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Príncipe da Pérsia: A Coroa Perdida revitaliza franquia com ótimo metroidvania | Review

Ainda estamos nos recuperando do ano movimentado que foi 2023 na indústria de games, marcado por uma avalanche de lançamentos excelentes; Mas 2024 já começa com o pé na porta — e com um novo Prince of Persia, quase 14 anos após o último título original da franquia.

Príncipe da Persia: A Coroa Perdida é um pouco diferente do que tornou a saga conhecida. Ao invés de um game de plataforma 3D, o novo título retoma a perspectiva 2D lateral dos originais e eleva tudo com bastante exploração, combate desafiador e mundo expansivo. Sim, é um autêntico metroidvania, em que a Ubisoft pega emprestado elementos tradicionais do gênero e de outros jogos diferentes para criar uma obra muito competente.

Noite horrível para uma maldição

Novo Prince of Persia acerta a mão no combate e na exploração [Créditos: Captura de Tela]

No novo jogo, Sargon é um Imortal, como são chamados os lendários guerreiros que defendem a realeza persa. Mesmo altamente talentoso no campo de batalha, sua habilidade é colocada em teste quando o príncipe Ghassan, herdeiro ao trono da Pérsia, é sequestrado.

Sargon parte em busca de resgatá-lo e é levado ao Monte Qaf, local amaldiçoado que desafia seu espírito e até mesmo as leis do tempo e do espaço. No meio disso tudo, o guerreiro precisa se aperfeiçoar, triunfar e enfrentar um possível ato de traição, em meio a um cenário repleto de perigos, corredores secretos, criaturas e anomalias temporais.

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Com bastante foco em exploração, A Coroa Perdida é conduzido como um metroidvania, o estilo de jogo popularizado por Metroid e Castlevania, em que o jogador desbrava gradualmente um extenso mundo interconectado, adquirindo novas habilidades pelo caminho para desbloquear trechos até então bloqueados.

O game segue a fórmula à risca, com algumas modernizações bem-vindas para quem nunca se deu bem com o subgênero. Assim como o castelo assombrado do Drácula em Castlevania, o Monte Qaf é colossal, com áreas muito diferentes entre si, cada uma marcada por criaturas, dinâmicas e desafios únicos. Ao longo da jornada, é uma surpresa constante reparar que o mapa é maior do que o imaginado. Assim, é possível gastar horas se aventurando por um canto apenas para descobrir que há ali diversas outras seções gigantescas que sequer foram tocadas.

Explorar o Monte Qaf e sua grande variedade de ambientes é muito satisfatório [Créditos: Captura de Tela]

Uma das modernizações vem na forma de um modo de exploração guiada, em que o mapa no menu de Pausa apresenta direções e indica por onde prosseguir com as missões principais ou secundárias. É totalmente opcional, o que significa que os jogadores old school e aventureiros podem ir desbravando o local às cegas, mas a opção ajuda bastante quem se frustra ao enroscar em um beco-sem-saída.

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Seja no modo Guiado ou no Normal, é muito agradável explorar o cenário, encontrar itens escondidos e textos mitológicos, ou então destravar atalhos que facilitam a vida e otimizam rotas. É satisfatório enfrentar desafios de plataforma com saltos, mortais de costas, corridas pela parede e muitas outras técnicas que são desbloqueadas pela jornada. De certa forma, é possível ver aqui muito da jogabilidade que consagrou a era 3D de Prince of Persia, com a movimentação fluida e repleta de acrobacias se fundindo com a dinâmica de exploração de um metroidvania.

O combate também parece saído de um hack and slash 3D. De início, é simples apertar um botão de ataque e outro de defesa, mas logo fica evidente que tudo é mais profundo do que parece. É possível jogar inimigos para cima e “combá-los” no ar, assim como usar as mecânicas de exploração de forma ofensiva, como ao emendar um chute no final de uma deslizada, ou então usar habilidades de teletransporte temporal para escapar de porradas.

Se prepare para passar um pouco de sufoco até dominar as mecânicas do game [Créditos: Captura de Tela]

Ao ritmo que a jornada avança, o jogo passa a cobrar o domínio e interligação dessas mecânicas. É muito empolgante a sensação de estar à altura do desafio, sobrevivendo a fases repletas de perigos por todos os lados, mas alguns momentos podem soar um pouco truncados e frustrantes. As lutas contra chefões, por exemplo, costumam apenas pedir que o jogador memorize padrões de ataque e esquiva, o que cria uma experiência meio cansativa, que não utiliza realmente todo o alcance das habilidades do protagonista de uma forma criativa.

