Com certeza você ouviu que Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça é ruim e não deveria nem existir. Mas o novo game da Rocksteady brilha em alguns aspectos, principalmente os que envolvem a narrativa e apresentação de personagens, coisa que a desenvolvedora faz muito bem – e a maior prova é a série Arkham.

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Nem tudo são flores, claro, mas o julgamento precipitado pode privá-lo de algumas horas de divertimento honesto para um jogador. Já o multiplayer do jogo pode causar certos contratempos.

Marketing traiçoeiro

Quem diria que esse grupo de vilões dariam bons protagonistas colocados lado a lado num jogo? (Warner Games/Divulgação)

Vítima de uma das piores campanhas de publicidade de um game nos últimos 10 anos, Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça precisou adiar o lançamento para escapar do fandom que queria a sua cabeça. Sob a alcunha de “jogo como serviço”, o título apostou as fichas num gênero já exaurido, com jogos como Destiny, Fortnite ou o próprio game dos Vingadores, cancelado menos de três anos após o lançamento.

Na verdade, é difícil entender de onde veio a ideia de um gameplay focado em multiplayer e dividido em temporadas. Será que Gotham Knights já não foi uma experiência negativa suficiente do estilo de jogo dentro do nicho dos fãs da DC? Será que foi a melhor escolha da Rocksteady na hora de pensar uma “continuação de legado”? Afinal, os jogos da série Arkham são tidos como alguns dos melhores de super-heróis já feitos para videogames (sem contar o spin-off Arkham Origins).

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O pior de tudo é que a história deste novo título é boa, e condiz com o que a desenvolvedora costuma fazer na hora de trabalhar os heróis da DC dentro do seu próprio universo. A equipe teve a paciência de criar todo um cenário, focado em Gotham, mostrando o futuro de alguns personagens após os acontecimentos da trilogia Arkham. Toda a sequência é muito boa e culmina numa caçada absurdamente tensa em que o Batman persegue a Força Tarefa X quase num formato Dead By Daylight.

A escolha do elenco segue mais ou menos o padrão do que a Warner já trabalhou no cinema. Pistoleiro, Capitão Bumerangue, Tubarão-Rei e Arlequina constroem o quarteto que dita a loucura da história toda. E, apesar das inúmeras versões dos personagens que já existem por aí, as criações da Rocksteady têm a sua própria dose de carisma e ineditismo.

O jogo também apresenta Metrópolis que, em termos de mundo aberto, é uma cidade linda. Uma mistura futurista de uma metrópole com toques steampunk, mas também com muitos neons, estátuas gigantes dos heróis e uma certa verticalidade – dada a proposta do jogo de fazer o jogador viajar pelos telhados, e não pelas ruas da cidade. Ela também é praticamente vazia, já que sua população foi dizimada pela Liga antes do jogo começar. Funciona apenas como um belíssimo grande cenário, sem vida ou lugares para visitar. Não deixa de ser um certo desperdício, já que esse mundo poderia ser facilmente povoado por alguns NPCs sobreviventes, com bases específicas ou locais para visitação além do Hall da Justiça e da torre de Lex Luthor.

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A Liga da Justiça vai morrer mesmo

Imagem de Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça
A versão malvada do Flash não perde o “senso de humor” (Warner Games/Reprodução)

Nem mesmo os personagens do jogo acreditavam que poderiam vencer a Liga da Justiça. O jogador já inicia o game dando de cara com o Lanterna Verde e o Flash, e não é difícil pensar: “Como é possível lutar contra eles?”. A diferença de poder entre os membros da Liga e a Força Tarefa X é imensurável e deixa tudo mais divertido, porque o mistério de como vencer os heróis é o que move a história.

Tal história, infelizmente, é curta. Os principais acontecimentos relacionados à Liga, por exemplo, podem ser resolvidos com menos de 10 horas de jogo. Para contexto, Brainiac escravizou os integrantes da equipe de heróis e os transformou em algozes do caos. E eles fazem por merecer: são cruéis em todas as cenas que aparecem, sempre debochando dos mais fracos e se mostrando carniceiros de primeira qualidade – o Batman que o diga, já que os cenários por onde ele passa podem ser confundidos com filmes de terror, tamanha a quantidade de corpos pelo caminho.

Justamente por isso, os integrantes da Força Tarefa X precisam de certos equipamentos para matar a Liga. Sabe aquela história do Batman “com preparo”, que bolou uma estratégia para vencer cada um dos integrantes da Liga, caso eles se tornassem tiranos? Pois bem, a base do roteiro é mais ou menos em cima disso, só que de uma forma muito mais bagunçada. Inclusive, tem uma piada sobre isso no game, se você chegar até lá, vai curtir.

