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Apego ao original e influências reais: como foi criar o visual da série de Avatar

Um dos grandes desafios de Avatar: O Último Mestre do Ar foi trazer uma animação cheia de elementos fantásticos para os live-actions. Lançada na Netflix, a série exigiu um grande trabalho da equipe de efeitos visuais, que misturou elementos originais com a física do mundo real para recriar esse universo que já era conhecido e adorado antes mesmo da estreia. Um desafio grandioso que fez os envolvidos se lembrarem de Game of Thrones.

Os segredos desse árduo processo foram revelados ao NerdBunker por Jabbar Raisani, diretor, chefe da equipe de efeitos visuais e produtor executivo de Avatar, e por Marion Spates, supervisor de efeitos visuais da produção. A primeira etapa do trabalho foi capturar o espírito da animação original da Nickelodeon. “Nós assistimos e voltamos a ela o tempo todo”, diz Marion Spates. Um hábito que se tornou fundamental na hora de criar o visual do live-action:

“A ideia foi olhar para ela e pensar em como dar vida de uma forma que parecesse natural, como se fosse algo que pudesse acontecer na vida real. Trabalhamos por muito tempo para tornar as dobras realistas e nos apoiamos em muitas imagens do mundo real na hora de fazer nossos elementos parecerem reais.”

Um dos desafios foi definir como seria o visual das dobras, nome dado à habilidade de dominar elementos como água, fogo, terra e ar. O grau de dificuldade para representar visualmente cada um deles variou. Como exemplo de uma menos trabalhosa – já que se recusou a defini-la como “mais fácil” –, Spates citou a de terra, por ser “mais física”.

Comandante Zhao executando uma dobra de fogo (Netflix/Divulgação)
Comandante Zhao executando uma dobra de fogo (Netflix/Divulgação)

Outra ligeiramente mais tranquila foi a de fogo, por ser “algo que já fizemos muito no passado e conhecemos os ingredientes: você precisa de fagulhas, fumaça… Para as dobras, a grande referência foi lança-chamas”. Porém, as coisas começaram a ficar complicadas com o ar:

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“A dobra de ar é mais complicada porque você não a vê, então tivemos que usar distorções para criar refrações de luz. Aprendemos muito com caças aéreos, que produzem uma distorção de calor por trás dos motores, cujos detalhes nós incorporamos. Também tínhamos empurrões dos ambientes em que os dobradores estão e pudemos usar neve e areia [para representar o ar visualmente], por exemplo.”

Spates confessou que esse foi o elemento mais difícil para trabalhar, ao ponto de se considerar um “dobrador de ar” após tanto esforço. Porém, quando o assunto tomou rumos aquáticos, ele passou a palavra para Jabbar Raisani, que acredita que nenhuma foi tão difícil de representar quanto a água:

“Somos familiarizados com água e a física dela em nossa realidade. [Com a série] estamos pedindo para o público suspender as próprias crenças e acreditar que a água é capaz de fazer coisas que sabemos que não são possíveis. Mas encontramos um bom equilíbrio ao permitir que a dobra tenha fluxo, gotas e sprays e que reflita a gravidade, por exemplo. Foi uma forma de fundamentar na realidade esse sentimento fantástico.”

Fantasia com um pézinho na realidade

A mistura entre o real e o fantástico não parou nas dobras e deu o tom de todo o projeto. Um exemplo claro está na decisão do departamento de arte em misturar elementos reais com a computação gráfica. Para Marion Spates, ter elementos reais na construção de cenários e criaturas é um dos segredos para garantir essa sensação de pé no chão mesmo nos momentos mais inventivos::

“Amamos ter elementos físicos. Os materiais que menos gostamos são aqueles em que os atores estão na frente de uma tela verde. Queremos profundidade, queremos ter algo para nos agarrar, então o que fizemos foi trabalhar com o departamento de arte para entender o que era viável para eles construírem e nós assumimos quando não era. Então, trabalhamos para que nossa parte se mesclasse melhor.”

Um exemplo dessa união são as cenas de luta, em que as dobras se unem ao trabalho físico dos atores e dublês. Exaltando o trabalho de profissionais como Jeffery Aro (Planeta dos Macacos: A Guerra), Alex Kyshkovych (Deadpool) e Alan Tang (Shang-Chi), Jabbar Raisani celebrou a união de talentos em diferentes áreas para contar a história:

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“Nos baseamos nas acrobacias que eles podiam fazer bem. Mas, quando chegava a algo desafiador demais, passávamos para os efeitos visuais. Tentamos usar o mínimo de computação possível, deixando mais para quando era impossível de fazer ou perigoso demais. A chave é a narrativa, sempre tentamos encontrar a melhor forma de contar a história.”

Equipe Avatar voando nas costas de Appa (Netflix/Divulgação)
Equipe Avatar voando nas costas de Appa (Netflix/Divulgação)

Acontece que todo esse trabalho para ter um pézinho no mundo real encontrou um limite inesperado: as criaturas. Parte importantíssima da mitologia da série, figuras como o bisão voador Appa e o lêmure Momo fugiram da regra e exigiram algo a mais da equipe técnica. Questionado sobre como foi o processo para dar vida a seres tão incríveis, Raisani diz aos risos que “foi difícil”:

“A parte mais importante para nós foi conseguir a essência deles, e isso levou muito tempo. Fizemos uma colagem de todos os frames [da animação] que consideramos importantes para nos basear e emular em nossa representação 3D. Em certo ponto não é uma questão científica, mas de sentimento. De olhar para algo e pensar ‘amo esse Appa da mesma forma que amo o da animação?’. Queríamos nos certificar que o público sentisse que são os personagens que já conhece.”

A curiosa semelhança entre Avatar e Game of Thrones

A tarefa de recriar o sentimento deixado por uma versão anterior da história não é novidade para Jabbar Raisani. Para o cineasta, a experiência de Avatar foi marcada por similaridades com Game of Thrones, uma série que focou em recriar a experiência que os leitores tiveram, mas de uma nova forma.

E o desafio foi ainda maior aqui, levando em consideração que O Último Mestre do Ar vem de uma outra mídia audiovisual, o que rendeu toda uma leva de preocupações que a produção da HBO evitou:

“Em Game of Thrones, não havia uma linguagem visual previamente estabelecida, algo que tornou Avatar ainda mais desafiador. Os fãs esperavam ver certas coisas e, se não fossem atendidos, sentiriam que o live-action ficou devendo. Isso é algo que sempre tivemos em mente. Nós analisamos a série animada quadro por quadro em busca de momentos em que poderíamos executar na nossa versão, e fizemos isso para entender o ‘sentimento’ que queríamos trazer da animação.”

A entrevista com a dupla foi realizada no dia em que Avatar: O Último Mestre do Ar chegou à Netflix, então eles não tinham ideia da reação do público. Porém, essa era uma questão que passou pela cabeça dos dois, que repetiram várias vezes sobre como estavam torcendo para que os fãs percebessem o empenho nessa cruzada para traduzir a animação para o live-action.

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Nas palavras de Marion Spates: “Nosso maior objetivo foi nos certificarmos que os fãs soubessem que estávamos prestando atenção e que queríamos deixá-los muito felizes”.

Tanto o live-action Avatar: O Último Mestre do Ar, quanto a animação original, estão disponíveis para streaming na Netflix.

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