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Turma da Mônica Jovem se perde entre pressão e expectativa | Crítica

Os personagens de Mauricio de Sousa são tão amados pelos brasileiros, que qualquer notícia em relação a eles é capaz de mover multidões. Porém, o anúncio do filme Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo foi especialmente marcado por uma polêmica devido ao fato de que a produção não contaria com os atores de Laços (2019) e Lições (2021) para dar vida à Turminha. Um fato curioso, já que o novo elenco é, na verdade, um dos acertos de uma produção marcada por outros problemas.

O novo filme da Turminha acompanha Mônica, Magali, Milena, Cebola, e Cascão entrando no Ensino Médio. O primeiro dia, que deveria marcar o início de um novo ciclo, se torna fonte de preocupação com a notícia de que o museu do Bairro do Limoeiro vai fechar. Com isso, o grupo se une para impedir que um pedaço da história local se perca, enquanto lida com questões de amadurecimento e, também, de ordem sobrenatural.

O primeiro grande contratempo de Reflexos do Medo vem da forma como os realizadores lidam com o desafio de se distanciar do que veio antes. Se o filme marca o início de uma nova fase dentro e fora das telas, o roteiro falha ao pular etapas. É claro que o público, incluindo o dos cinemas, já conhece a Turma da Mônica, mas isso não justifica a pressa na hora de estabelecer a trama.

Em apenas uma cena, a de abertura, a produção apresenta uma nova versão dos personagens, estabelece a dinâmica entre eles, seus arcos, objetivos e temores. Coisas demais para um único momento, que força uma conexão com o público que não acontece nem mesmo utilizando a muleta da nostalgia do reencontro com personagens tão queridos, ainda mais considerando que é a primeira vez que os vemos com esses rostos. Um problema que reverbera em todo o restante da narrativa.

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Com um início fraturado, a trama evolui aos solavancos e sofre para conectar seus enredos. A sensação de que há algo faltando é constante, mesmo com os personagens praticamente verbalizando todas as viradas e aprendizados. Essa fragilidade disfarça grandes buracos em forma de ganchos, o que nos leva ao verdadeiro mau sinal, que passou batido pelo anúncio da troca de elenco: Reflexos do Medo é o primeiro filme de uma quadrilogia.

É claro que anunciar um pacote de lançamentos não é necessariamente ruim, mas isso parece ter impactado o projeto negativamente. É constante a sensação de que a produção está deixando questões a serem resolvidas nas tais sequências. Porém, se o presente não é cativante ou empolgante por si, de que adiantam promessas do que está por vir? E é nesse cabo de guerra entre a pressão de evitar o passado e a expectativa em preparar o futuro que a produção quase desperdiça seu potencial.

Esse “quase” surge como uma ironia do destino, já que o que salva Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo é justamente o elenco. A começar pela turma principal, o quinteto formado por Sophia Valverde (Mônica), Xande Valois (Cebola), Bianca Paiva (Magali), Théo Salomão (Cascão) e Carol Roberto (Milena) constrói uma união que convence como um grupo de amigos que se conhece há tempos.

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O grupo trafega bem entre manter as características consagradas dos personagens na versão “clássica” e a criar caminhos inéditos com essa nova roupagem. Em especial, chamam a atenção a Magali e seu pézinho no sobrenatural, e Cascão, que se torna a alma do grupo ao construir pontes entre os amigos e trazer humor. E há coadjuvantes que também merecem destaque, como Carmen Fru-fru (Giovanna Chaves) e Denise (Carolina Amaral), que fazem muito com o pouco tempo em tela.

É uma pena que até mesmo os atores sejam prejudicados por outros elementos da produção, desde um texto cheio de clichês, até uma edição que quebra momentos de comédia e drama. Questões que tornam a aventura toda um tanto genérica e precisam acender a atenção da equipe para as continuações.

Afinal de contas, é possível fazer muita coisa com a Turma da Mônica, algo que vem se provando tanto nas HQs – em projetos como a própria versão Jovem e as Graphic MSP – quanto fora delas. Nesse caso, o pecado capital é contar uma aventura pouco inspirada e desinteressante, que não honra a expectativa criada em torno desses personagens. Com o ingrediente principal, que é uma Turminha convincente, ainda é possível ter esperança por essa série de filmes. Isso é, desde que os realizadores encarem de frente o medo e seus reflexos.

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