Poucas franquias conseguem fazer o que Yakuza faz, transitando tão bem entre os assuntos que podem ser considerados mais “sérios” e a galhofa, mostrando que nem tudo precisa ser tão levado a sério o tempo todo enquanto apresenta um drama intenso, protagonizado por personagens carismáticos, ainda que fora-da-lei.
A temática de máfia japonesa se encaixa com discussões atuais e políticas, e também é a desculpa perfeita para mostrar um pouco mais de uma cultura que desperta tanta curiosidade e interesse das pessoas de outros países. Ao menos no Brasil, a cultura pop japonesa é amplamente apreciada através de mangás, animes, doramas, culinária, e mais.
Os jogos de Yakuza estão por aí desde 2005, no Japão, chegando no resto do mundo em 2006. Ao todo, foram 18 títulos lançados entre a série principal e derivados, sem contar os remakes, o que dá a dimensão do sucesso e da importância da franquia, que está às vésperas de receber um novo título, o Like a Dragon: Infinite Wealth.
É de se esperar que, com essa quantidade de conteúdo criado, fique mais difícil inovar e fugir de conceitos tão bem sucedidos e estabelecidos para Yakuza. Ao longo dos anos, o elenco de personagens viveu diversas aventuras e desventuras, compartilhando-as com os fãs da franquia. E é difícil desapegar deles e também das mecânicas que popularizaram o título lá em 2005.
Porém, o Ryu Ga Gotoku Studio decidiu se arriscar e testar um gênero que ainda não havia explorado muito, levando o universo da franquia para o RPG por turno em 2020, com o lançamento de Yakuza: Like a Dragon.
Com um milhão de referências, o título se tornou um sucesso e o novo protagonista, Ichiban, conquistou o público com seu carisma, aparência amigável e, claro, com o jeitinho otaku de ser. A personalidade de Ichiban contrasta com a do protagonista anterior, Kazuma Kiryu, que era muito mais sério (ao menos, por fora).
Ver os dois juntos se tornou um desejo do público e dos desenvolvedores, que trabalharam a ideia e fizeram surgir agora Like a Dragon: Infinite Wealth. Mais que uma passagem de bastão, o novo jogo promete expandir os limites do que o estúdio havia feito, que já era muita coisa, e trazer novidades insanas de gameplay.
Fomos até Nova York para jogar o novo título, conferir as novidades e bater um papo com um dos produtores do novo jogo.
Até logo, Japão!
Like a Dragon: Infinite Wealth leva a franquia Yakuza para fora do Japão e aterrissa no Havaí, trazendo um novo clima para as peripécias de Ichiban e companhia.
Enquanto busca por sua mãe, Ichiban se mete em várias confusões como num bom filme pastelão. A trama, porém, vai além disso e coloca os protagonistas no meio de uma briga entre as máfias japonesa e havaiana, trançando a origem do próprio Ichiban no rolo.
Hiroyuki Sakamoto, produtor do jogo, conta que a ideia de levar a franquia para outro país nasceu da história em si, de desenvolver a narrativa de Ichiban levando-o para mais perto de sua mãe.
“Cogitamos colocar os protagonistas como infiltrados em outra máfia internacional, mas a ideia não foi continuada.”
Para inserir os personagens no Havaí de forma fiel, o Ryu Ga Gotoku Studio pretendia visitar o local para estudá-lo e recolher materiais, mas tudo isso foi adiado por conta da pandemia de 2020. Então, foi necessário encontrar outro jeito de fazer a pesquisa.
Com a ajuda de guias locais, os desenvolvedores conseguiram mapear e recriar o clima de parte do arquipélago de longe, dando ao jogo a verossimilhança geográfica que buscavam.
Quando perguntado se já teria o próximo destino de Ichiban e sua turma em mente, o produtor não descartou a possibilidade de levar a franquia para outros países, mas deixou bem claro que o foco do desenvolvimento dos jogos é a trama, que funciona como guia principal para que elementos sejam adicionados.