Ainda assim, o game acerta nos dois principais elementos que usa como base: exploração e combate. Ambos são simples de pegar e sair jogando, mas se mostram mais densos de acordo com o interesse do jogador em cutucar os vários sistemas. Por si só, isso já faz com que o game mereça atenção do público, mas A Coroa Perdida ainda traz bastante estilo e influências modernas.

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Panelão da Ubisoft

Atento à cultura pop, novo Prince of Persia é influenciado por todo tipo de obra, de Corra! a Aranhaverso [Créditos: Captura de Tela]

É bom dizer que o game é um pouco mais longo do que parece, com a campanha podendo levar algo em torno de 20 a 30 horas, dependendo da sua facilidade em explorar, combater, resolver puzzles, vencer chefões e empenho em concluir missões secundárias. Em vários momentos fica a sensação de que tudo se estende mais do que deveria, mas há esforço genuíno dos desenvolvedores em garantir um fluxo constante de variedade. É aí que influências de outros jogos dão as caras.

Ao mesmo tempo que usa um estilo tão clássico quanto o metroidvania como base, o título se mostra sintonizado com outros títulos mais recentes. Comparar qualquer coisa com Dark Souls já se tornou piada recorrente da crítica especializada, mas é impossível negar a influência da obra da FromSoftware aqui — que, por sua vez, também bebeu bastante dos metroidvanias.

Isso se manifesta nos encontros com NPCs, cheios de diálogos enigmáticos, e nos ambientes, em que catacumbas e cidades luxuosas coabitam em lados opostos do mesmo mundo. O ritmo do combate, o design dos chefões, o foco em rebater ataques — tudo isso é fruto direto de Dark Souls.

Além disso, A Coroa Perdida também traz acenos a jogos como Celeste, que parece ser a principal referência em termos de design de plataforma desafiador. Tanto os obstáculos quanto a dinâmica de se mover por eles parecem moldados pelo indie queridinho de 2018. Momentos em que é possível desviar do caminho principal e se arriscar por trechos bastante árduos do mapa, só para obter itens especiais como moedas e materiais de upgrade, trazem o mesmo gosto de suor e estresse que Celeste entregava para quem quisesse coletar os morangos opcionais do game.

Assim como Aranhaverso, A Coroa Perdida frequentemente brinca com estilos diferentes [Créditos: Captura de Tela]

Mas as principais influências de A Coroa Perdida não estão nos games. Altamente estilizado e colorido, com efeitos que enfatizam a ação e o drama, toda a estética do jogo surfa a onda de sucesso de Homem-Aranha no Aranhaverso, que provou que há enorme demanda por obras que abraçam as peculiaridades da animação. Ao mesmo tempo, tudo é moldado por animes — como golpes finalizadores que parecem saídos de Dragon Ball, ou uma trama digna de shonen, em que Sargon aprende o significado de ser um guerreiro enquanto encontra a própria força.

Como ficou claro, é difícil não discutir Principe da Persia: A Coroa Perdida sem comparar com outras obras. Isso parece intencional. O game nada mais é do que uma grande mistureba de influências, sem medo de esconder isso do público. Mas essa mistura não é imprudente. Há uma cuidadosa curadoria por trás da escolha de quais elementos foram importados de outras obras, e entendimento profundo do que os torna tão bons assim.

O resultado é algo que cria personalidade própria através da justaposição, como um cover ou um remix que soa inédito, ficando a altura do original de jeitos diferentes. É visível que a Ubisoft buscou uma alternativa segura para resgatar Prince of Persia, apostando em criar um game a partir de tudo que fez sucesso ao longo da década em que a franquia ficou dormente. Curiosamente, no impulso de surfar a onda do momento e tirar um pouco de outros jogos, filmes e animes, o estúdio acabou por criar algo original, ousado e excepcional.

Príncipe da Pérsia: A Coroa Perdida chega ao PlayStation 4, Xbox One, PC, PlayStation 5, Xbox Series X | S e Nintendo Switch em 18 de janeiro. A review foi feita com base na versão de Xbox Series X, disponibilizada pela Ubisoft.

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