Nos anos 2000, a Disney investiu pesado em filmes baseados em atrações de seus parques. O mais lembrado deles é Piratas do Caribe, que dividiu o ano de 2003 com Mansão Mal-Assombrada, outro lançamento dessa mesma empreitada. Enquanto o primeiro deu origem a uma franquia com quatro continuações, o segundo foi esquecido até ganhar um reboot que chega aos cinemas 20 anos depois. É uma pena que duas décadas não foram o suficiente para descobrir como trazer vida à franquia.

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Seguindo a temática da atração, o novo longa é uma comédia com temática de terror que gira em torno de uma antiga casa que assombra quem ousa pisar nela. Os moradores são Gabbie (Rosario Dawson) e seu filho Travis (Chase Dillon), que pedem uma ajuda ao esquisito padre Kent (Owen Wilson) que, por sua vez, recruta o guia turístico Ben (LaKeith Stanfield). Pelo caminho, chegam ainda a médium Harriet (Tiffany Haddish) e o professor Bruce (Danny DeVito). Um elenco de peso que não é capaz de salvar o filme.

Não que os problemas de Mansão Mal-Assombrada estejam nas costas do elenco, muito pelo contrário. Todos fazem jus às grandes carreiras que construíram no cinema e na TV, e ganham sua chance de brilhar e arrancar risos do público. A questão é que esses momentos se perdem em torno de uma narrativa confusa que falha em capturar e conduzir o público.

O texto pula entre acontecimentos de forma apressada, como se tivesse medo de perder a atenção do público. Essa afobação prejudica justamente o grande chamariz da produção, que é a relação entre os personagens. A dinâmica entre eles começa estranha e demora a funcionar, fazendo com que muitas das interações pareçam vindas de uma esquete – cenas cuja curta duração cujo foco é a piada, o que permite que seus personagens interajam sem muita explicação. Em um filme de duas horas, simplesmente não funciona.

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E não ajuda que o roteiro se esforce para ditar cada passo da jornada, chegando ao ponto de fazer seus personagens descreverem coisas que acabaram de acontecer. Uma medida que parece pensada para auxiliar o público infantil, mas é feita de forma tão repetitiva que pode entediar até os pequenos.

A bem da verdade, muitas dessas reclamações seriam plenamente perdoáveis se o filme tornasse divertida a exploração da tal Mansão Mal-Assombrada, mas não é o caso. Na pressa de avançar os acontecimentos e entregar respostas, não sobra espaço para conhecer o local em toda a sua esquisitice fantasmagórica.

Além de jogar o local que dá nome à produção para segundo plano, essa escolha desperdiça um dos grandes trunfos da produção, que é o próprio cenário. O elogiável trabalho do time de design de produção em criar um local abandonado ameaçador e encantador é desvalorizado por uma direção mais interessada em sustos e piadas óbvias – isso quando não cai de cabeça em uma computação gráfica que torna tudo artificial.

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Isso tudo culmina no grande problema de Mansão Mal-Assombrada, que é a de falhar em levar ao cinema a experiência de visitar a atração do mundo real. Ao invés de convidar o público para participar do passeio, a sensação que fica é a de estar do lado de fora olhando enquanto outras pessoas se divertem. Um lamento que fica ainda pior quando os representantes do público dentro da história são atores tão talentosos.

É claro que nem tudo é tragédia nesse reboot. O filme aborda o luto de uma forma simples, mas singela, que diminui a correria e traz respiro à narrativa. São justamente nesses momentos que surgem algumas das cenas mais envolventes, em que texto, direção e elenco se unem e mostram do que são capazes.

E essa não é a única vez em que o filme demonstra o que poderia ter sido. Sempre que tropeça na própria afobação, ele deixa claro o que pretendia alcançar, e a boa ideia por trás da execução ineficiente surge como uma assombração que acompanha a produção. São várias as piadas e sustos cuja preparação seguem à risca o que já foi feito à exaustão em outros filmes e séries, e ainda assim terminam de forma desinteressante, prejudicados por um timing ruim ou por uma montagem que interrompe a sequência bruscamente.

Por fim, talvez valha o mea-culpa de que Mansão Mal-Assombrada não é um desastre inassistível, e que talvez os momentos em que a comédia funciona, ou até mesmo o carisma do elenco, sejam o suficiente para fazer valer a sessão. Porém, isso é muito pouco vindo de uma produção cheia de gente talentosa em frente e por trás das câmeras. E, talvez, essa seja a grande verdadeira maldição da mansão, que não encontrou descanso eterno e foi trazida de volta à vida de forma tão desinteressante.

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Mansão Mal-Assombrada está em cartaz nos cinemas.