Imagem de Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça
Visualmente, o game é lindo e faz jus a atual geração de consoles (e a interface não atrapalha o gameplay) (Warner Games/Reprodução)

Como dito anteriormente, o jogo é dividido em arcos, e cada um deles é representado por um integrante da Liga. Até chegar a hora de enfrentar um determinado chefe, o jogador precisa realizar algumas missões para certos NPCs, entre eles o Pinguim, o Charada, uma nova versão da Hera Venenosa (explicada na trama, já que ela morre em Arkham Knight), do Homem-Brinquedo e da Hack, todos controlados por Amanda Waller.

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E o principal problema do jogo está nessas missões. As primeiras cinco horas de jogo fluem de forma quase perfeita. Aí chega no momento em que praticamente todas as missões do jogo foram definidas. Hordas para enfrentar, resgates, testes de habilidades e defesa de comboios… Toda a ação de Esquadrão Suicida se apresenta dessa maneira, de forma repetitiva e com pouco espaço para a criatividade fluir.

Um ponto positivo nisso tudo é que o combate é extremamente agitado, cheio de explosões e ataques especiais. Não é preciso poupar barras de especial e a mistura do combate corpo a corpo e tiros à longa distância forçam o jogador a experimentar estratégias menos convencionais do gênero. Só é difícil entender os ataques corporais do Pistoleiro e do Capitão Bumerangue, já que eles não são ataques de perto e utilizam suas armas normais – o bumerangue e os braceletes metralhadoras. É estranho, mas pelo menos funciona.

Final em temporadas

Imagem de Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça
Uma péssima ideia entregar o final do jogo em temporadas (Warner Games/Reprodução)

Mas a pior coisa de Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça é o final. O conceito de que a continuidade da história no formato de temporadas era a melhor escolha para prender o jogador é de uma ingenuidade absurda. E o pior é tudo estava indo bem nesse sentido, até o encerramento.

Em linhas gerais – tomando cuidado para evitar spoilers –, o game apresenta um Multiverso, aquele mesmo utilizado para tentar corrigir besteiras criadas pela DC em diversas mídias. No game, o Multiverso envolve 13 mundos iguais ao nosso, mas diferentes. E, por conta disso, há a possibilidade da integração de personagens como o Coringa, morto desde o segundo jogo da trilogia Arkham, e já prometido para a primeira temporada.

A primeira temporada em si ainda não foi liberada (mas está prometida para março), e as próximas deixam os personagens em sigilo (mas dá para saber por algumas das silhuetas, né?). Só que o maior desafio do time da Rocksteady vai ser atrair os jogadores para esse universo, tão distante de tudo que eles já fizeram até aqui em termos de desenvolvimento de jogo. O balde de água fria após o final com essa questão de temporadas vai deixar muita gente completamente desestimulada.

Há também toda a questão de compras de itens dentro do jogo, embora não exista nada que vá facilitar a sua vida na hora do combate. Todos os itens são cosméticos, e alguns mexem bastante com a nostalgia ou vontade de querer uma roupinha mais legal para os personagens disponíveis. As microtransações acontecem com o dinheiro do jogo, que precisa ser comprado com dinheiro de verdade na loja online da plataforma em questão. Tal adição pode ser lucrativa em alguns casos, mas fica a dúvida se vai funcionar neste game já que, além dos cosméticos, o jogador já precisa pagar (e muito) pelo jogo base.

Aparando as rebarbas

Imagem de Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça
Parece variado, mas as missões são similares demais entre si, e isso não faz bem à longo prazo (Warner Games/Reprodução)

Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça funciona à base de uma conexão com os servidores da Warner. Até aí, nenhuma novidade, já que vários jogos exigem esse tipo de conexão. O problema é que, de vez em quando, as missões não carregam direito, e é necessário resetar o jogo para que o destino da missão seja revelado, por exemplo – aconteceu umas duas vezes durante a minha jogatina, pelo menos.

Na companhia de outros jogadores, acabei encontrando certos problemas. Em certos momentos há o desync da missão e ela não pode ser concluída, em outros, os NPCs ficam invisíveis nas cutscenes, mas tudo de forma bastante aleatória. Não dá para saber quando esses problemas vão pipocar na tela, mas a esperança, sempre, é de que nunca apareçam.

No final das contas, Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça podia ser muito melhor, não fosse a ideia bizarra de transformá-lo num Game as a Service, ou “jogo como serviço”. O título reúne história bacana, bom desenvolvimento de personagens, dublagem excepcional, mas tem um final abrupto e anticlimático, que leva o jogador para a primeira temporada de conteúdos, mesmo que contra a vontade. Agora resta saber como o jogo vai se sustentar nesse formato, se realmente teremos um conteúdo à altura do que a Rocksteady já produziu no passado e suficientemente bom para convencer as pessoas de que o serviço vale a pena.


Esta review foi feita no Xbox Series X, com cópia cedida pela Warner Games.

Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça está disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC.