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True Detective: Terra Noturna equilibra novidade e tradição em estreia contida

True Detective retornou à HBO com uma missão complicada. Além da tarefa de dar sequência a uma das grandes séries da emissora, Terra Noturna é a primeira temporada sem envolvimento do criador, Nic Pizzolatto. Entre a liberdade de trazer novas ideias e a responsabilidade de honrar o que veio antes, a produção fez uma estreia contida, focada em apresentar suas protagonistas e o mundo que as cerca.

Seguindo o formato de antologia, o quarto ano conta uma história inédita, cuja única ligação com as anteriores é somente a estrutura de acompanhar uma dupla de detetives investigando um caso sinistro. A situação da vez é o misterioso desaparecimento de trabalhadores de uma estação de pesquisa na cidade de Ennis, no Alasca, durante o período em que o local passa meses sem luz solar, em dias literalmente noturnos.

Inicialmente, a investigação fica por conta de Liz Danvers, cuja presença já remonta a uma das tradições de True Detective: contar com um elenco de peso. A detetive é interpretada por Jodie Foster, atriz com uma grande carreira que inclui projetos como o clássico O Silêncio dos Inocentes (1991), em que também viveu uma personagem no encalço de um assassino. A ligação entre as produções, feita quase instantaneamente por fãs de suspense, é utilizada pela série com sabedoria.

O episódio piloto dedica muito tempo a estudar Danvers, esteja ela com ou sem distintivo. Entre a etapa inicial do caso e os problemas pessoais, a narrativa demonstra na prática os grandes dotes investigativos da detetive, sua rigidez moral temperada com ceticismo e até um senso de humor ácido, mas pontual. Ingredientes que tornam explosivas as primeiras interações com sua parceira no caso.

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O par de Liz Danvers é Evangeline Navarro, personagem que marca a estreia de Kali Reis, de Infiltrada – Golpe de Vingança (2021), nas séries. Uma responsabilidade que a atriz encara sem medo e compensa a pouca experiência em tela compondo uma personagem firme e segura mesmo nos momentos mais delicados e desafiadores em que é exposta. E não são poucos, considerando sua situação inédita dentro desse universo.

Terra Noturna apresenta Navarro como uma ex-policial rebaixada a patrulheira, o que aumenta a tensão na dinâmica com Danvers, que inicialmente rejeita a participação da ex-colega no caso. Um tópico que traz de volta outra assinatura de True Detective: a importância do passado e suas questões mal resolvidas. Isso promete dar pano para manga não só em relação ao caso principal da série, como também do passado das personagens em suas vidas pessoais, incluindo a forma como Evangeline leva certas coisas para o pessoal.

Jodie Foster e Kali Reis como Liz Danvers e Evangeline Navarro em True Detective: Terra Noturna (HBO/Reprodução)
Jodie Foster e Kali Reis como Liz Danvers e Evangeline Navarro em True Detective: Terra Noturna (HBO/Reprodução)

A Cidade e as Trevas

A dupla responsável pelo caso só não brilha sozinha porque a estreia da nova temporada tira muito tempo para explorar Ennis, a cidade em que a produção se passa. Mantendo a tradição de apresentar um local inédito a cada ano, True Detective mostra que Ennis é situada em uma parte do Alasca que passa dias inteiros sem ver o nascer do sol. Essa condição é aproveitada pela série tanto narrativa quanto visualmente. No primeiro aspecto, a estreia aborda alguns dos diferentes tipos de “escuridão” do local, que aproveita as sombras para esconder segredos e ameaças.

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No segundo, há um trabalho afiado de departamentos técnicos que dão vida a esse lugar, que se torna opressivo graças à combinação de falta de luz e excesso de neve, seja na rústica arquitetura tradicional ou nos ambientes mais tecnológicos. Tal trabalho ganha vida na cinematografia de Florian Hoffmeister, que brilha ao tornar Ennis vasta e claustrofóbica ao mesmo tempo. Um palco perfeito para um mistério angustiante.

Até aqui, pode parecer que o foco dado às detetives protagonistas e à cidade deixam o caso da vez em segundo plano, mas não é bem por aí. Todas essas dinâmicas, e mais alguns ganchos para o futuro, são desenvolvidas justamente pelo sumiço dos pesquisadores, mesmo que em estágio inicial. Uma escolha cautelosa por parte de Issa López, showrunner que escreveu e dirigiu o piloto, que decidiu criar conexões antes de cair de cabeça na investigação.

Ennis, a cidade do Alasca em que se passa True Detective: Terra Noturna (HBO/Reprodução)
Ennis, a cidade do Alasca em que se passa True Detective: Terra Noturna (HBO/Reprodução)

O grande porém da estreia está no tratamento dos elementos sobrenaturais. A dúvida a respeito da ação de forças ocultas é uma marca registrada de True Detective, mas sempre de uma forma dúbia e abstrata. Terra Noturna, por sua vez, aborda esse aspecto de forma quase definitiva, algo que uma condução apropriada, no futuro, pode fazer com que não seja exatamente um problema no panorama geral das coisas.

Mas, no primeiro capítulo, esse lado causa uma má impressão pela forma óbvia como foi retratado. Desde questões menores, como quedas de luz quando há menção a algo sinistro, até maiores, como visões que convenientemente colocam a trama para andar, acabam ligando um alerta a respeito de um aspecto que promete impactar muito no panorama geral.

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Ainda assim, a estreia de True Detective: Terra Noturna deixa uma impressão muito positiva. Com seu caso principal estabelecido e sementes para o futuro, a primeira parte criou uma base sólida e cativante o suficiente. Resta saber se essas ideias serão boas o suficiente para florescer ou se serão soterradas pela neve e escondidas pelas sombras.

True Detective: Terra Noturna ganha novos episódios na HBO e na HBO Max aos domingos. Os capítulos são transmitidos às 23 horas, no horário de Brasília.

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