“Nós decidimos ir para lugares que parecem divertidos, e que combinam melhor com a história que queremos contar.”
A queda do Dragão de Dojima
Infinite Wealth promete uma dose cavalar de melancolia e nostalgia, pois os jogadores acompanharão o que pode ser a última aventura de Kazuma Kiryu, que protagonizou os primeiros sete jogos da franquia.
Além de ter uma vida de luta contra organizações, vilões e mais, Kiryu ainda tem que enfrentar uma última batalha contra o câncer, o que o faz revisitar lugares e reencontrar pessoas. O clima de luto é ainda mais real para fãs de longa data da franquia, pois o Dragão de Dojima está se despedindo de partes importantes da vida, que foram mostradas nos outros títulos de Yakuza.
São momentos emocionantes e que conseguem transmitir pesar por um personagem querido, capaz de impactar até mesmo quem não está muito familiarizado com Yakuza. É uma homenagem muito bonita para tudo o que a franquia conquistou, ao mesmo tempo que abre espaço para a famigerada passagem de bastão para Ichiban.
Quem conhece os jogos originais pode esperar várias referências nada sutis a momentos dos títulos anteriores, enquanto a trama guia Kiryu por lugares como Kamurocho e o leva até locais cheios de memórias das aventuras do personagem, acompanhado de velhos amigos.
Embora já tenha tido um desfecho antes, a história de Kiryu parece sempre voltar à tona, e isso foi confirmado pelo produtor Sakamoto, que revelou que, mesmo após o fim de Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name, os desenvolvedores nunca pensaram em dar um descanso para Kiryu: “Um yakuza nunca terá descanso.”
Dondoko Island
Por fim, temos que falar sobre a Ilha Dondoko e sim, é como Animal Crossing no universo de Yakuza. A desculpa dada pelo enredo é de que Ichiban fica encarregado de ajudar na revitalização de um resort na ilha de Dondoko, e o resultado é óbvio: caos e soluções nada convencionais.
Sakamoto revelou que a primeira ideia da equipe foi de incluir um novo modo de jogo que fosse de sobrevivência, mas que, no fim das contas, optaram pelas mecânicas de “restauração” da ilha porque julgaram que seria mais divertido.
E realmente é. Como uma grande fã de Animal Crossing, o que mais me marcou neste modo de jogo foi justamente a impressão de que as missões e tarefas dadas tornam-se ridículas quando se coloca um mafioso para fazê-las. E digo isso da forma mais positiva possível.
É divertidíssimo coletar recursos com Ichiban, que não usa ferramentas como enxada ou pá, e sim um taco de beisebol para destruir pilhas de lixo, derrubar árvores e até mesmo quebrar pedras. Isso sim é multiuso.
Com os materiais coletados, o jogador é capaz de criar móveis e decorações para embelezar o resort e trazer sua glória de volta, um banquinho de cada vez.
Toda essa parte do gameplay promete ocupar bastante tempo dos jogadores, que podem acessar a área para relaxar e distrair a cabeça.
O que o futuro reserva para Yakuza?
Saí do teste animada com o futuro de Yakuza. A sinceridade do produtor e o empenho para manter a franquia divertida, cheia de nonsense, e ainda assim ancorada em aspectos realistas da cultura japonesa me deixaram de coração quentinho. O sentimento era de ansiedade para voltar para a minha ilha Dondoko no jogo completo, ao mesmo tempo em que não estou pronta para ver todo o arco de “despedida” do Kiryu…
Like a Dragon: Infinite Wealth é ambicioso, um dos maiores lançamentos da franquia em questão de tamanho de mapas e tempo investido, além de trazer diferentes tipos de gameplay para quem quiser se aventurar nele. Seja em Kamurocho ou no Havaí, aventuras dos mais variados tipos e tamanhos aguardam os jogadores que resolverem dedicar um tempinho para explorar o universo rico e dar uma chance para os personagens carismáticos.
O jogo será lançado em 26 de janeiro de 2024 para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC.
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