Aclamado como um mestre do horror japonês, Junji Ito não poderia passar uma imagem mais diferente. O mangaká é baixinho, contido e simpático, sem nada que indique o quão doentias são suas histórias e desenhos.
Em passagem pelo Brasil, Ito assinou incontáveis autógrafos na CCXP 23, teve painel em auditório cheio e, claro, saiu para conhecer São Paulo e tomar uma caipirinha. No meio tempo, o NerdBunker participou de uma coletiva de imprensa com o mangaká, que falou do seu carinho pelo Brasil e relembrou a boa amizade com Hideo Kojima, criador de Metal Gear Solid e Death Stranding.
Com um sorriso no rosto, Junji Ito chegou calmamente à sala cheia de jornalistas no São Paulo Expo. O autor já está acostumado com os brasileiros, visto que não é sua primeira vez no país. O Brasil deixou uma boa impressão tão grande que ele chegou a afirmar que a usará como inspiração para uma nova história envolvendo Tomie. Mas traduzir experiências positivas e felizes em desgraças não é exatamente fácil, segundo Ito:
“Dá pra sentir essa paixão dos brasileiros, que é muito solar. Usar essa paixão muito positiva no universo do terror será algo desafiador. De forma concreta, não pensei ainda em como utilizar essa energia toda nas minhas obras, mas vou pensar em como adaptar ao terror.”
Com imagens horrendas, que arrepiam a espinha e traumatizam a mente, o trabalho de Junji Ito é conhecido até por quem não tem muita familiaridade com mangás. A obra do autor, inclusive, já foi adaptada em animes e filmes live-action, mas uma fronteira que ainda não foi explorada é a dos games.
Ito passou perto dos jogos em algumas ocasiões. A mais chamativa, claro, foi quando foi chamado para fazer o design de monstros para Silent Hills, game de terror de Hideo Kojima e Guillermo del Toro que foi tragicamente cancelado.
Apesar do final amargo dessa história, o mangaká guarda boas memórias do curto tempo que esteve envolvido no projeto:
“Kojima disse que queria me ver, me falou que Del Toro queria fazer um jogo de terror, e me convidou para fazer o design dos monstros. Mencionei que não levo jeito para o universo dos games, mas me desafiei”.
Fui até a Konami, onde Kojima trabalhava, e me encontrei com ele e Del Toro — que é um grande fã de jogos — para uma reunião. Naquela ocasião, surgiram muitas ideias, mas também muito papo sobre jogos, que eu não entendi tanto. O projeto acabou não andando.”
O mangaká, inclusive, deixou claro que mantém interesse em trabalhar com games: “apesar de não saber se levo jeito para isso ou não, eu acho que se houver um convite ou oportunidade, eu aceitaria”, afirmou.
Curiosamente, Junji Ito já apareceu em um jogo: Death Stranding. É possível encontrar seu holograma em uma das entregas. O motivo disso é que Ito e Hideo Kojima são amigos de longa data, ainda que sejam gênios de diferentes áreas.
Na coletiva, Ito falou sobre a amizade com Kojima:
“Kojima é uma lenda do universo dos games, é muito habilidoso. Conheci há 20 anos, jantamos juntos e ele é de Osaka, então tem um dialeto muito diferente de Tóquio, e isso faz com que ele seja muito divertido. Sempre me manda jogos novos, mas não nos vemos muito. Sempre que saímos juntos o acho muito divertido.
Não sou muito bom nos jogos, mas ouvi dizer que Metal Gear Solid é muito inovador e amado, então é uma honra ser amigo dele.”
A coletiva durou apenas 40 minutos, mas não havia pressa de nenhum dos envolvidos em correr com o tempo. Ito falava com calma, a tradutora então devolvia suas falas em português, e os jornalistas ouviram pacientemente. É um testamento à personalidade tranquila e humilde do autor.
É curioso que Junji Ito não se veja como alguém influente, como o próprio assumiu na coletiva. Mas é inegável seu status como lenda do horror, especialmente pelo fato de que é uma verdadeira sensação na CCXP 23.
Talvez o enorme carinho dos fãs brasileiros, tanto presencialmente quanto na internet, enfim esteja abrindo os olhos do autor para a própria importância: “Não tenho tanto impacto quanto o professor [Kazuo] Umezo”, falou em alusão ao renomado mangaká de horror, que é sua principal referência. “Mas quando vejo as redes sociais, os cosplays e as reações, pode ser que eu tenha algum impacto nas próximas gerações.”
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