal intencionada ou de xingamento.
Chamar alguém de otaku no Brasil e no Japão têm significados bastante diferentes, e isso pode surpreender pessoas que acabaram de conhecer esse universo de produções. Então, vamos explicar aqui qual a origem do popular termo “otaku”.
Origem e transformações do termo “otaku”
O termo “otaku” é derivado de um vocábulo japonês para “família” ou “a tua casa” (お宅). A palavra também pode ser usada como um pronome formal de segunda pessoa (tu/você), quando falamos com pessoas que não conhecemos sobre gostos em comum, por exemplo.
No entanto, conceito contemporâneo surgiu no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, como uma forma de descrever os nerds/geeks do Japão — fãs de qualquer tópico, hobby ou forma de entretenimento (com destaque para animes e mangás), com conhecimento profundo e detalhado sobre o tema amado. Os otakus podem ser especializados em alguma animação, saga de quadrinhos ou semelhante, mas o nome também abrange os aficionados por estudos, política tecnologia, etc. Quem relacionou o termo aos visitantes de convenções de cultura pop japonesa foi Nakamori Akio, em um artigo de revista publicado em 1983.
A subcultura otaku começou a ganhar força nas escolas japonesas dos anos 1980, coincidindo com a popularização crescente dos animes pelo mundo. Porém, o termo moderno ganhou uma carga pejorativa, estereotipada e depreciativa. Otakus, nesse contexto, eram vistos como pessoas que não se encaixavam na sociedade, solitárias, e que desenvolviam paixões obsessivas por animes, mangás e outros, a fim de “fugir da realidade”.
O Assassino Otaku
Também vale mencionar um acontecimento específico que deu conotação ainda mais negativa ao adjetivo “otaku”: o caso de Tsutomu Miyazaki, que ficou conhecido como “O Assassino Otaku” em 1988.
O homem de 26 anos, na época, foi condenado por violentar, matar e mutilar quatro meninas, com idades entre quatro e sete anos. Durante a busca policial no local em que ele morava, as autoridades encontraram uma coleção de mais de 5.763 fitas de vídeo VHS, contendo animes e filmes de terror — informação que, divulgada pela mídia e reforçada pela população japonesa, rendeu o apelido de “Assassino Otaku”, entre vários outros, ao criminoso. Além disso, devido a toda a horrenda situação, um pânico contra otakus se instaurou entre 1988 e 1989 (e por um bom tempo depois).
Miyazaki foi sentenciado à morte e executado por enforcamento em 17 de junho de 2008.
O que é ser Otaku hoje?
Apesar de sua origem pejorativa e história problemática, o termo otaku começou a ser analisado de forma mais positiva/neutra desde os anos 2000. Um dos motivos para isso seria a importância desse público após a recessão econômica no Japão, em meados da década de 1990. Com a força cultural e econômica que essa subcultura proporcionou ao país do leste asiático, a própria sociedade japonesa começou a ver o “mundo otaku” com outros olhos.
Hoje, ser otaku, pelo mundo, significa ser fã de animes, mangás, novels (histórias escritas, acompanhadas de ilustrações no estilo anime), cosplays, doramas e/ou videogames japoneses — levando, muitas vezes, a um interesse geral pela cultura japonesa (língua, gastronomia, história, etc.). Algumas obras comumente relacionadas à essa comunidade incluem Naruto, One Piece, Jojo’s Bizarre Adventure, Hunter x Hunter, entre várias outras, que vão surgindo com o passar dos anos.
Curiosamente, a subcultura otaku passou por tantas adaptações sociais enquanto se globalizava que atualmente existem até vários animes e mangás abordando a própria cultura otaku — mostrando as paixões obsessivas dos personagens, com base no ponto de vista japonês, mas de forma suavizada, tendendo para a comédia. Exemplos claros incluem:
- Wotakoi: O Amor é Difícil para Otakus
- Kiss Him, Not Me (Watashi ga Motete Dousunda)
- Himouto! Umaru-chan
- WataMote
- Recovery of an MMO Junkie
Então, caso exista a dúvida sobre chamar ou não um amigo/conhecido de otaku, devido às nuances e histórico do termo, a melhor saída é: perguntar se a pessoa se sente (des)confortável com o rótulo. Esse universo singular do entretenimento japonês pode, com certeza, surpreender alguns recém-chegados, mas também apresenta uma infinidade de obras interessantes. Considerar-se parte da comunidade, ou não, fica, então, a critério de cada um.
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